O Uruguai intensifica sua estratégia de diplomacia comercial para expandir o destino de seus lácteos, especialmente o leite em pó, após anos de negociações difíceis com a China.
Segundo fontes da Chancelaria uruguaia, é “difícil” que o país asiático conceda uma cota exclusiva de importação com preferência tarifária — uma demanda que a Conaprole vem defendendo há anos.
A missão oficial a Pequim, que parte na próxima semana, incluirá novamente o tema na agenda de reuniões bilaterais. No entanto, diplomatas reconhecem que a medida “vai na contramão” das diretrizes da Organização Mundial do Comércio (OMC) e, portanto, tem baixa probabilidade de êxito.
“Talvez se possa pensar em uma cota geral, mas hoje o cenário parece complexo”, admitiram fontes oficiais ao portal Informe Tardáguila, que revelou os detalhes da negociação.
🌏 Indonésia: a aposta mais próxima
Enquanto a China segue resistente, o cenário é bem diferente na Indonésia, onde as negociações para habilitar a entrada dos lácteos uruguaios estão “muito próximas” de se concretizar. As inspeções sanitárias e a verificação das plantas industriais já foram concluídas com sucesso, restando apenas a etapa final de aprovação diplomática.
A abertura do mercado indonésio representa uma oportunidade estratégica: além de absorver produtos lácteos, o avanço poderia também acelerar a habilitação da carne bovina uruguaia naquele país, segundo fontes diplomáticas.
🏫 Programa escolar pode impulsionar consumo
Um dos fatores que mais estimulam o otimismo é o programa nacional de leite escolar implementado recentemente pela Indonésia. O projeto visa garantir o acesso diário a leite para milhões de estudantes, e pode se tornar um motor de crescimento tanto para a produção local quanto para as importações.
Com uma população próxima de 280 milhões de habitantes, a Indonésia é considerada um dos mercados lácteos mais dinâmicos da Ásia. O consumo médio per capita ainda é baixo — cerca de 15 quilos anuais —, mas vem crescendo à medida que a renda média aumenta.
📊 Um mercado em expansão
De acordo com estimativas do setor, o mercado de leite líquido na Indonésia alcançou 1,1 bilhão de litros em 2024, incluindo variedades brancas e saborizadas. O consumo de porções individuais, apreciadas por sua conveniência e valor nutricional, vem crescendo de forma constante, com taxas de expansão de um dígito anual.
Apesar desse dinamismo, o país enfrenta um grande déficit de produção interna e depende fortemente de importações para suprir a demanda. Segundo dados do RaboResearch, em 2024 a Indonésia importou o equivalente a 2 bilhões de litros de leite, dos quais mais de 80% foram na forma de leite em pó.
Essa dependência coloca o país no centro do comércio global de lácteos e abre espaço para novos fornecedores — como o Uruguai — que buscam diversificar destinos e agregar valor às exportações.
🇺🇾 Desafio e oportunidade para o Uruguai
Para o setor uruguaio, a Indonésia surge como um mercado-chave capaz de compensar o lento avanço nas tratativas com a China. A Conaprole, principal exportadora de lácteos do país, vê nessa nova rota uma chance de consolidar presença no Sudeste Asiático e reduzir a dependência dos destinos tradicionais.
Enquanto isso, o Ministério de Ganadería, Agricultura y Pesca (MGAP) e o Instituto Nacional de Leite (INALE) acompanham de perto o processo, considerando-o um passo fundamental para fortalecer o posicionamento internacional do leite uruguaio.
O sucesso da negociação com a Indonésia, além de abrir portas para os lácteos, pode marcar o início de uma nova fase na diplomacia comercial uruguaia, combinando tradição produtiva com estratégia global.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Tardáguila