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24 out 2025
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Crise, poder e ciência: o CEO Antoine de Saint-Affrique tenta reconstruir a Danone e devolver-lhe o apetite pelo futuro.
🧠 Entre demissões, pressão de investidores e apostas científicas, a Danone vive seu maior ponto de inflexão em décadas.
🧠 Entre demissões, pressão de investidores e apostas científicas, a Danone vive seu maior ponto de inflexão em décadas.

A Danone atravessa uma das fases mais intrigantes da sua história recente — e não é apenas por causa do iogurte Activia ou da água Evian.

Por trás dos números de recuperação e dos discursos sobre ciência e saúde, há uma história de conflitos, reestruturação e sobrevivência corporativa que redefiniu o rumo da gigante francesa.

Segundo o Financial Times, a indústria alimentícia vive um “ponto de inflexão”, e Antoine de Saint-Affrique, CEO da Danone desde 2021, é um dos que mais sente esse impacto. Ele assumiu o comando em meio a um cenário de caos interno, depois da queda de Emmanuel Faber — o ex-CEO que defendia um capitalismo mais “social” e acabou derrubado pela pressão dos investidores.

🧩 Quando a casa desaba

Na época, a Danone enfrentava queda nas vendas, um conselho dividido e acionistas furiosos. As ações perdiam terreno frente a rivais como Nestlé e Unilever, e a empresa parecia presa entre o discurso ESG e a cobrança por resultados.
“Era um desafio existencial”, admitiu Saint-Affrique ao Financial Times. A primeira medida foi drástica: trocar quase todo o conselho, redefinir metas e suspender o antigo modelo de gestão que priorizava margens rápidas — mesmo que às custas da inovação.

“Esse tipo de atalho mata a alma da empresa”, teria dito o executivo, numa referência direta às decisões de Faber que reduziram investimentos em P&D e marcas estratégicas.

🧪 Ciência, microbioma e poder

Saint-Affrique reposicionou a Danone em torno de uma narrativa científica: alimentar o corpo, mas também curar o microbioma.
Nos últimos anos, a companhia investiu €500 milhões em pesquisa e inovação, um aumento de 10% em relação ao ano anterior. O foco? Nutrição médica, biotecnologia e produtos com impacto comprovado na saúde.

As aquisições recentes mostram essa estratégia em movimento: a americana Kate Farms, de nutrição médica orgânica, e a belga Akkermansia Company, especializada em microbiota. Nem tudo, porém, deu certo — a tentativa de comprar a fabricante de kéfir Lifeway fracassou em setembro.

Mesmo assim, o mercado reagiu bem: as ações da Danone subiram quase 20% em 2025, levando o valor de mercado a €52 bilhões.

⚔️ Entre política e propósito

Saint-Affrique também surfou na nova onda regulatória. A ofensiva dos Estados Unidos, liderada por Robert F. Kennedy Jr., contra a obesidade e os aditivos alimentares foi recebida com entusiasmo em Paris.
Segundo o CEO, essa política está “em sintonia com a lógica que a Danone defende há décadas”: menos açúcar, nada de corantes e mais alimentos com função terapêutica.

Mas o que soa como alinhamento de propósito também é estratégia de sobrevivência. A Danone tenta se posicionar como referência global em saúde preventiva, ao mesmo tempo em que busca diferenciar-se de concorrentes que ainda apostam em produtos ultraprocessados.

🔄 Da dívida à disciplina

Mesmo com fluxo de caixa recorde, a Danone mantém cautela. Saint-Affrique deixou claro que recompras de ações não são prioridade, preferindo usar o caixa para reduzir dívidas e financiar novas aquisições.
A política é vista como conservadora, mas também como um sinal de maturidade — especialmente após os anos de turbulência sob Faber, quando o grupo parecia mais preocupado com o discurso do que com o desempenho.

👥 O CEO que escuta

Um detalhe curioso chamou atenção do Financial Times: Saint-Affrique exige que os diretores conversem diretamente com funcionários jovens, sem a presença dos chefes intermediários.
“Em cinco minutos, quando o medo passa, eles te contam tudo sobre a empresa”, afirmou. Essa política informal se tornou um termômetro interno do moral e da cultura da Danone.

🧭 O novo norte

Hoje, a Danone tenta equilibrar tradição e modernidade — e provar que pode ser inovadora sem perder suas raízes centenárias.
Com 1.600 cortes de pessoal, reestruturação de portfólio e investimentos robustos em ciência, a empresa finalmente voltou a crescer em volume, não apenas em preço.

O setor observa com curiosidade: será que a Danone curou suas feridas internas tanto quanto promete curar o microbioma dos consumidores?

*Escrito para o eDairyNews, com informações de Financial Times 

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