A Danone confirmou o fechamento da histórica fábrica Blédina, localizada em Villefranche-sur-Saône, no departamento do Rhône, França.
A decisão impactará 117 trabalhadores e marca mais um capítulo da reestruturação global da companhia francesa, que busca conter custos e adaptar-se à desaceleração do mercado europeu de cereais infantis.
A planta, que há décadas produz as marcas Blédine e Phosphatine, será desativada após um período de consultas com os representantes dos empregados. A Danone informou que as linhas de produção devem ser transferidas para sua unidade em Opole, na Polônia, país onde o grupo vem consolidando operações industriais por sua competitividade e custos mais baixos.
Mercado europeu em retração e África em transição
Segundo comunicado oficial da companhia, a decisão foi motivada por um cenário de declínio estrutural do mercado europeu de papas infantis, aliado à complexidade do ambiente comercial na África, destino importante para a marca Phosphatine.
A Danone destacou que, mesmo com “investimentos significativos nos últimos dez anos para modernizar e transformar o local”, o futuro econômico da fábrica já não era sustentável.
A linha Phosphatine, voltada ao combate da anemia infantil no continente africano, continuará sendo produzida — mas fora da França. Essa mudança reflete não apenas a queda na demanda europeia, mas também o reposicionamento estratégico da Danone em mercados emergentes, onde o potencial de crescimento é maior.
Reestruturação com impacto social
A multinacional informou que pretende oferecer vagas alternativas em outras unidades da França, especialmente na região de Auvergne-Rhône-Alpes, onde se situa a Blédina. A direção afirma que a prioridade é “encontrar soluções personalizadas para cada colaborador”, incluindo programas de capacitação e recolocação profissional.
A Danone anunciou ainda a criação de um “campus de transição de carreira”, voltado à formação e reconversão de trabalhadores impactados. As negociações sobre os detalhes do pacote social serão conduzidas em conjunto com os representantes sindicais.
Apesar do encerramento da unidade, a empresa garante que continuará investindo em território francês. “A Danone seguirá fortalecendo sua presença industrial e o emprego na França, em especial na região de Auvergne-Rhône-Alpes, que segue sendo estratégica para o grupo”, destacou o comunicado.
Estratégia europeia em transformação
O fechamento da Blédina não é um caso isolado. Em 2025, a Danone também anunciou o encerramento da fábrica de Ochsenfurt, na Alemanha, responsável por produtos lácteos, sobremesas e pudins proteicos, com 230 empregos afetados.
Esses movimentos indicam uma reorganização profunda das operações europeias do grupo, que vem concentrando sua produção em polos mais eficientes e tecnologicamente integrados. A unidade polonesa de Opole, por exemplo, tem se tornado um hub estratégico para o leste europeu, absorvendo volumes antes produzidos na França e Alemanha.
A migração da produção para regiões de menor custo operacional reforça a tendência de industrialização descentralizada das multinacionais do setor alimentício — uma estratégia que, embora preserve a competitividade global, deixa feridas sociais nas comunidades onde fábricas históricas encerram suas atividades.
Desempenho financeiro e foco em margens
O movimento ocorre após a Danone divulgar, em outubro, crescimento orgânico de 4,8% nas vendas do terceiro trimestre, atingindo €6,88 bilhões. Na Europa, o aumento foi de 2,6%, impulsionado pelo mix de produtos e pela recuperação de algumas categorias, como laticínios e bebidas vegetais.
Mesmo com resultados positivos, o grupo mantém sua agenda de simplificação e aumento de margens, reduzindo sobreposições industriais e priorizando plantas de maior escala e eficiência energética.
O fechamento da Blédina, embora doloroso para Villefranche-sur-Saône, se insere na lógica de um reposicionamento global: menos fábricas, mais integração, e foco em mercados dinâmicos.
Reflexo de uma nova era para o setor
A decisão da Danone ecoa um desafio que atravessa toda a indústria de alimentos infantis: queda da natalidade na Europa, consumidores mais exigentes e custos crescentes de energia e matérias-primas.
Enquanto isso, mercados africanos e asiáticos ainda oferecem margens de expansão — mas exigem adaptações logísticas e culturais complexas.
Com a Blédina saindo de cena, a Danone dá um passo que simboliza o fim de uma era industrial francesa e o início de uma fase global mais enxuta e competitiva. A empresa reafirma seu compromisso com a inovação e o emprego, mas, na prática, o mapa da sua produção está mudando de forma irreversível.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Just Food






