As gigantes Danone e Nestlé estão acelerando a digitalização e o fortalecimento de suas cadeias de suprimentos no setor lácteo africano. Em meio às mudanças climáticas e à instabilidade do comércio global, ambas apostam em tecnologia, infraestrutura e produção local como pilares para um modelo mais sustentável e resiliente.
De acordo com a FoodNavigator, o investimento estrangeiro no processamento de leite vem crescendo em diversas regiões do continente. Processadores e fabricantes estão incorporando inteligência artificial e práticas de descarbonização para enfrentar custos crescentes e desafios logísticos.
🧭 Nestlé aposta em tecnologia e fornecedores locais
A Nestlé reconhece que as disrupções na cadeia de suprimentos são uma realidade constante na África. “Estamos enfrentando esses desafios por meio do sourcing local, do desenvolvimento de fornecedores e do uso de ferramentas digitais”, afirmou Conny Sethaelo, diretora de assuntos corporativos da Nestlé para o leste e sul da África.
Entre as soluções aplicadas estão sistemas avançados de reposição automatizada, que aumentam a velocidade de entrega e reduzem erros humanos, mesmo em condições adversas.
Com presença em países como África do Sul, Zimbábue e Quênia, a Nestlé processa leite e cereais, e enxerga “imenso potencial para o crescimento do setor lácteo no sul da África”, impulsionado por práticas regenerativas e pelo apoio a jovens empreendedores rurais.
Segundo a executiva, as exportações e importações seguem estáveis, mas a empresa monitora os efeitos indiretos de tensões geopolíticas que encarecem insumos e energia. Além disso, as mudanças climáticas têm afetado produtores locais e elevado custos operacionais, exigindo investimentos constantes em cadeias frias e segurança alimentar.
🐮 Danone fortalece produção e coleta de leite na região
Com operações em Tunísia, Egito, Marrocos e Argélia, a Danone tem como prioridade o fortalecimento da cadeia local de leite. A empresa mantém vínculo direto com mais de 200 mil produtores, apoiando a profissionalização e modernização dos centros de coleta — essenciais para garantir qualidade e previsibilidade no abastecimento.
“Nossa prioridade é a resiliência da cadeia de suprimentos, especialmente na África. Trabalhamos com planos de contingência, estoques de segurança e ampliação de parcerias locais”, explicou Alexandra Pecoux, porta-voz da companhia.
No Gana, a subsidiária FanMilk, pertencente à Danone, reforçou o compromisso de integrar fornecedores nacionais à sua cadeia, estimulando o desenvolvimento de pequenas empresas e cooperativas locais.
🌐 Desafios globais e oportunidades regionais
Mesmo com avanços, o cenário global segue pressionado por incertezas comerciais e tarifárias. No relatório do segundo trimestre de 2025, a Mondelēz International destacou o impacto do clima e das tensões geopolíticas sobre suas operações, citando riscos associados a conflitos e sanções em regiões como Ucrânia e Oriente Médio.
Apesar disso, especialistas veem forte potencial de crescimento para o setor lácteo africano. O economista Paul Makube, do banco sul-africano FNB, afirmou que o continente responde por menos de 5% da produção global de leite, com consumo médio anual de apenas 35 litros per capita — muito abaixo da média mundial.
“O crescimento populacional, a urbanização e as mudanças de hábitos alimentares criam grandes oportunidades de investimento, podendo elevar o valor do mercado lácteo africano para US$ 14,3 bilhões até 2028”, disse Makube.
🧊 Infraestrutura e sustentabilidade como base do futuro
O gargalo principal segue sendo a infraestrutura de processamento e cadeia fria, ainda pouco desenvolvida em muitos países. Empresas como a Dairibord Holdings, do Zimbábue, afirmam estar priorizando práticas sustentáveis com redução do consumo de energia e água e apoio a pequenos produtores.
“Garantir um fornecimento estável e de baixo custo é essencial para manter a competitividade”, declarou a empresa, que busca reduzir despesas e consolidar uma base sólida de fornecedores locais.
Combinando digitalização, sourcing local e políticas de sustentabilidade, empresas como Danone e Nestlé mostram que o futuro do leite africano depende não apenas de volume, mas de resiliência e inovação em toda a cadeia produtiva.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Food Navigator