Danone desistiu oficialmente de seguir adiante com a aquisição da Lifeway Foods, fabricante norte-americana de kefir, e agora estuda alternativas para sua participação minoritária de 22,7% na companhia, segundo comunicado enviado à SEC (Securities and Exchange Commission) em 18 de setembro.
O movimento marca uma reviravolta nas negociações iniciadas em setembro de 2024, quando a gigante francesa dos laticínios apresentou uma proposta de US$ 25 por ação para adquirir a totalidade da Lifeway.
Dois meses depois, a oferta foi elevada para US$ 27 por ação, mas ambas foram rejeitadas pelo conselho da empresa, que considerou os valores insuficientes.
Da proposta ao impasse
A decisão da Danone de recuar ocorre após meses de tensões crescentes. Em agosto, Danone e Lifeway haviam assinado um acordo de confidencialidade (NDA) que permitiria à multinacional reavaliar uma nova tentativa de compra. No entanto, a companhia optou por não avançar.
No documento submetido à SEC, a Danone afirmou que está “pesando alternativas, incluindo vender total ou parcialmente sua fatia” na Lifeway.
A Lifeway, por sua vez, divulgou nota destacando que segue “firmemente comprometida em gerar valor aos acionistas por meio da execução de nosso plano estratégico e na busca por oportunidades que potencializem esse valor”.
A empresa também informou ter criado um comitê estratégico composto por diretores independentes para supervisionar o processo e ressaltou que manteve diálogo “extensivo” com a Danone ao longo das negociações.
Acusações de “tomada hostil”
O embate se acirrou quando a Danone entrou com uma ação judicial alegando que a Lifeway havia violado um acordo de acionistas. Em resposta, a empresa descreveu as propostas da francesa como uma tentativa de “tomada hostil”.
Esse clima de disputa coincidiu com um agravamento das tensões internas da própria Lifeway. A CEO e presidente do conselho, Julie Smolyansky, enfrenta oposição aberta de sua mãe, Ludmila Smolyansky, e de seu irmão, Edward Smolyansky.
Disputa familiar em público
Em julho deste ano, Ludmila e Edward — que juntos são os maiores acionistas individuais da companhia — protocolaram na SEC um documento denominado “definitive consent statement”, no qual pedem a substituição completa do conselho de administração, incluindo a saída de Julie.
O objetivo, segundo a dupla, seria restaurar “responsabilidade, transparência e valor de longo prazo aos acionistas”.
Esse movimento abriu espaço para que a Danone avalie se apoiará ou não a iniciativa de troca do board. A decisão da multinacional poderá influenciar diretamente os rumos da governança da Lifeway.
Crescimento nos resultados
Apesar das turbulências, a Lifeway tem mostrado desempenho sólido no mercado. De acordo com comunicado divulgado em 18 de setembro, a companhia registrou 22 trimestres consecutivos de crescimento.
No segundo trimestre de 2025, as vendas líquidas somaram US$ 53,9 milhões, representando alta de 18% na comparação anual. Já nos dois primeiros meses do terceiro trimestre, a empresa apurou US$ 39,1 milhões em vendas líquidas não auditadas, avanço de 20% frente ao mesmo período de 2024.
A Lifeway é reconhecida principalmente pelo kefir, mas também comercializa queijos e a linha ProBugs, voltada ao público infantil. Seus produtos estão presentes em mercados como Estados Unidos, México, Irlanda, África do Sul, França e Emirados Árabes Unidos.
O que está em jogo
Para a Danone, que controla marcas globais como Activia e Actimel, a participação na Lifeway representava uma oportunidade de fortalecer sua presença em um nicho de laticínios fermentados que cresce de forma consistente nos EUA.
Contudo, com a rejeição das propostas e a resistência da administração da Lifeway, o grupo francês agora enfrenta a decisão de manter ou liquidar seu investimento. Caso venda sua participação, abre-se a possibilidade de novos arranjos societários ou até da entrada de outros investidores estratégicos.
Do lado da Lifeway, o desafio é equilibrar o avanço comercial, sustentado por resultados positivos, com a instabilidade interna provocada pela disputa familiar e a pressão de um acionista relevante como a Danone.
Perspectivas
O desfecho dessa história permanece incerto. Se, por um lado, a Lifeway demonstra força em seus números e expansão internacional, por outro, as questões de governança e o conflito entre a diretoria e os principais acionistas podem comprometer a confiança do mercado.
A possibilidade de a Danone apoiar a substituição do conselho adiciona mais um capítulo a essa disputa que mistura estratégia corporativa, relações familiares e interesses globais.
Por enquanto, a única certeza é que o futuro da Lifeway seguirá no centro das atenções do setor de laticínios norte-americano.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Just Food