Desde 06 de junho o grupo visita indústrias e produtores com cases de sucesso na área de queijos e laticínios. A visita é parte do Acordo de Cooperação SP-França – estabelecido entre o Governo do Estado de São Paulo e o país europeu, o qual prevê ações técnicas em diversas áreas, incluindo a agropecuária, por meio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
Assinado em agosto de 2021, o Acordo SP-França prevê, no âmbito da agropecuária, a cooperação técnica entre institutos franceses e a Secretaria. E foi o que aconteceu entre os dias 6 e 8 de junho. Entre serras e vales, o grupo – que conta com diretor geral de alimentação e encarregado nacional de laticínios, do Ministério de Agricultura e Soberania Alimentar, Frederic Bertassi; Maxence Virelaude, professor da Escola Nacional da Indústria Leiteira; e de Ivon Bochet, presidente da União de Produtores de Beaufort – conheceu detalhes da produção de leite e derivados, bovinos e caprinos, bem como o manejo realizado em propriedades rurais, que garantem qualidade e alta produtividade em municípios do Vale do Paraíba (Taubaté e Pindamonhangaba) e da Região Bragantina (Monte Alegre do Sul, Serra Negra e Amparo).
“Esta primeira missão técnica está focada na área de leite e derivados, com especial atenção à produção de queijos em São Paulo, fomentando um mercado que cresce após a nova lei do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Estado de São Paulo (SISP) – Artesanal e a premiação de queijos artesanais paulistas no Brasil e exterior. A implementação desse acordo fomentará o desenvolvimento tecnológico e econômico das cadeias produtivas do leite e do queijo, mas também setores como mel e café”, explica Henrique Guimarães, assessor parlamentar da Secretaria, que acompanha a delegação em toda a agenda, acrescentando que as visitas realizadas em campo foram um momento especial de troca de experiências e identificação dos pontos mais relevantes a serem trabalhados na cooperação técnica.
Em nome da delegação francesa, Franck David Foures, conselheiro agrícola da Embaixada da França no Brasil, falou sobre a importância dessa cooperação. “Este acordo é muito importante, pois a França tem grande interesse em cooperar tecnicamente em questões relacionadas à produção sustentável e conservação do meio ambiente. E São Paulo, Estado de grande relevância nesse sentido, abriu diversas possibilidades e oportunidades de trabalho conjunto. Para dar início às ações práticas, foram escolhidas as áreas de produção de leite e queijo – em que o Brasil tem se destacado e atraído atenção em concursos mundiais, e com as quais temos grande afinidade e experiência, com uma tradição milenar na produção queijeira, ocupando o posto de maior produtor europeu de leite”, ressalta, informando que, entre os eixos que serão trabalhados de forma conjunta, estão a capacitação de produtores, sistemas integrados de produção sustentável (diferentes da realidade francesa, em que a maioria das pequenas propriedades têm apenas uma atividade), bem como transferência de tecnologia e informações sobre legislação e Indicação Geográfica, para criação de identidade de produtos.
“Ficamos encantados com a paisagem das regiões, as propriedades e os empreendimentos visitados. A visão que muitos têm do Brasil é de grandes propriedades em grandes áreas, então foi uma grata surpresa conhecer propriedades familiares e cooperativas de pequenos produtores, com uma produção de qualidade, trabalhando de forma sustentável. A possibilidade de conversar com os produtores possibilitou a identificação de gargalos e desafios que poderão balizar a formação de um diagnóstico, que servirá como base para os próximos passos das ações realizadas por meio do acordo”, afirma Foures.
Programação Vale do Paraíba
No Vale do Paraíba, entre os dias 6 e 7/6, além da equipe de extensionistas e pesquisadores que está acompanhando todas as agendas, o grupo foi ciceroneado por extensionistas da CATI Regional Pindamonhangaba e Casas da Agricultura, que abrangem os municípios visitados, Taubaté e Pindamonhangaba.
Na maior bacia leiteira do Estado de São Paulo, os especialistas franceses iniciaram a agenda na Cooperativa de Laticínios do Médio Vale do Paraíba (Comevap) – sediada em Taubaté –, que congrega 600 produtores, responsáveis pela produção diária de mais de 120 mil litros de leite, dos quais 80% são processados e direcionados à produção de manteiga, bebidas lácteas, creme de leite e queijos; e os outros 20% são comercializados à granel. Recepcionado pelo diretor-presidente, Aristeu de Barros Trannin, o grupo recebeu informações sobre o Vale do Paraíba, a produção rural, o pagamento por qualidade do leite e as particularidades das propriedades e dos produtores.
Produção de leite e queijo de cabra, também fez parte do “cardápio” da agenda da comitiva. Nas instalações da Real Capri, uma das principais marcas de queijos de cabra do Brasil, a delegação foi recebida pelo produtor e proprietário Vicente Ribeiro, que conduziu a visita à estrutura completa que abrange a seleção genética dos animais, tecnologia adequada e processos que respeitam as normas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, sendo modelo para outras usinas do país. No local, o grupo conheceu o sistema automatizado que atua desde a recepção do leite até sua pasteurização, eliminando todo tipo de contato manual com o produto. Também degustou diversos tipos de queijos produzidos.
Na propriedade do produtor Jefferson Tadeu, localizada em Pindamonhangaba, a delegação foi recebida por ele, que é cooperado da Comevap desde 2016. Durante a visita às instalações, que abriga um rebanho girolando de 102 vacas, obtiveram informações sobre o manejo, a alimentação (80% de volumoso e 20% de capim in natura) e a produção de cerca de 2.100 litros diários de leite. Também observaram a condução do rebanho dividida em um lote a pasto (vacas em final) e demais animais em confinamento separados por lote (onde, além do volumoso e capim, pode ser inserido na alimentação: farelo de soja, polpa cítrica e grão úmido); e o estudo para a construção de Compost Barn.
Na Bolderini Queijaria, instalada no sítio localizado em Pindamonhangaba, que pertence à família há quase 100 anos, o grupo conversou com Felipe Bolderini Couto, 30, e a mulher, Talita Silva, 28, que há pouco tempo produzem os queijos Bolderini, seguindo a tradição familiar, após deixar suas carreiras na área industrial.
Com investimentos em cursos de especialização, reforma das instalações e muita dedicação, apesar de pouco tempo de atividade, os produtores estão alcançando reconhecimento internacional, tendo sido premiados em 2019, no concurso Mundial do Queijo, com os queijos “Malacaxeta”, “Borbinha”, “Pinda” e “Canário”, conquistando medalhas de ouro, prata e dois bronzes, respectivamente.
Na Queijaria do Jordão, o grupo conheceu a família portuguesa que produz queijos com leite de vacas Jersey, da fazenda própria, localizada na Serra da Mantiqueira.
Programação na região Bragantina
Em sequência à viagem, os especialistas franceses visitaram ontem, 8/6, propriedades rurais e laticínios nos municípios de Monte Alegre do Sul, Serra Negra e Amparo. Além da equipe de extensionistas e pesquisadores que está acompanhando o grupo em todas as agendas, na região foram ciceroneados por extensionistas da CATI Regional Bragança Paulista, cuja área de atuação abrange os municípios visitados.
Na Estância Hidromineral de Monte Alegre do Sul, o grupo visitou o Laticínio MontSul. Recepcionada pelo produtor e proprietário Bruno de Oliveira Gonçalves, a delegação conheceu um pouco da história de perseverança da família na pecuária leiteira, apesar das adversidades do segmento, e o investimento feito em tecnologia, qualidade, parceria com produtores regionais (para aquisição de leite de qualidade, além da produção própria). Também visitaram as instalações da usina e observaram o controle de Boas Práticas de fabricação de leite integral, iogurte e queijos Minas Frescal e Minas Padrão, na planta que atende todas as exigências higiênico-sanitárias, sendo inspecionada periodicamente pelo Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Estado de São Paulo (SISP).
Em Serra Negra, em meio à uma paisagem de ambiente conservado com Áreas de Preservação Permanente (APP), de Reserva Legal e reflorestamento de topo de morros, que ocupa 45% da área da propriedade, onde está instalado o Laticínio Nata da Serra, o grupo foi recepcionado pelo produtor e engenheiro agrônomo Ricardo Schiavinato, que comprou a fazenda em 1988, dando início a um trabalho com gado leiteiro, com o cruzamento entre três raças: Holandesa, Jersey e Gir leiteiro; e, na década de 1990, fez a transição para o sistema orgânico de produção, com apoio de extensionistas da SAA.
Em uma roda de conversa, os especialistas franceses conheceram a metodologia e o processo da produção orgânica de leite e derivados (queijo, iogurte e requeijão) – sendo que o queijo Nata da Serra foi o primeiro a receber a certificação orgânica no Brasil – adotados na Fazenda, o sistema de certificação participativo, bem como o amplo trabalho de educação ambiental realizado por meio de projeto de turismo rural, em que os visitantes têm aula de educação ambiental, com conhecimento sobre agricultura ecológica; bem como sobre o de turismo educativo, a partir do qual as escolas podem desenvolver conteúdos e projetos associados às diversas disciplinas de seus planos de ensino, para conscientização sobre a importância do consumo de alimentos orgânicos e a necessidade de se conservarem o meio ambiente e o ecossistema.
Em Amparo, o grupo visitou a Fazenda Atalaia, construção datada de 1870, que se destaca como um exemplar da história, arquitetura e cultura do auge da cafeicultura paulista.
Recepcionado pelo produtor e proprietário Paulo Matta, conheceram detalhes da pecuária leiteira e criação de vacas de raça holandesa para a produção de queijos especiais, como o Tulha (fabricado a partir de uma massa cozida com leite de vaca tipo A, com baixo teor de gordura e três tipos de maturação − 8, 12, e 18 meses, na antiga tulha de café), que, em 2016, foi o primeiro produto brasileiro premiado com uma medalha de ouro no World Cheese Awards, realizado em San Sebastian, na Espanha.
Em uma visita monitorada pelo mestre queijeiro da Fazenda, conheceram detalhes da fabricação, maturação, bem como os locais de armazenamento dos queijos, que, segundo Paulo da Matta, não são tratados como produtos, mas presentes da sua família, que engloba 70 funcionários, para os consumidores. Além da visita, o grupo participou de uma degustação de queijos especiais, de um almoço e uma “aula de história” da propriedade, que está sendo restaurada para continuar sendo fonte de produção sustentável, conservação do meio ambiente e ponto cultural.