ESPMEXENGBRAIND
3 maio 2025
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3 maio 2025
Os impactos de El Niño já são visíveis em países-chave da cadeia leiteira, com consequências diretas na produção, nos custos, nas decisões de investimento e nos mercados internacionais.
El niño
O El Niño 2024-2025 não apenas expõe a fragilidade climática do setor lácteo global, como também marca uma nova era de incerteza estrutural para toda a cadeia de valor.

O fenômeno El Niño, declarado oficialmente pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) em julho de 2023, está mostrando seus efeitos plenos durante o primeiro semestre de 2025, alterando o equilíbrio entre oferta e demanda no setor lácteo global.

Os impactos já são visíveis em países-chave da cadeia leiteira, com consequências diretas na produção, nos custos, nas decisões de investimento e nos mercados internacionais.

🌧️ El Niño em números: calor, secas e incerteza

O atual evento de El Niño é um dos mais fortes desde 2015-2016, com um aumento médio de +1,5 °C na temperatura da superfície do Pacífico central. Esse aquecimento gerou um padrão de clima extremo: chuvas intensas na América do Sul, calor e secas na Oceania e irregularidades severas na monção asiática.

Segundo o International Research Institute for Climate and Society (IRI, Universidade Columbia), há 70% de probabilidade de que o El Niño persista até junho de 2025, com uma transição gradual para condições neutras no terceiro trimestre. As consequências, no entanto, podem durar muito mais tempo.

🇳🇿 Nova Zelândia: produção em queda e pressão sobre as margens

O Ministry for Primary Industries (MPI) da Nova Zelândia projetou em março uma queda de 2,7% na produção total de leite para o ano fiscal de 2024/25, atribuída às condições climáticas adversas e à menor qualidade das pastagens.

Além disso, os custos de produção permanecem elevados: fertilizantes, alimentação suplementar e seguros climáticos representam um aumento anual de 6,4%, segundo a DairyNZ. Isso pressiona as margens de pequenos e médios produtores, incentivando decisões conservadoras em termos de investimento e expansão.

🇦🇷 Argentina e 🇧🇷 Brasil: entre o barro e a incerteza

Na Argentina, as chuvas excessivas nas bacias leiteiras de Santa Fe e Córdoba dificultaram a coleta de leite e deterioraram a infraestrutura rural. Em março de 2025, o volume mensal de leite cru caiu 4,8% em relação ao ano anterior, segundo dados do OCLA.

A situação levou o governo a ativar linhas de crédito subsidiado com taxa zero de AR$ 10 bilhões para cooperativas e produtores afetados, juntamente com a suspensão temporária das retenções sobre exportações de produtos com maior valor agregado.

No Brasil, o padrão foi misto: chuvas intensas no sul (especialmente no Rio Grande do Sul) e seca no nordeste. O Conselho Nacional da Pecuária de Leite (CNPL) relatou uma queda de 3% na produção no primeiro trimestre, com aumentos significativos nos custos de energia e refrigeração devido às temperaturas extremas.

🇮🇳 Índia: estresse térmico e desafios de abastecimento

A Índia, maior produtora de leite do mundo, enfrenta um desafio estrutural agravado pelo El Niño. As altas temperaturas e a menor disponibilidade de água em regiões-chave como Uttar Pradesh, Maharashtra e Andhra

Pradesh estão provocando uma queda na produtividade por animal. O National Dairy Development Board (NDDB) indicou que a produção per capita caiu 5% em relação a 2024, e aumentou o risco sanitário devido a doenças relacionadas ao calor.

Além disso, o governo indiano anunciou um plano de investimento de INR 15.000 crore (cerca de USD 1,8 bilhão) para refrigeração rural, campanhas de vacinação e distribuição de água, com o objetivo de proteger o fornecimento interno e conter a alta de preços.

💰 Mercados internacionais: realocação de fluxos e volatilidade

O El Niño está gerando uma reconfiguração dos fluxos comerciais globais. A China, tradicionalmente dependente da Oceania, aumentou a compra de leite em pó da União Europeia e dos EUA, buscando diversificação diante da queda neozelandesa.

Enquanto isso, os preços internacionais apresentam oscilações: segundo o último leilão do Global Dairy Trade (GDT), o preço médio do leite em pó integral foi de USD 3.290/tonelada, 6,3% acima da média de dezembro de 2024.

Os traders antecipam um segundo semestre volátil, com coberturas ativas nos mercados futuros da NZX e CME. Fundos hedge e indústrias processadoras estão aumentando posições especulativas diante da possibilidade de uma recuperação sustentada dos preços caso a oferta continue a se deteriorar.

🏛️ Decisões políticas e estratégicas

Diante desse cenário, governos e empresas estão ajustando suas estratégias. Na Nova Zelândia, o MPI lançou um plano de resiliência climática para o setor agropecuário com foco em tecnologias de eficiência hídrica, genética animal adaptada ao calor e seguros climáticos mais flexíveis.

Na União Europeia, avalia-se a liberalização temporária de cotas de produção orgânica, diante do risco de desabastecimento em segmentos premium. Nos EUA, o USDA ativou linhas de apoio direto de USD 500 milhões para pecuaristas em regiões afetadas pela seca.

🔮 Conclusão: previsão, agilidade e cooperação

O El Niño 2024-2025 não apenas expõe a fragilidade climática do setor lácteo global, como também marca uma nova era de incerteza estrutural para toda a cadeia de valor.

As decisões de investimento, os acordos comerciais e as estratégias de cobertura devem estar mais do que nunca respaldadas por análises climáticas, dados de mercado em tempo real e uma visão integrada entre governos, produtores e indústrias.

Nesse cenário em constante mudança, os países produtores e exportadores enfrentam o desafio comum de inovar, diversificar e se adaptar, desenvolvendo sistemas produtivos mais resilientes, eficientes e sustentáveis.

A cooperação internacional, a transferência de tecnologia e o acesso a financiamento inteligente serão fundamentais para sustentar a segurança alimentar e a competitividade do setor nos próximos anos.

 

Valéria Hamann

EDAIRYNEWS

 

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