Fenômeno provoca alterações nas condições de umidade, o que leva a transtornos de pragas e de sensibilidade a saúde animal

Fenômeno provoca alterações nas condições de umidade, o que leva a transtornos de pragas e de sensibilidade a saúde animal
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Foto: Valter Campanato/Abr.

O fenômeno El Niño possui características diferentes nas variadas zonas produtoras brasileiras. De acordo com o agrometeorologista João Castro, da Climatempo, na região Sul do Brasil, por exemplo, o padrão climático esperado é de chuvas mais abundantes, com volumes acima da média. Por outro lado, para a região central do país (norte do MS, MT, GO, MG e SP) o padrão esperado é de irregularidade das chuvas.

Castro observa que esse cenário já foi observado nos meses de dezembro e janeiro, causando danos pontuais em áreas de soja de SP, GO, MG, MS e MT. “O efeito um pouco fora do esperado foram as estiagens muito localizadas que ocorreram no noroeste do Rio Grande do Sul e no norte do Paraná, porém causadas por outras condições, como as temperaturas do Oceano Pacífico Sul e Oceano Atlântico na costa do Brasil que acabaram se sobressaindo em relação ao fraco El Niño”, diz o agrometeorologista.

As previsões da Climatempo indicam a ocorrência de um El Niño de fraca intensidade atuando durante a segunda metade do ano. Por isso, espera-se que o padrão de chuvas irregulares nas regiões Centro-Oeste e Sudeste persistam, porém sem grandes períodos de estiagens como os verificados em dezembro e janeiro em algumas cidades dessas regiões. Já a região sul deve ter o seu regime de chuvas regularizado, passando inclusive a observar chuvas um pouco acima da média.

Na pecuária, um fator indireto que afeta a atividade é a queda no ganho de peso diário (GPD) em função das condições climáticas. No sistema extensivo, rebanhos que sofrem um sucessivo número de dias com chuvas tendem a consumir menos, reduzindo assim seu GPD. “Inclusive a decisão de vender um lote fora do momento ideal pode resultar em perdas, pois se o pecuarista decidir segurar o lote por mais alguns dias e ocorrer um período de invernada, pode acontecer de as condições ambientais favorecerem a perda de peso, resultando em prejuízos”, realça Castro.

Bruno Lima, veterinário da Virbac, afirma que o El Niño é uma variação da temperatura que pode influenciar nas precipitações de chuvas. “Esta alteração irá afetar a parte nutricional do rebanho, visto que pode comprometer o fornecimento de pastagens e aumentar os níveis de pragas – impactando diretamente a nutrição e a imunidade dos animais”.

O fenômeno climático pode impactar principalmente o controle de parasitas nas fazendas, uma vez que altera toda a parte pluviométrica. “A umidade na fazenda será aumentada, o que faz com que parasitas como carrapatos e moscas apareçam de uma forma mais brusca. Mesmo com o controle integrado bem realizado, tem-se um maior desafio no campo”, aponta Lima.

Lima fala que as verminoses são outro ponto que o pecuarista tem que se atentar durante a alta umidade. “É um problema subclínico, não visível aos olhos do produtor, que afeta principalmente animais mais jovens. Estes são mais sensíveis e possuem uma imunidade frágil”.

De acordo com Lima, as doenças que os parasitas (carrapatos e moscas no geral) podem transmitir são as bicheiras, vermes, larvas de moscas e as verminoses. “Uma das consequências destas doenças muito comum em gado de corte é o complexo tristeza parasitária, em que o principal vetor é o carrapato”.

Com isso, as chuvas fora de hora podem levar à queda da produtividade e causar prejuízo no bolso do pecuarista. “O animal terá o sistema imune comprometido por conta da infestação do parasita que está sugando o sangue e causando uma irritação, podendo ser até vetor de doenças. Há uma queda na produtividade, já que o animal estará debilitado”, relata o veterinário.

As principais doenças causadas pelos carrapatos são a babesiose e a anaplasmose. “São doenças que chamamos Complexo de Tristeza Parasitária. As (doenças) causadas por moscas são as infestações por moscas dos chifres, miíases (bicheiras) e as moscas do berme que são quadros clássicos de doenças durante o El Niño”, diz Lima.

Lima ressalta que surtos de diarréias em animais jovens também são doenças corriqueiras em tempos de El Niño. “Quando se aumenta a concentração de água disponível sem se saber sua procedência, os animais estarão ingerindo e aumentando o risco de diarreias. Em algumas regiões existe o aumento da leptospirose, onde a principal forma de transmissão é pela água contaminada que os animais poderão estar em contato”.

Lima também fala que o gado de leite é mais afetado do que o gado de corte durante o El Niño. “O gado de leite é mais sensível a mudanças bruscas de temperatura. Os animais são mais desafiados por terem de produzir leite diariamente, o que acaba gerando estresse metabólico e térmico. Um animal estressado é mais suscetível a doenças e menos produtivo. O fenômeno provoca muito barro por conta da chuva, o que leva a mastite – infecções nas glândulas mamárias da vaca – afetando a rentabilidade e a produtividade”.

O médico veterinário recomenda que, como prevenção, o produtor mantenha um planejamento no fornecimento de alimentos e faça um programa preventivo de parasitoses e controle de carrapatos. Além disso, é importante manter um detalhado manejo de pragas e doenças com aplicações preventivas de fungicidas e pesticidas, evitando com isso o surgimento de grandes focos.

Na questão de combate a leptospirose, o veterinário ressalta que o animal deve se manter vacinado de acordo com o calendário sanitário proposto pela equipe médica veterinária. “Cada fazenda é um desafio diferente. Nada melhor do que o produtor reconhecer o rebanho dele para preparação contra os obstáculos que podem aparecer ao longo do ano”, conclui Lima.

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