Em 1996, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento iniciou um processo de criação e implantação de regulamentos e critérios técnicos para a produção de leite no Brasil, o Plano Nacional de Melhoria e Qualidade do Leite (PNQL). Desde então, esses processos – que envolviam questões sobre qualidade e higiene, entre outros fatores – se intensificaram.
Foram criadas instruções normativas (IN) para regulamentar a produção, identidade, qualidade, coleta e transporte do leite tipo A, leite cru refrigerado e leite pasteurizado, tendo como objetivo principal a garantia de um leite de qualidade ao mercado consumidor. Alguns parâmetros são observados na análise, como contagem de células somáticas (CCS) e contagem bacteriana total (CBT). O Ministério da Agricultura editou recentemente as IN 76 e 77, readequando, entre outras resoluções, os parâmetros de CCS e CBT, o que relaciona o rebanho leiteiro com sanidade e qualidade no leite, o que está diretamente relacionado com a remuneração ao produtor.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS) é ponto de apoio aos produtores para o atingimento dos requisitos sanitários adequados para a coleta, produção e comercialização do produto. Cursos como Manejo da Ordenha e Qualidade do Leite, programas como Leitec, ATeG Leite e as consultorias técnicas individuais (CTIs), dentro do espectro do programa Juntos para Competir (JPC), colaboram na criação de novas rotinas.
“O que favorece um bom índice de CBT é a higiene. Higiene do animal, do úbere, da ordenha, da ordenhadeira e um eficiente e rápido resfriamento do leite. Além da manutenção do frio para manter as bactérias em níveis baixos. Já a CCS é um pouquinho mais complicada. Temos de observar os ambientes onde a vaca vive, onde ela deita, onde ela se alimenta. Precisamos evitar qualquer agressão ou risco de contaminação ao úbere”, diz o médico veterinário e instrutor do Senar-RS Orlando Bohrer.
O especialista explica que os cursos do Senar dedicam parte de seus conteúdos a ressaltar a importância de um protocolo de limpeza e higiene que vai desde a sala de ordenha até os tanques de resfriamento. A importância da água aquecida e até dos detergentes alcalinos e ácidos são mencionados.
Na CTI de higiene e qualidade do leite, um veterinário vai à propriedade e acompanha o processo de ordenha do princípio ao final, indicando erros e acertos – como o modo de higienizar úberes, ordenhadeiras e resfriadores, por exemplo. Ele também fará uma análise da qualidade do produto, que depois servirá de termo de comparação com os boletins emitidos pela indústria a cada compra.
Poder de barganha
Seguir as orientações e conselhos dos técnicos credenciados pelo Senar-RS valeu a pena para Edilson Andrade de Andrade, 48 anos. Durante anos, ele lidou com dificuldades produtivas e baixos preços de compra da indústria. Mas ele acaba de mudar o comprador e, a partir de julho, vai vender sua produção de 250 litros/dia por um valor que varia entre R$ 2,05 e R$ 2,10 o litro, contra R$ 1,53 do antigo contratante.
Para a indústria reconhecer a qualidade de sua produção foram necessários investimentos. Em janeiro, ele fez acordo com uma vizinha para trocar seu lote de 18 hectares no Assentamento Santa Verônica, em Santa Margarida do Sul, por um de 40. No local, trabalha planta pastagens e faz silagem, trabalhando nutrição em rodízio para garantir que as vacas, das raças jersey e holandesa, produzam leite com teor adequado de gordura. Mas sua maior aposta foi mesmo numa sala de ordenha..
“Comprei um galpão pré-fabricado de 20×15 metros. Na sala de ordenha que tinha antes, cabiam seis vacas. Nessa, cabem 15. Fiz rampas, montei a espinha de peixe (contenção para as vacas), ordenhadeira, canalizei, comprei resfriador a granel. A gente não toca no leite. Fazemos pré-dipping, pós-dipping, tudo como manda o programa manejo sanitário para cuidar da saúde das vacas. E recebemos as visitas regulares dos veterinários e técnicos do Senar”, relata.
Andrade conta que foi a consultoria do Senar-RS quem avaliou que o leite produzido pelas vacas de Andrade estavam com excelente qualidade, o que o animou buscar preços melhores no mercado.
“É a qualidade do leite que dá oportunidade para a gente. Se não melhorar, as empresas não pagam. É produzindo bem que se busca preço. Dependendo da qualidade, tu ganha até 20 centavos a mais por litro”, conta.
O produtor se diz feliz pela boa fase da propriedade e prevê crescimento nos próximos meses.
“Eu tenho 23 vacas para parir. Dessas, 11 novilhas. Acho que vou conseguir tirar 400, 500 litros de leite por dia. Foi muito trabalho, não vou negar. Mas tive acompanhamento e, agora, estamos vendo um salto de crescimento.
RECEITA PARA UM BOM LEITE
Conheça os principais parâmetros que determinam a qualidade do leite:
– Contagem de células somáticas (CCS)
As células somáticas são células de defesa do sangue do animal. Quando uma bactéria invade o úbere da vaca, ocorre uma reação inflamatória e posterior processo infeccioso, e essas células são enviadas para a glândula mamária para destruir as bactérias. Uma alta CCS no leite indica que provavelmente há infecção no úbere, causando mastite
– Contagem Total de Bactérias – CTB
Ela indica as condições de higiene da ordenha e/ou resfriamento inadequado. O aumento da CTB pode ocasionar vários prejuízos, como alterações no sabor e odor do leite e derivados, no tempo de validade do leite in natura e dos produtos lácteos
– Resíduos Químicos
A presença de resíduos de antibióticos e outros químicos no leite pode impactar na saúde humana e comprometer a fabricação de produtos como queijos e iogurtes. Eles inibem o crescimento de culturas lácteas e na ocorrência completa de processos fermentativos no leite