Não bastassem os impactos gerados pelo fechamento do comércio durante os primeiros meses da pandemia, donos de pequenas empresas veem-se agora diante do desafio de operar em meio à alta generalizada de custos e queda no consumo. Para fazer frente ao aumento do preço de combustível, gás de cozinha, conta de luz, alimentos, vale de tudo: apagar luzes, desligar freezer, otimizar roteiro de entrega, substituir insumos.
De acordo com a analista de negócios do Sebrae Bahia, Adriana Pereira, existem alternativas para driblar essa escalada, mas é preciso fazer o “dever de casa”, afirma. Tudo ficou mais caro, diz.
“É hora de rever tudo, essa é uma nova realidade. Os gastos, especialmente com energia elétrica, combustível e alimentação cresceram bastante, causados seja pela escassez, por eventos climáticos, e a primeira dica é conhecer de perto os custos, na ponta do lápis”, conta ela.
Procurar reduzir taxas bancárias e de maquininha de cartão é outra dica, conta. “Avaliar a necessidade de instalação de dispositivos de ecoeficiência energética, como sensor de presença; verificar se há máquina fora do calibre, procurar novos fornecedores, o que pode ser diminuído. Rever o próprio orçamento doméstico”, diz.
Conta já ter dispensado funcionário, desligado câmara frigorífica – e o caminhão de entregas agora só roda uma vez por semana.
“São muitas as dificuldades. Pouco antes da pandemia investimos alto na capacidade de produção, em maquinário. Mas não tem mercado. A conta de luz, que era R$ 12 mil, subiu para
R$ 18 mil. Houve aumento da pasta de amendoim. O açaí disparou, saltou de R$ 7,50 para R$ 12. Estamos enxugando ao máximo, comprando só o mínimo. Tivemos um inverno rigoroso, o dinheiro sumiu. Esperamos o verão”.
Insumos em alta
Dona de um restaurante especializado em culinária japonesa no Rio Vermelho, o Nozu, Maria Carvalho destaca o aumento de 50% do principal ingrediente utilizado em sua cozinha, o salmão. Fabricado no Chile, ela conta que o país vem preferindo vender principalmente para os Estados Unidos e ganhar em dólar.
Mas os pescados de uma forma geral também tiveram aumento, diz. O que mais a preocupa são os aumentos “constantes e repentinos”. “Toda essa incerteza (da economia). O fornecedor de sacolas ligou essa semana dizendo que papel aumentou 17%, impactando demais nossa operação, 100% delivery. Temos câmara fria grande ligada 24 horas, sistema de exaustor, e estamos estudando a instalação de placas fotovoltaicas de energia solar. E segurando para não repassar esses custos aos clientes”, conta Maria.
Autor do recém-lançado livro Governança Corporativa e Pequenos Negócios, o consultor Augusto Cruz diz que a atual conjuntura exige “união” por parte de quem empreende. Segundo ele, objetivo seria a construção de uma espécie de “rede” de colaboração mútua, visando, por exemplo, compras coletivas com custos menores, mas, sobretudo, a criação de “novas cadeias de valor” e práticas, explica.
“Pequenos empreendedores costumam achar que governança é coisa de grandes empresas, mas não”.
Sócio ao lado da mãe e da irmã na Bolo da Luz, Joás Simples diz que enfrenta reajustes de até 100% de insumos, como óleo de cozinha, farinha de trigo, manteiga e ovos. Além disso, tem a frota com cinco veículos e logística de entrega diária, incluindo Feira de Santana, Praia do Forte e Guarajuba.
Como quase 97% da produção é destinada a redes de supermercados, conta estar há um ano e meio trabalhando com uma margem cada vez mais apertada, já que é difícil repassar essa alta. “O jeito é tentar ser ainda mais assertivo na produção”, diz.