Pouco mais de quatro meses após entrarem em vigor no país, as instruções normativas (INs) que tratam da produção, conservação e recepção de leite nas indústrias provocam efeitos no campo. Segundo Milene Cristine Cé, auditora fiscal federal agropecuária do Ministério da Agricultura no Estado, são percebidas melhorias em relação à qualidade do produto que chega às indústrias.
A principal mudança trazida pelas INs é o estabelecimento de um limite da contagem bacteriana total (CBT) no recebimento do leite cru, na indústria. Pelas regras, o máximo permitido é de 900 mil unidades formadoras de colônia por mililitro (Ufc/ml).
Essa medida é o coração das normas. E por mais que exija trabalho, é o mais fácil de corrigir, pois envolve apenas higiene – explica Milene.
Segundo a auditora fiscal agropecuária, as adaptações demandam trabalho conjunto entre produtores e assessoria técnica das indústrias: E a adequação não tem a ver com volume de produção. Não depende do tamanho do produtor rural.
Queremos fazer uma avaliação baseada em dados, em fatos reais – afirma Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag.
O que preocupa a entidade neste momento é a baixa capacidade de investimento do produtor por conta do preço pago pelo leite. No dia 15 de outubro, os impactos das INs 76 e 77 e o baixo valor do produto no Estado serão tema de audiência pública no Teatro Dante Barone, na Assembleia Legislativa do Estado.
Principais mudanças das INs 76 e 77
Contagem bacteriana na indústria
O limite de contagem bacteriana total (CBT) no recebimento do leite cru, na indústria, passou para 900 mil unidades por mililitro. Os limites estabelecidos na propriedade, de 300 mil de CBT e 500 mil de contagem de células somáticas (CCS), foram mantidos.
Descarte de produtores
O leite cru coletado nas propriedades deve apresentar médias geométricas de contagens de no máximo 300 mil unidades formadoras de colônia por mililitro (Ufc/ml). As médias precisam considerar análises de três meses consecutivos e os registros devem ser armazenados pelas indústrias. Caso o produtor apresente índices acima do limite em três trimestres sequenciais, a coleta do leite deverá ser suspensa pela indústria. O produtor poderá voltar a fornecer o alimento quando apresentar pelo menos um resultado positivo, sem compor média.
Temperatura do leite
A temperatura de receptação do leite cru na plataforma da indústria será de 7°C, podendo chegar a 9°C em episódios excepcionais. Pela lei atual, o leite pode chegar à indústria até 10°C.
Programa de capacitação
As empresas precisarão adotar planos de autocontrole, que incluam qualificação de fornecedores com assistência técnica e gerencial. O trabalho das indústrias nas propriedades deverá incluir fiscalização sobre o controle de dejetos da produção leiteira, exigências referentes à qualidade da água, controle de pragas e armazenamento de alimentos/rações animais.
Indicadores de qualidade
A contagem bacteriana total (CBT) do leite refere-se à higiene e conservação do leite, que são determinadas por boas práticas, temperatura e tempo de armazenamento até o consumo final. Volumes baixos de CBT aumentam o tempo de vida de prateleira do produto, além de manter o sabor e os nutrientes do produto.
A contagem de células somáticas (CCS) é um indicador de saúde da glândula mamária da vaca. O indicador está relacionado à produtividade do animal e também ao rendimento industrial do produto – com variação física do teor de lactose, do nível de proteína e da acidez do leite.