A cadeia leiteira brasileira ganhou um reforço de peso. A Embrapa Clima Temperado inaugurou, no último dia 10 de julho, duas novas estruturas voltadas à pesquisa e inovação no setor:
o Laboratório de Pesquisa e Análises em Cromatografia Avançada (Labcromato) e o Laboratório de Campo do Leite (Labcampo). O evento também marcou o lançamento oficial do Hub de Inovação do Leite, uma rede colaborativa entre instituições públicas e privadas com foco em acelerar o desenvolvimento tecnológico na pecuária leiteira.
Com investimento total de R$ 10 milhões, provenientes do Ministério da Justiça e Segurança Pública e do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDDD), as estruturas integram o programa Leite Seguro, criado em 2019 para garantir mais qualidade e segurança em toda a cadeia produtiva.
A cerimônia contou com a presença da presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, e de representantes do Ministério da Agricultura, como o coordenador do LFDA/RS, Fabiano Barreto.
Infraestrutura de ponta a serviço do leite
O Labcromato foi projetado para realizar análises de alta complexidade, utilizando equipamentos como espectrômetros LC-Q-TOF e LC-MS/MS, que permitem detectar resíduos e contaminantes em leite, carne, grãos, vinhos e água.
O laboratório também está habilitado para analisar compostos nutracêuticos, medicamentos veterinários e validar kits de testes rápidos usados pela indústria.
Segundo Waldyr Stumpf Júnior, chefe geral da Embrapa Clima Temperado, as análises realizadas no novo laboratório terão impacto direto na produção e na indústria. “São tecnologias que qualificam nossos produtos e aumentam a confiança do consumidor final”, destacou.
Já o Labcampo, instalado com modelos de sistemas Compost Barn e Free Stall, é dedicado à pesquisa com animais, com ênfase na raça Jersey.
Ele abrange estudos em nutrição, manejo, comportamento, reprodução e bem-estar animal. Também conta com sala de ordenha e espaço para capacitação técnica, sendo um ambiente multidisciplinar voltado à geração de soluções práticas para produtores de todos os portes.
Um hub para conectar ciência e campo
O Hub de Inovação do Leite nasce como um braço do Sistema de Pesquisa e Desenvolvimento em Pecuária Leiteira (Sispel), com sede na Estação Experimental Terras Baixas (EETB), em Capão do Leão (RS), que celebrará 30 anos em 2026.
A proposta é articular instituições de ensino, pesquisa e iniciativa privada para fomentar soluções inovadoras que elevem a competitividade do leite brasileiro.
Durante o evento, também foi firmado um protocolo de intenções entre Embrapa, Fundação Fapeg e Funcap, com o objetivo de levar boas práticas agropecuárias ao Noroeste do Rio Grande do Sul, contribuindo para uma produção mais sustentável e eficiente na região.
Leite Seguro: ciência que transforma
O programa Leite Seguro já acompanhou 203 propriedades leiteiras e envolveu 24 bolsistas e pesquisadores de diferentes áreas. Mais de 10 mil produtores foram beneficiados por ações de capacitação e transferência de tecnologia.
A iniciativa também alcançou o consumidor, especialmente por meio do projeto “Caminho do Leite”, que já levou informação sobre o processo produtivo a mais de 5 mil crianças.
Maira Zanella, pesquisadora da Embrapa e membro do comitê gestor do programa, destacou a importância da conscientização desde a base: “A educação do consumidor é tão fundamental quanto a qualificação técnica do produtor”.
Pesquisas de impacto e novos horizontes
Rosangela Barbosa, responsável técnica pelo Lableite, lembrou que o laboratório completa 20 anos em outubro e destacou pesquisas com aflatoxinas, corantes naturais e folatos produzidos por bactérias lácteas, que têm potencial nutracêutico na produção de queijos. Segundo ela, o novo Labcromato complementa e amplia essa atuação.
Além disso, Rosangela reforçou a importância do monitoramento de resíduos de medicamentos no leite, especialmente no controle da mastite, principal enfermidade do rebanho leiteiro. “Os produtores precisam ter respaldo técnico para saber como agir, e agora contam com um laboratório à altura dessa demanda.”
Com infraestrutura reforçada e uma rede de inovação articulada, a Embrapa aposta em uma nova fase para o leite brasileiro — mais seguro, tecnológico e conectado com o futuro.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Jornal Tradição Regional