O melhoramento genético dos rebanhos leiteiros por meio da transferência de embriões passa a contar com apoio do Governo Federal, que anunciou uma nova linha de crédito dentro do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar).
A iniciativa foi divulgada nesta segunda-feira (30), durante o lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar 2025/2026, no Palácio do Planalto, em Brasília.
O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, destacou que a medida visa democratizar o acesso à tecnologia de ponta para os pequenos produtores de leite. “O Brasil tem uma das melhores tecnologias genéticas do mundo, e o Pronaf agora vai financiar o melhoramento por embriões.
Isso pode mudar a vida do produtor. Uma vaca comum vale R$ 3 mil, mas uma bezerra de genética superior pode valer o dobro e produzir até quatro vezes mais leite”, afirmou.
A linha voltada à transferência de embriões busca elevar a produtividade e a renda das propriedades familiares. A expectativa é que a aplicação dessa biotecnologia resulte em vacas com maior potencial genético, ampliando os índices de produção de leite e a valorização do rebanho.
Repercussão no setor
Para Ronei Volpi, presidente da Câmara Setorial de Leite e Derivados do MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), o anúncio é positivo, mas ainda distante das principais necessidades da base produtiva. “Todo programa que traz tecnologia é bem-vindo, mas a agricultura familiar ainda precisa de ações mais básicas.
Sanidade do rebanho, inseminação artificial e assistência técnica são essenciais e continuam sendo gargalos”, ressaltou.
Já o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Paulo Martins, considera a medida “louvável” e acredita que ela fortalece o desenvolvimento rural. “Estamos falando de mais de 60% do leite brasileiro vindo da agricultura familiar.
Melhorar a genética é um passo importante para aumentar a rentabilidade e manter empregos no campo. Mas isso precisa estar inserido em uma estratégia mais ampla de desenvolvimento rural sustentável”, ponderou.
Genética com apoio e continuidade
A Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa também reconheceu o avanço representado pela nova linha de crédito. Para o presidente da entidade, Armando Rabbers, é fundamental garantir que os produtores que utilizem embriões de animais de raça pura mantenham o controle genealógico.
“Esses produtores devem registrar seus animais nas associações de raça. Isso viabiliza o controle leiteiro, a tipificação e permite que o trabalho de melhoramento genético tenha continuidade e qualidade”, apontou.
Rabbers também enfatizou a necessidade de integrar o uso de biotecnologias com boas práticas de manejo e nutrição. “Não basta investir na genética. É preciso garantir que o ambiente onde esses animais serão criados seja propício para expressar todo o seu potencial”, explicou.
Tecnologia, mas com base sólida
Embora o crédito para embriões represente uma inovação dentro do Plano Safra, especialistas e representantes do setor reforçam que seu sucesso depende de uma estrutura mínima nas propriedades. Sem assistência técnica efetiva, orientação veterinária e segurança alimentar, o salto genético pode não resultar no retorno esperado.
O desafio do governo será equilibrar o incentivo às tecnologias avançadas com políticas de apoio às necessidades elementares da agricultura familiar. A nova linha do Pronaf é um sinal positivo de investimento em produtividade, mas deverá vir acompanhada de ações coordenadas para garantir que os pequenos produtores realmente colham os frutos dessa inovação.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Agro Estadão