Em meio ao debate sobre o ESG – sigla em inglês para ações ambientais, sociais e de governança de empresas -, nem sempre é fácil diferenciar o que é só discurso e o que virou prática real. Por conta disso, cada vez mais empresas estão buscando certificações externas sobre sua atuação em sustentabilidade.
Procura pelo chamado ‘selo B’, que atesta práticas socioambientais, teve alta de 34%
Uma das certificações disponíveis é a do selo do Sistema B, organização que atesta se empresas de mercado, que visam o lucro, têm também reais preocupações socioambientais. “É um desafio de como a gente consegue separar o joio do trigo. Nesse sentido, ter um olhar externo que homologa faz muita diferença”, afirma Francine Lemos, diretora executiva do Sistema B no Brasil.
Para a especialista em sustentabilidade Sonia Consiglio Favaretto, a maior procura por certificação está diretamente relacionada à visibilidade do tema ESG. “Esse assunto vinha ganhando relevância nos últimos cinco anos, mas a pandemia nos fez perceber, pela dor, que essas questões impactam diretamente os negócios”, diz.
Um longo processo
Seguindo uma decisão global, a subsidiária brasileira da Danone é uma das mais recentes detentoras da certificação de “empresa B”. O aval veio em março, após uma jornada de quase três anos, diz a diretora de assuntos corporativos da empresa, Cibele Zanotta.
Ao longo do processo, que envolveu uma equipe dedicada ao assunto, o engajamento da equipe em relação ao tema cresceu. “Ser uma empresa B se tornou uma questão de grande orgulho”, frisa.
Em um momento em que o mercado financeiro viu a demanda por produtos ligados à sustentabilidade dar um salto, a Fama Investimentos, gestora pioneira no Brasil na adoção da pauta ESG, bateu o martelo de que havia chegado o momento de obter o selo B, diz o sócio-fundador, Fábio Alperowich. O objetivo por trás era de se diferenciar de outros no mercado financeiro, que passaram a adotar o mesmo discurso ESG.
O executivo disse que o processo levou só seis meses. Entre as mudanças exigidas, esteve a alteração do estatuto da gestora, que passou a incluir o propósito socioambiental exigido pela certificadora. Para Alperowich, a rapidez na obtenção veio para reforçar que a gestora já trabalhava de acordo com as melhores práticas.
Já a fabricante de produtos de limpeza A Positiv.a, que já nasceu com a proposta de sustentabilidade, há cinco anos, tinha o objetivo de obter o selo B desde a origem, diz a presidente da empresa, Marcela Zambardino – a certificação saiu em 2017, um ano depois da fundação.
A empresa, que cresceu muito desde então, passou por um processo recente de recertificação. Segundo Marcela, a Positiv.a aproveitou para profissionalizar mais seus processos e contratou uma consultoria para ajudar nesses procedimentos.
Com isso, a empresa está acompanhando de forma automatizada os impactos de sua atividade. “Para cada produto vendido, desde a compensação de carbono, geração de renda para o fornecedor, embalagem plástica não gerada, bucha que não é levada para o aterro. Mapeamos todos esses indicadores.”
Blockchain
Startup de impacto social especialista em pesquisa e desenvolvimento de blockchain, a Blockforce, que obteve seu selo no ano passado, sentiu o impacto positivo em seus negócios ao se tornar uma corporação B, conta o cofundador e presidente da Blockforce, André Salem.
A principal dificuldade ao longo da jornada para obtenção do selo foi reunir a documentação dos impactos da empresa – que nasceu remota, ou seja, mesmo antes da pandemia seus funcionários trabalham de casa. Essa questão foi repassada ao Sistema B – ponto ainda mais relevante durante a pandemia de covid-19, período no qual esse modelo de trabalho ganhou um número muito grande de adeptos.