As tarifas dos Estados Unidos sobre o queijo suíço provocaram um grave desequilíbrio no setor lácteo da Suíça, colocando em risco o futuro de 25 mil vacas leiteiras, segundo a Associação Interprofissional do Setor de Laticínios (IP). O impacto direto foi uma queda de 5% nas vendas de queijo suíço no mercado norte-americano, gerando um preocupante excedente de leite em todo o país.
De acordo com o jornal NZZ am Sonntag, o aumento das tarifas imposto pelo governo americano — decisão associada à política comercial de Donald Trump — tem limitado as exportações de produtos suíços de alto valor agregado, especialmente os queijos tradicionais. O efeito dominó foi imediato: a oferta interna de leite subiu, enquanto a demanda externa encolheu.
A Suíça, com aproximadamente 500 mil vacas leiteiras, enfrenta agora a possibilidade de reduzir o rebanho para estabilizar o mercado. Em condições normais, cerca de 85 mil animais são abatidos anualmente. Mas neste cenário, a IP prevê até 25 mil abates adicionais, caso o excesso de produção persista.
A entidade alerta que as condições climáticas favoráveis em 2025 impulsionaram a produção acima da média, agravando o quadro. “Combinada à redução da demanda, a alta oferta está pressionando fortemente os preços do leite”, afirmou a IP. O preço médio pago aos produtores, que girava em torno de 70 centavos por litro, caiu em alguns casos até 30 centavos.
O problema, portanto, não se limita ao volume de leite, mas também ao valor de mercado. Muitos produtores já começaram a reduzir seus rebanhos de forma preventiva. O portal RSI, citando o albinfo.ch, informou que alguns criadores optaram por enviar animais saudáveis para o abate por falta de alternativas econômicas.
Diante dessa crise, a IP anunciou a ativação de um fundo de emergência de 11 milhões de francos suíços para os próximos nove meses. O objetivo é apoiar as exportações de creme e manteiga, permitindo que esses produtos sejam vendidos a preços mais competitivos no mercado internacional. O subsídio beneficiará processadores e produtores, ajudando a conter a queda de receita e a evitar novos abates desnecessários.
A estratégia busca equilibrar o setor sem comprometer o abastecimento doméstico. Entretanto, a solução é temporária. Analistas do mercado agrícola suíço alertam que, se as tarifas norte-americanas permanecerem, o impacto poderá se estender por anos, afetando não apenas os produtores, mas também a imagem da indústria láctea suíça, conhecida mundialmente pela qualidade de seus queijos e pela sustentabilidade de sua produção.
Nos últimos anos, o mercado dos EUA se consolidou como um dos principais destinos das exportações suíças de queijo, especialmente de variedades como o Emmental e o Gruyère. A perda desse espaço, portanto, ameaça uma das cadeias produtivas mais tradicionais da Suíça, construída sobre séculos de conhecimento artesanal e práticas familiares.
O setor lácteo suíço é também um símbolo cultural: o leite e seus derivados representam parte essencial da identidade do país e de sua economia rural. Por isso, o risco de abate em massa de vacas leiteiras não é apenas um dado econômico, mas um golpe simbólico para um país que associa suas montanhas e vales verdes à produção leiteira de excelência.
Enquanto a IP trabalha para preservar os preços e proteger os produtores, o governo suíço acompanha a situação e avalia medidas adicionais de apoio. A expectativa é que novas negociações comerciais com os Estados Unidos possam aliviar as restrições e permitir a retomada das exportações.
A crise do leite suíço expõe a vulnerabilidade de um setor altamente dependente das relações comerciais internacionais, mesmo em um país de tradição sólida e produtos premium. A combinação de política tarifária, condições climáticas e pressão de mercado revela que, no mundo globalizado, até os símbolos mais estáveis podem enfrentar ondas de incerteza.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Gazeta Express