A demanda chinesa elevada por proteína animal e a desvalorização do real frente ao dólar – o que estimulou ainda mais os embarques – foram os principais pontos que marcaram a pecuária mineira em 2020. Com os casos de Peste Suína Africana (PSA), que dizimou cerca de 60% do rebanho, os chineses foram para o mercado e o Brasil e Minas Gerais aproveitaram a oportunidade para exportar mais. O resultado no Estado foi o aumento nos preços pagos aos produtores e a valorização das carnes.

Apesar dos preços recebidos estarem maiores, os custos de produção também foram alavancados pela desvalorização do real, o que exigiu do produtor rural uma gestão eficiente das propriedades. Os preços da soja e do milho, importantes insumos da alimentação animal, praticamente dobraram, estimulados pela demanda externa e interna.

De acordo com os dados do Sistema da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg/Senai/Inaes/Sindicatos), no acumulado de 2020, o valor médio da arroba do boi gordo pago ao produtor foi de R$ 241,53, aumento de 22,2% frente ao praticado em igual período do ano passado.

Um dos fatores que explica a valorização é a oferta enxuta de animais acabados e a elevação dos custos de produção, inclusive a valorização dos animais de reposição. Entre janeiro a outubro, as exportações mineiras de carne bovina tiveram incremento de 4,4% em volume, somando 154 mil toneladas, e alta de 1,1% em valor, com a receita chegando a US$ 643 milhões.

“Agora no final do ano, os preços do boi gordo mostram sinais de queda. Os frigoríficos estão com bons estoques e o preço atingiu o teto máximo no mercado consumidor. É uma situação de alerta para o pecuarista, que continua trabalhando com custos elevados”, disse o analista de Agronegócio do Sistema Faemg, Wallisson Lara Fonseca.

Suínos – Na suinocultura, a média do quilo do suíno pago ao produtor em 2020 foi de R$ 7,37 por quilo, um avanço de 21% quando comparado com o ano anterior. No acumulado de janeiro a outubro de 2020, as exportações mineiras de carne suína somaram 18,2 mil toneladas, gerando a receita de US$ 34,3 milhões, acréscimo de 55,2% em volume e de 77,5% em valor.

“O que explica estes resultados é a avidez dos chineses à carne suína brasileira, que levou a uma forte expansão nas exportações desta proteína”, disse Lara.

Frangos e caprinos – A demanda elevada pela carne de frango, principalmente no mercado interno, em função dos preços mais acessíveis frente às carnes bovina e suína, fez com que 2020 fosse marcado pela recuperação das margens de toda a cadeia produtiva. O preço médio recebido pelo avicultor em 2020 foi de R$ 4,19 por quilo.

Um dos setores que ganhou espaço em 2020 foi a produção de caprinos e ovinos. De acordo com Lara, desde 2014, Minas eliminou o ICMS para saídas de ovinos e caprinos vivos, fomentando o desenvolvimento do setor. No acumulado do ano, foram abatidas 11.539 cabeças de ovinos, incremento de 23% nos abates  ante o ano anterior.

PREÇOS DOS LÁCTEOS REAGEM NO MERCADO INTERNO

Nos primeiros meses da pandemia de Covid-19, a produção de leite, em Minas Gerais, foi afetada. Houve fechamento de canais de vendas e quedas de consumo de produtos de maior valor agregado. Porém, com o pagamento do auxílio emergencial e negociações entre o setor produtivo e os governos, foi possível superar os desafios.

Com a demanda pelos lácteos impulsionada e a importação de leite em queda – já que o dólar estava valorizado – os preços reagiram no mercado interno. O preço do leite acumulou alta de 58% de janeiro a outubro deste ano. O aumento foi fundamental para bancar o alto custo da ração concentrada. O milho e farelo soja tiveram aumentos de 42,36% e 49,6% respectivamente, no mesmo período.

De acordo com os dados do Sistema Faemg, atualmente, o cenário é de preocupação. Com o real apresentando certa valorização frente ao dólar, houve movimento de retomada das importações de leite, o que afetou a cotação interna.

“Em setembro, a indústria importou 170 milhões de litros de leite, 150% a mais do que no mesmo período de 2019, fazendo com que os preços recuassem no campo. Como os custos estão elevados, o produtor está desestimulado e tende a sair da atividade, descartando mais fêmeas, já que a arroba está valorizada. Dependendo do volume de descarte, no futuro, pode faltar leite”, explicou o presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Leite do Sistema Faemg, Eduardo Pena.

Mesmo com vários desafios, de janeiro a novembro, foram produzidos 9,8 bilhões de litros no Estado, alta de 4,3% frente a igual período de 2019. Em relação ao ano que vem, uma das dúvidas é a continuidade ou não do auxílio emergencial, que, se suspenso, pode derrubar o consumo de lácteos. Também existe receio em relação aos custos, uma vez que a tendência é de que os preços do milho e da soja se estabilizem em patamares elevados. “Mais do que nunca será preciso uma boa gestão da atividade em 2021″, disse Pena.

FUNDESA COMPLETA DOIS ANOS

Em 2020, o Fundo de Defesa Sanitária do Estado de Minas Gerais (Fundesa) completou dois anos e conta com um saldo de R$ 8 milhões. De acordo com os dados do Sistema Faemg, os criatórios de bovinos de leite e aves aderiram à contribuição dentro do esperado. No entanto, responsáveis por bovinos de corte, suínos e a indústria frigorífica ainda estão resistentes à contribuição financeira.

Segundo o analista de Agronegócio do Sistema Faemg, Wallisson Lara Fonseca, a adesão é condicionante para que seja possível retirar a vacinação contra febre aftosa.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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