Uma fazenda tradicional localizada em Amparo, a 140 km de São Paulo, vivia por meio de vendas de porta em porta e de visitações guiadas. De repente, chegou uma pandemia que obrigou a localidade a se digitalizar. Após a superação dos desafios, a Fazenda Atalaia deixou de ser conhecida apenas pelo Queijo Tulha, que lhe rendeu até prêmio internacional, e passou a enriquecer a mesa de clientes de todo o país através do e-commerce.
Queijo azul brasileiro premiado no Mundial da França DIVULGAÇÃO

Rosana Rezende, responsável pelo setor de gastronomia e gestora, Guilherme Rezende, da comunicação e cultura, e Meiri Cardoso, da administração da Fazenda Atalaia, participaram do Grocery&Drinks, nesta quinta-feira (7), e contaram um pouco de como foi o processo de digitalização da fazenda. Eles participaram de um bate-papo com Leandro Alves, consultor de varejo digital, e Vivianne Vilela, diretora de conteúdo, do E-Commerce Brasil.

Leandro Alves: Como começou a história da fazenda?

Rosana Rezende: Eu gosto de falar sobre como se faz, o que faz e o fazer com paixão. A fazenda era dos avós libaneses do meu marido, com toda arquitetura e estrutura voltada para o café. Eu casei com o Paulo em 1995, depois que ele foi para Minas Gerais. Quando fiquei grávida, decidimos viver na fazenda e criar os nossos filhos aqui. O Paulo continuou o plantio de café e eu comecei a produzir os queijos na cozinha de casa, entregando porta em porta. Assim o queijo começou a ficar conhecido e resolvemos investir mais nos produtos.

Tudo aconteceu com naturalidade. Em 2016ganhamos o Wo, rld Cheese Awards pelo queijo tulha, que é um queijo maturado. Com a premiação, as portas foram abertas porque a mídia nos mostrou para o mundo e as pessoas queriam conhecer onde o queijo era feito. Tudo o que acontece na fazenda é em função do queijo, pois não produzimos mais café. Além disso, somos responsáveis por toda a produção, desde o plantio da comida dos animais até a entrega dos produtos ao consumidor. Junto com isso, tem visitas guiadas, café da manhã e almoço. As pessoas sempre voltam querendo novidades.

Quando começamos, era só eu, depois meu marido e depois contratamos mais pessoas. Hoje, temos 60 funcionários. Todos os projetos da fazendo são visando melhorias. A fazenda está sendo restaurada, o que foi sempre o sonho do meu marido, mas o restante é por causa da visitação em prol do queijo. Temos muitas possibilidades na fazenda e caminhamos conforme as coisas vão acontecendo.

LA: Como são as experiências e como os conceitos são trabalhados na fazenda?

Meiri Cardoso: Os conteúdos começam a partir da valorização dos produtos produzidos integralmente na fazenda. Trabalhamos muito em cima de informações que enfatizam os saberes tradicionais da cozinha, com receitas tradicionais, e isso é compartilhado com as pessoas. O primeiro conceito é o alimento e a experiência do alimento vivo, como a visita à horta.

Outra coisa que trabalhamos bastante é a manutenção das características originais da fazenda, respeitando as técnicas empregadas na sua construção e respectivos ambientes. A visita histórica guiada proporciona o contato com o antigo e o que aconteceu na crise do café, por exemplo. O queijo tulha é referência na história do café. Fazemos a sincronização do que se come com o que se vê. A pessoa cristaliza essa experiência na memória e cria uma relação de afeto.

O trabalho e o atendimento humanizado é essencial e, com a pandemia, tornou-se o ponto central dos debates de tratamento e atendimento. Começamos a entregar a partir de outro olhar, porque sempre atendemos por Whatsapp. No começo, foi um desafio. Os clientes me chamavam e faziam ligação de vídeo para comprarem os queijos.

LA: Com a pandemia, como foi o processo de transformar o tradicional e digitalizar as experiências?

Guilherme Rezende: A pandemia nos fez olhar para o passado da fazenda. Quando pequeno, minha mãe buscava eu e meu irmão na escola e íamos de porta em porta vender os queijos. Na pandemia, em conversas com a equipe, pensamos em voltar a ter a venda direta para o cliente final. As vendas começaram no WhatsApp, formulário do Google, e fomos entrando em contato com clientes. A coisa foi tomando uma proporção que não esperávamos e nos obrigou a migrar para uma plataforma robusta. Sempre tivemos a preocupação de não descaracterizar a fazenda e o cliente comprar os queijos sem perder o contato humano.

Acabamos criando uma frente nova de relacionamentos. Mantivemos os clientes antigos e, agora, os clientes compram através do e-commerce e recebem os produtos em suas casas.

LA: Como foi sair da região do interior de SP para atender a todo o Brasil?

Guilherme: Esse foi outro desafio. Nós cuidamos de todas as etapas do processo de produção, desde o plantio de milho para alimentar os animais, o leite e tudo o mais. Às vezes demora mais de um ano para o queijo ficar pronto. Sempre preocupados com a qualidade, pois, na hora da venda, queremos que o produto chegue com a mesma qualidade na última etapa, que é a entrega, para não comprometer todo o trabalho. Tentamos de várias maneiras e vimos que a melhor forma de entrega é por meio dos nossos caminhões e equipe, que sabe todos os cuidados e criam relacionamentos com os clientes. Estamos desenvolvendo novas rotas, mas nos locais que saem do nosso raio de atuação, fazemos parcerias com transportadoras especializadas para entregar alguns tipos de produtos sem comprometer a qualidade.

Vivianne Vilela: O que vocês aprenderam na pandemia?

Rosana: A pandemia mostrou que não podemos ficar parados esperando as coisas acontecerem, é preciso se reinventar sempre. Felizmente não tivemos perdas, só ganhos. Conseguimos contratar funcionários e criamos essa nova relação com as pessoas. Nunca ache que as coisas estão terminando, elas estão sempre começando e precisam estar sempre prontos para começar. Hoje, recebemos clientes que recebem a cesta na casa deles e depois querem vir aqui para entender como é o processo. Isso é gratificante e não tem preço.

Guilherme: Eu achei interessante o fato de se reinventar e buscar soluções em momentos desafiadores, não necessariamente precisa inventar a roda. Às vezes, só olhando para dentro conseguimos achar soluções para desafios complexos, sem precisar fazer grandes mudanças.

Meiri: Acho que o principal aprendizado foi continuar difundindo toda a história da fazenda e a essência do trabalho de diferentes maneiras. Foi difícil não receber as pessoas, mas continuamos valorizando a história de forma transparente e sincera. Criamos um canal no Youtube onde começamos com as histórias de quem trabalha aqui e seus sonhos, contados em um minuto. Continuamos construindo histórias em conjunto.

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