ESPMEXENGBRAIND
6 jun 2025
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Em Minas Gerais, projeto incentiva cooperativas a aderir às placas fotovoltaicas.
fazenda
Fazenda Chapadão das Guaritas, em São Gotardo (MG), possui 1.305 placas solares — Foto: Divulgação

A fazenda Chapadão das Guaritas, em São Gotardo (MG), que pertence ao produtor de leite Washington Aparecido Silva, gasta R$ 70 mil em energia por mês, mas paga apenas de R$ 18 mil a R$ 20 mil.

A economia de cerca de R$ 50 mil por mês foi garantida com a instalação de placas solares em dois projetos. Primeiro, em 2020, Silva contratou 18 mil kWh (quilowatt-hora) por mês de energia solar. Três anos depois, ampliou para 70 mil kWh, completando 1.305 placas.

Oitenta por cento das placas foram instaladas no teto do galpão que abriga as vacas holandesas no sistema de confinamento. As outras ficam no chão.

“Quando coloquei o pivô central [de irrigação], precisei instalar mais placas para aumentar a captação de energia solar fotovoltaica. Hoje, 80% da necessidade da fazenda é atendida, mas vou investir mais para chegar a 90 mil kWh e zerar a conta da energia”, diz o produtor, que gastou R$ 1,5 milhão no sistema, investimento que já se pagou.

O fazendeiro diz que sua decisão de apostar na energia fotovoltaica se deu, inicialmente, pelo lado financeiro, já que a produção de leite tem margens baixas e demanda muitos gastos com energia para ambientação dos animais, ordenha mecânica e resfriamento do leite.

 

“Depois, vi os benefícios para o meio ambiente. Com a energia renovável, tenho hoje uma produção mais sustentável.”

 

Segundo Washington Silva, proprietário da Fazenda Chapadão das Guaritas, decisão de apostar na energia fotovoltaica se deu, inicialmente pelo lado financeiro — Foto: Divulgação
Segundo Washington Silva, proprietário da Fazenda Chapadão das Guaritas, decisão de apostar na energia fotovoltaica se deu, inicialmente pelo lado financeiro — Foto: Divulgação

 

O pecuarista mineiro é um dos que ajudaram a engordar os investimentos do agro nessa fonte de energia até 2023. O setor é o terceiro que mais consome energia solar fotovoltaica no país, depois do residencial e comercial, com cerca de 14% – em 2016, não chegava a 5%.

O maior número de projetos, segundo a Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), foi implementado em 2023, com potência instalada de 1.295,6 megawatts e um investimento de R$ 5,86 bilhões. No total, em 15 anos, o setor investiu R$ 23,6 bilhões para uma potência de 5.078,5 mW.

No ano passado, no entanto, os juros elevados fizeram os aportes do setor agropecuário cair, tendência que se mantém neste ano.

Além dos juros altos, há outro desestímulo ao investimento, segundo Bárbara Ferreira Viegas Rubim, vice-presidente da Absolar: as distribuidoras de energia passaram a alegar que as redes estão sobrecarregadas para receber novos sistemas on grid, em que a energia solar captada pelos módulos solares é conectada à rede de distribuição.

A dirigente diz que o Brasil é um dos países que mais investem em energia solar fotovoltaica, mas poderia crescer mais porque tem um dos melhores recursos solares e uma das contas de energia mais caras do mundo. Mas esse crescimento vai depender de uma sinalização mais forte do governo no compromisso com uma transição energética.

“O governo precisa reconhecer o problema das limitações das distribuidoras, que pode ser uma prática anticoncorrencial.”

Marcos Madureira, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), rebate com veemência a crítica da Absolar.

Segundo ele, o Brasil tem uma das maiores taxas de eletrificação do mundo, com 99,8%, e as distribuidoras investem R$ 6 bilhões por ano para capacitar as redes nas áreas rurais. Os gargalos surgem, diz, quando há muita gente injetando energia na rede do mesmo momento.

“O problema é que o pessoal ampliou o conceito da geração distribuída remota compartilhada, em que a geração ocorre em uma propriedade mais distante e é transportada para o ponto de consumo, para construir as fazendas de energia solar e vender para terceiros até por aplicativo sem nenhum investimento nas linhas de rede.”

As limitações hoje ocorrem principalmente no Centro Oeste, Sudeste e Matopiba, onde a expansão do agro é maior. Nessas áreas, segundo Madureira, a rede veio segurando até este momento, mas agora chegaram os gargalos, que podem impactar até o sistema de transmissão.

Uma alternativa apontada por ele para solucionar o problema é o uso do sistema fotovoltaico off grid, que não é conectado à rede de distribuição. A energia excedente gerada pelos painéis solares é armazenada em baterias para poder ser utilizada em outro momento, como à noite, quando não há luz solar.

Segundo o presidente da Abradee, atualmente novos projetos têm que ser submetidos à distribuidora da região, que vai avaliar a capacidade da rede de receber mais energia.

Uma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determinou que todos os pedidos de até 7,5 kW tenham liberação imediata, desde que a energia seja consumida no local gerado. Os outros têm que aguardar uma avaliação.

Projeto MinasCoop

Um dos projetos que puxaram os investimentos em energia solar fotovoltaica no auge foi o da Coopama, Cooperativa Agrária de Machado, que recebe café e cereais de seus 3.600 cooperados em mais de 100 municípios mineiros. “Instalamos em 2021 nossa primeira estação de energia fotovoltaica em Machado para ser mais autossuficiente porque as unidades de recebimento de grãos e a fábrica de ração animal demandam muita energia”, conta Aline Borges, supervisora de marketing.

 

Fazenda de energia solar da Coopama em Machado (MG) — Foto: Divulgação
Fazenda de energia solar da Coopama em Machado (MG) — Foto: Divulgação

Em 2023, a cooperativa aderiu ao projeto MinasCoop Energia do Sistema Ocemg (Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais).

Hoje, tem três usinas com capacidade de gerar 1,2 milhão de kWh, que garantem 100% da necessidade de energia para as unidades em Machado e ainda doa parte para duas instituições beneficentes.

Aline Borges diz que, como a cooperativa está construindo mais uma unidade de captação de cereais em Careaçu, vai precisar investir em breve em mais geração de energia fotovoltaica.

Alexandre Gatti Lages, superintendente do sistema Ocemg, diz que o programa MinasCoop Energia foi implantado durante a pandemia visando gerar energia limpa e doar uma parte para entidades filantrópicas.

A primeira usina começou a ser construída em 2021 em Cristália e Botumirim, na região norte do Estado, e entrou em operação no ano seguinte, tornando a Ocemg em Belo Horizonte autossustentável em energia.

Segundo ele, 44 cooperativas de diversos setores já aderiram ao MinasCoop Energia, sendo sete do agro, que representam 29,5% da movimentação econômica de Minas, investiram R$ 19,5 milhões nas usinas e produzem 5,9 milhões de kW.

No total, as cooperativas instalaram 105 usinas, com um investimento de R$ 56,5 milhões e a doação de energia para 64 entidades, que atendem mais de 350 mil pessoas por mês.

“A instalação das usinas fotovoltaicas gera uma economia muito grande para as cooperativas. O payback era de 5,5 anos, mas hoje já se paga o investimento em 3 ou 3,5 anos. A cooperativa transforma a vida de pessoas com uma doação que é permanente e recebe o reconhecimento da comunidade pelo trabalho social”, afirma.

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