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24 jun 2025
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Better Dairy está indo além da caseína e apostando em uma nova proteína no setor de laticínios de fermentação de precisão.
Esqueça só a caseína e a lactoferrina — a osteopontina é a nova aposta no setor de laticínios produzidos por fermentação de precisão. (Imagem: Getty/FotoDuets)
Esqueça só a caseína e a lactoferrina — a osteopontina é a nova aposta no setor de laticínios produzidos por fermentação de precisão. (Imagem: Getty/FotoDuets)

A osteopontina é o novo foco da estratégia da start-up Better Dairy, especializada em fermentação de precisão.

Quando as empresas de tecnologia de alimentos falam sobre fermentação de precisão no setor lácteo, é quase certo que estão focadas em proteínas do soro do leite, caseína ou lactoferrina.

Mas no Reino Unido, a Better Dairy decidiu mudar de direção. Após anos focada no desenvolvimento de caseína sem origem animal para a produção de queijos alternativos, a foodtech está ampliando seus esforços de P&D para desenvolver osteopontina humana destinada ao mercado de fórmulas infantis.

O que é osteopontina?

A osteopontina é uma proteína presente no leite materno. Acredita-se que ela desempenhe um “papel fundamental” no crescimento e no desenvolvimento do sistema imunológico nos primeiros estágios da vida do bebê.

Embora a Better Dairy ainda não tenha realizado estudos de eficácia, pesquisas indicam que essa proteína aumenta a absorção de cálcio, melhora a saúde intestinal ao potencializar a absorção e eficiência de nutrientes no intestino, além de estimular as células do sistema imunológico.

A osteopontina também é altamente expressa no cérebro durante a infância, o que faz os cientistas acreditarem que ela é importante para o desenvolvimento cerebral normal.

A osteopontina também está presente no leite de vaca, mas em concentrações muito menores. O leite materno pode conter até 15 vezes mais osteopontina, evidenciando uma diferença significativa entre as fórmulas infantis à base de leite bovino e o leite materno.

“Acreditamos que existe uma grande oportunidade de reduzir algumas das discrepâncias no desenvolvimento entre bebês amamentados no peito e aqueles alimentados com mamadeira”, explica Trishala Bopanna, diretora de estratégia e parcerias da Better Dairy.

Como a Better Dairy produz osteopontina via fermentação de precisão

Na indústria alimentícia, a fermentação de precisão usa microrganismos como “fábricas celulares” para produzir moléculas complexas, como proteínas.

No caso da Better Dairy, a empresa trabalha com cepas de fungos e leveduras no processo de fermentação de precisão. De maneira geral, as leveduras são usadas para proteínas de maior valor, como a osteopontina, enquanto os fungos são usados para proteínas mais commoditizadas, como a caseína.

“Nosso trabalho pioneiro com a caseína e suas modificações pós-traducionais (PTMs), para as quais temos uma patente publicada, nos permitiu desenvolver rapidamente a osteopontina”, explica Trishala Bopanna.

Por que a Better Dairy está apostando na osteopontina?

Fundada em 2019, a Better Dairy tinha como foco inicial a produção de caseína por fermentação de precisão.

A start-up dedicava seus esforços de P&D ao desenvolvimento de produtos acabados para o mercado de queijos duros e maturados, utilizando sua caseína sem origem animal.

O leite materno contém até 15 vezes mais osteopontina do que o leite de vaca. (Imagem: Woman pouring milk in to bottles for new baby on wooden table/Getty)

A recente mudança de foco da Better Dairy para a osteopontina humana não significa o abandono da caseína sem origem animal. Muito pelo contrário. A start-up conseguiu expressar os quatro principais componentes da caseína (αS1, αS2, β e κ-caseína) em uma única cepa de levedura e mantém seus planos de comercialização.

“A ambição com a caseína continua viva”, afirma Bopanna. “A caseína está no nosso DNA e queremos levá-la ao mercado.”

Por que então a Better Dairy não está colocando todos os esforços diretamente na caseína?

A resposta é dupla. Em primeiro lugar, alcançar um preço competitivo para a caseína pode levar mais tempo, pois isso depende de ganhos de escala.

A empresa está migrando de uma estratégia de alto volume e baixo valor para o oposto, já que o leite contém muito menos osteopontina do que caseína, explica Bopanna. “A caseína será uma jornada mais longa, então faz sentido rentabilizar primeiro as proteínas de maior valor.

É uma evolução que nos permitirá ser mais eficientes comercialmente.”

Além disso, a osteopontina apresenta um grande potencial. Ela é menos complexa do que a caseína, e os primeiros testes de expressão da proteína foram muito promissores, conta a executiva. “Isso nos fez perceber que talvez estivéssemos ignorando uma grande oportunidade.”

Oportunidades para a osteopontina no setor de alimentos e bebidas

O potencial de inovação que as tecnologias de nova geração trazem para as fórmulas infantis é imenso.

A lactoferrina, por exemplo, contribui para a absorção de ferro e para a saúde intestinal. Quando filtrada do leite bovino, é um ingrediente popular em fórmulas infantis premium, aproximando-as do perfil do leite materno.

Também é possível produzi-la em laboratório: a start-up de Cingapura TurtleTree já recebeu aprovação regulatória em dois mercados para sua lactoferrina derivada de fermentação de precisão.

A osteopontina já é comercializada para o mercado de fórmulas infantis. “A osteopontina já está no radar de muitas empresas há algum tempo.

O grande desafio sempre foi a quantidade: seriam necessários cerca de 40 mil litros de leite de vaca para isolar um único quilo de osteopontina”, explica Bopanna. Já existe osteopontina recombinante, produzida com tecnologia de DNA, mas os custos ainda são proibitivos.

A Better Dairy vê uma grande oportunidade na osteopontina produzida por fermentação de precisão. “Estamos entusiasmados em destravar uma oferta estável de osteopontina via fermentação de precisão”, afirma Bopanna. “E estamos produzindo a versão humana dessa proteína.”

Além das fórmulas infantis, existem outros mercados promissores. A proteína pode ter aplicações na saúde da mulher e no envelhecimento saudável, ajudando na saúde óssea.

Estudos também indicam que a osteopontina pode promover a adesão celular e a regeneração de tecidos, o que abre portas para novos produtos enriquecidos com osteopontina no setor de nutrição esportiva.

Onde a osteopontina de nova geração será incorporada às fórmulas infantis?

A Better Dairy já consegue expressar a osteopontina em concentrações compatíveis com a comercialização e, por meio de otimizações no processamento upstream e downstream, espera reduzir ainda mais os custos.

A empresa pretende obter a certificação Self-affirmed GRAS nos Estados Unidos ainda este ano, como um forte sinal para o mercado. “Isso demonstra que somos sérios, que temos as capacidades necessárias e que validamos a segurança do nosso produto”, explica Bopanna.

A Better Dairy já está em contato com marcas de fórmula infantil para acelerar sua entrada no mercado, com planos de solicitar primeiro a aprovação regulatória nos EUA.

Em seguida, a empresa vai focar no Reino Unido e na União Europeia, antes de concentrar esforços na China — país que não só possui o maior mercado de fórmulas infantis do mundo, mas também demonstra abertura para inovações em ingredientes.

“Se olharmos para o mercado de lactoferrina para adultos, por exemplo, existem muito mais produtos disponíveis na China do que no resto do mundo.

Eles parecem ter uma maior receptividade para soluções inovadoras, e grandes players com quem conversamos na China já demonstraram interesse na osteopontina.”

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