A doença da pele nodular é o novo desafio sanitário que preocupa o setor leiteiro da França, principalmente em regiões montanhosas conhecidas pela produção de queijos finos.
Desde o fim de junho, 51 surtos foram confirmados e aproximadamente 1.000 bovinos foram abatidos, conforme informou o Ministério da Agricultura francês em 31 de julho.
Transmitida por picadas de insetos, essa doença viral provoca lesões cutâneas e compromete a saúde dos animais, reduzindo significativamente a produção de leite.
Apesar de não afetar os seres humanos, a disseminação do vírus gera impacto direto na economia rural, tanto pela queda produtiva quanto pelas restrições comerciais que surgem como resposta internacional à crise.
Regiões de queijo afetadas e resposta emergencial
O epicentro do surto está nos departamentos alpinos, como Savoie e Haute-Savoie, regiões emblemáticas para a produção de queijos com denominação de origem protegida (DOP), como Reblochon, Beaufort e Tomme de Savoie. A gravidade da situação já provocou restrições de acesso e abate emergencial de rebanhos em áreas críticas.
Uma das consequências inusitadas foi a alteração da rota da Volta da França, tradicional prova de ciclismo, cuja etapa precisou ser encurtada devido a um foco da doença na região.
A decisão buscou proteger o gado e evitar que o movimento turístico contribuísse para a expansão do surto.
Desde 19 de julho, o governo francês implementou uma campanha intensiva de vacinação. Até o momento, mais de 100 mil vacas foram imunizadas, especialmente nos quatro departamentos alpinos mais atingidos.
Impactos econômicos e comerciais
Com um rebanho estimado em 17 milhões de cabeças, o maior da União Europeia, a França se vê diante de uma ameaça sanitária com potenciais prejuízos bilionários.
Os produtores locais relatam que vários países, incluindo o Reino Unido, já impuseram proibições à importação de queijos produzidos com leite cru da França — um golpe duro para uma indústria que se apoia fortemente na exportação.
A Associação Nacional dos Produtores de Leite francesa (FNPL) manifestou preocupação com o alastramento do vírus e vem pressionando por mais apoio estatal e medidas compensatórias para os produtores afetados.
“Trata-se de proteger não apenas os animais, mas toda uma cadeia de valor baseada na tradição, qualidade e reconhecimento internacional dos nossos queijos”, declarou a entidade em comunicado recente.
A doença da pele nodular em expansão
A dermatose nodular bovina, como também é conhecida, não é nova no mapa sanitário mundial.
Presente em países do norte da África, a doença também teve casos registrados na Itália no mesmo período, o que acende o alerta para um possível risco de disseminação regional dentro da Europa.
Por se tratar de uma zoonose não transmissível ao ser humano, a principal preocupação está nos danos à produtividade do rebanho e nas barreiras sanitárias internacionais que se formam automaticamente diante de surtos.
O Ministério da Agricultura francês reforça que a situação ainda está em fase de crescimento e que as próximas semanas serão decisivas para conter o avanço da enfermidade.
Técnicos e veterinários seguem em campo, monitorando fazendas, rastreando focos e reforçando a importância da vacinação e da biossegurança nas propriedades.
Consequências a médio prazo
A persistência da doença pode acarretar restrições comerciais duradouras, perda de mercado e rompimento de contratos internacionais, afetando cooperativas e pequenos produtores de regiões altamente dependentes da renda do leite e seus derivados.
Além disso, o custo logístico da vacinação, a eliminação de animais infectados e a perda de produtividade leiteira ameaçam a rentabilidade do setor, especialmente em um contexto de custos crescentes com alimentação animal e energia.
Conclusão
O surto de doença da pele nodular na França expõe a vulnerabilidade dos sistemas produtivos intensivos a doenças emergentes, especialmente aquelas com impacto econômico mais do que sanitário.
O esforço coordenado entre governo, setor produtivo e vigilância sanitária será essencial para evitar uma crise maior e proteger o prestígio internacional dos queijos franceses.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Forbes