A fraude em laticínios continua sendo uma das mais frequentes práticas criminosas no setor de alimentos, de acordo com uma nova pesquisa publicada pela Food Authenticity Network (FAN) em parceria com os bancos de dados FoodChain ID, HorizonScan e Safety HUD.
O levantamento mostra que, ano após ano, produtos lácteos figuram no topo das listas de alimentos mais visados por adulterações.
Segundo os dados, bebidas, alimentos processados, laticínios, frutas e cereais foram as categorias mais mencionadas em relatórios oficiais de fraude alimentar em 2024.
Já o banco de dados do FoodChain ID, que inclui também publicações científicas, notícias e alertas regulatórios, apontou frutos do mar, mel, laticínios, especiarias e bebidas como os mais afetados. Em ambos os cenários, apenas os produtos lácteos se mantiveram consistentemente no top 3.
Um problema bilionário e persistente
A ONG Transnational Alliance to Combat Illicit Trade (TACIT) estima que a fraude alimentar – que envolve produtos falsificados, adulterados ou ilegais – gera prejuízos de até US$ 50 bilhões por ano para a indústria global. Esse número exclui as perdas relacionadas ao comércio ilegal de álcool.
O problema é agravado pela ausência de uma definição única para o termo “fraude alimentar”. A Organização Mundial do Comércio (OMC) alerta que cada país adota critérios diferentes, o que dificulta a fiscalização e a cooperação internacional.
Tipos mais comuns de fraude
De acordo com a FAN, as fraudes mais frequentes são de origem botânica ou animal, seguidas pelo uso de substâncias não alimentares e pela diluição. Essa última é especialmente comum no leite, onde água e outros aditivos são usados para aumentar o volume e reduzir custos, comprometendo a qualidade e, muitas vezes, a segurança do produto.
Casos graves, como a adição de melamina em fórmulas infantis ou de corantes tóxicos em especiarias, demonstram o risco que a fraude representa à saúde pública.
Produtos mais visados
O relatório também detalha como diferentes alimentos são alvo de adulteração:
- Leite e derivados: diluição com água ou outros líquidos.
- Mel: mistura com xaropes baratos e falsificação de origem.
- Azeite de oliva: diluição com óleos mais baratos, como o de girassol.
- Frutos do mar: rotulagem enganosa e substituição de espécies.
- Carne: troca de carne bovina por outras espécies de menor valor.
- Especiarias: adição de corantes ou enchimentos tóxicos, como no caso da cúrcuma adulterada com cromato de chumbo.
- Bebidas alcoólicas: falsificação e contrabando, com perdas fiscais de quase US$ 9 bilhões anuais, segundo a World Spirits Alliance.
Falta de dados e avanço regulatório
A pesquisa destaca que apenas 8% dos relatórios de segurança alimentar estão relacionados à fraude. Além disso, não surgiram novas fontes de dados regulatórios em 2024, o que limita a análise e prevenção.
Para enfrentar o problema, a Codex Alimentarius Commission, da OMC, está finalizando um documento que define seis tipos principais de fraude – adição, substituição, diluição, falsificação, representação enganosa e ocultação.
O guia, que deve ser aprovado em 2025, orientará governos e empresas na prevenção, detecção e controle dessas práticas, além de reforçar a proteção ao consumidor.
Por que isso importa para o setor lácteo?
O leite é um dos alimentos mais testados por autoridades regulatórias, o que explica parte do grande número de registros. No entanto, essa frequência também reflete o alto valor comercial e a vulnerabilidade do produto, tornando-o alvo recorrente de adulterações.
Para a indústria, além das perdas financeiras, a fraude em laticínios corrói a confiança do consumidor e exige investimentos constantes em rastreabilidade e autenticidade.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Dairy Reporter