Muitas vezes antes do sol nascer, na geada, em meio ao frio, os produtores de leite já estão envolvidos nos cuidados com os animais e na rotina das ordenhas.
Um desafio extra no inverno que só quem vive no campo conhece. Sem sábado, domingo, feriado ou férias, Diogo Ferrabolli, no município de Anta Gorda, no Vale do Taquari, é retrato do pecuarista que se dedica diariamente à bovinocultura de leite no Rio Grande do Sul.
Entre o cansaço e o orgulho, explica como maneja o seu rebanho antes do galo cantar durante a época mais fria do ano, que também é o auge da “safra de leite”.
As temperaturas mais baixas acarretam desafios próprios em virtude das características da estação. A família Ferrabolli sabe o que faz. A expertise na criação de rebanho leiteiro já lhe rendeu diversos prêmios.
Na Expointer 2024, em Esteio, conquistou o concurso Leiteiro da Raça Holandesa. A vaca “Pitoca” arrematou o primeiro lugar na categoria adulta com a produção de 110,41 quilos de leite em 24 horas e o recorde estadual.
Não bastasse o feito, os produtores sagraram-se campeões também na categoria Jovem, do mesmo concurso, com a exemplar Ferraboli 622 Crushabull que produziu 84,81 quilos de leite. Neste ano, a lista de títulos cresceu. Outras duas fêmeas da granja venceram as categorias na Fenasul Expoleite.
“É um conjunto de ações. Mas o principal é trabalhar entre 18 horas e 20 horas por dia em uma atividade na qual está a família toda envolvida (seis pessoas), com muito amor.
E, o resultado é diferente quando fazemos o que gostamos”, afirma o criador, sem revelar detalhes da estratégia com o rebanho leiteiro e recordando que o início na bovinocultura de leite deveu-se a aquisição, feita por seu pai, de uma vaca de descarte de um vizinho há cerca de 30 anos.
“Por mais que financeiramente não vale tanto a pena, é o que temos na nossa região. Ou fazemos isso ou vamos para a cidade”, explicou.
No dia a dia, Diogo Ferrabolli conta que são realizadas três ordenhas: às 6h, às 14h e 22h em um rebanho composto por 230 fêmeas da raça Holandesa – nem todas em lactação. Para manter a saúde dos animais, conta com uma equipe formada por veterinário e nutricionista.
“Mas primeiro respeitamos o animal e proporcionamos todo o conforto possível”, destacou, acrescentando que, para as vacas desta linhagem, de origem europeia, o inverno é o melhor período do ano. “Óbvio se as deixarmos soltas, na chuva, na lama vão sofrer muito”.
As vacas da propriedade são abrigadas em galpão coberto. Terneiras recém-nascidas é que demandam cuidados extras com ambientes próprios aquecidos entre 15º e 20º graus por meio de lâmpadas. Mas, conforme Diogo, no geral, o período mais frio do ano simboliza uma alta entre sete e dez litros de leite, por dia, por vaca, em comparação a outras estações.
Além disso, representa uma economia de cerca de R$ 10 mil por mês, em energia e água, que são mais necessários no verão para ventiladores e banhos realizados a cada dez minutos nas fêmeas.
“O nosso maior custo é a silagem”, apontou, destacando os prejuízos com as últimas quatro ocorrências de estiagens no Rio Grande do Sul.
Sobre os cuidados com o rebanho leiteiro no inverno, o analista da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas, Rogério Dereti, enumerou os diferentes tipos de sistemas de criação de rebanho leiteiro: os extensivos, que se caracteriza pela alimentação dos animais exclusivamente a pasto; os confinados, mantém as vacas em áreas restritas, como currais ou galpões; e os semiconfinados que combinam o pastejo com a suplementação alimentar. Este último é o que predomina no Estado.
Conforme Dereti, a opção dos criadores por sistemas mais confinados acontece porque facilita justamente a alimentação dos rebanhos leiteiros. Os animais possuem alta demanda nutricional para dar o máximo de seu potencial de produção.
O analista da Embrapa detalhou também que as diferenças de níveis de especialização dos rebanhos e quanto mais “profissionais” maior produção. Essa “categoria” de animais, disse ele, é determinada pela seleção genética e também está relacionada com a aptidão de determinadas raça.
As baixas temperaturas ambientais afetam a termorregulação dos animais, que necessitam de mais energia (alimento) para a manutenção da temperatura corporal.
“Frequentemente temos mais problemas ligados ao estresse térmico no verão”, concluiu.