As fusões entre grandes cooperativas do leite europeu não param de crescer e prometem remodelar o mapa da produção e processamento de lácteos no continente.
Com margens apertadas, queda na produção e exigências regulatórias mais severas, o setor reage com consolidação — e isso pode significar melhores preços para os produtores.
Arla e DMK: mega fusão à vista
Em abril de 2025, Arla Foods e DMK Group anunciaram planos de fusão que, se aprovados, formarão uma cooperativa ainda maior do que a união entre FrieslandCampina e Milcobel, atualmente em negociação. As diretorias de ambas aprovaram o plano, que agora aguarda o aval da Comissão Europeia.
Juntas, Arla e DMK somam um faturamento de €19 bilhões e processam cerca de 19 bilhões de quilos de leite por ano. Caso a fusão avance, mais de 12.000 produtores estarão sob uma mesma organização — liderada por Jan Toft Nørgaard e Peder Tuborgh (ambos da Arla), com o CEO da DMK, Ingo Muller, como vice-presidente executivo.
Apesar da confiança da Arla na aprovação regulatória até dezembro, analistas consideram esse cronograma otimista, devido à necessidade de validações nacionais.
A DMK é a maior processadora de leite da Alemanha — responsável por 20% da produção de leite da UE. A cooperativa tem apostado em produtos de maior valor agregado, como queijos e foodservice, além de investir na maturação de queijos na Holanda e aumentar a produção de cottage cheese em 30%, de olho na demanda por proteína.
FrieslandCampina e Milcobel: negociações em andamento
Anunciada no fim de 2024, a fusão entre FrieslandCampina (Países Baixos) e Milcobel (Bélgica) ainda não tem data definida para ser formalizada. As cooperativas, que juntas representam cerca de 11.000 fazendas e €14 bilhões em receita, afirmam que o processo segue, mas os detalhes ainda estão sendo ajustados.
A motivação? A mesma que impulsiona toda a onda de consolidação: queda no volume de leite, aumento de custos, regulação ambiental mais rígida e o envelhecimento dos produtores.
Segundo porta-voz da FrieslandCampina, a união dará escala e resiliência, além de ganhos em logística, inovação e categorias estratégicas como queijo, muçarela e ingredientes lácteos.
Em 2024, a FrieslandCampina obteve lucro operacional de €527 milhões, contra €75 milhões no ano anterior. Cortes de custos — incluindo a eliminação de quase 1.400 empregos — e foco em nutrição especializada, como a linha infantil Friso, impulsionaram os resultados.
Já a Milcobel manteve em 2024 um faturamento estável de €1,3 bilhão, com lucro antes de impostos de €4,1 milhões. A cooperativa vendeu a fabricante de sorvetes YSCO em janeiro e segue apostando em eficiência e foco em produtos com maior valor agregado.
Produção em queda, clima em alta
Segundo o Rabobank, se a UE avançar com regras mais rígidas de qualidade da água, a Irlanda poderá ter que reduzir seu rebanho leiteiro em 18% — o que significaria 1,6 bilhão de quilos a menos de leite por ano na Europa.
No primeiro trimestre de 2025, a produção de leite caiu na UE, impulsionada por uma redução no número de vacas leiteiras, especialmente no noroeste do continente. A situação na Alemanha, por exemplo, foi agravada pelo surto de febre catarral do ovino (bluetongue), que reduziu ainda mais os volumes.
Desafios de governança e sucessão
Apesar das promessas de escala e rentabilidade, cresce a preocupação com o papel dos produtores dentro dessas megaestruturas. Como garantir participação ativa nas decisões e não diluir a essência cooperativa?
Em 2020, 57,6% dos gestores de fazendas leiteiras da UE tinham 55 anos ou mais, e apenas 12% estavam abaixo dos 40. A sucessão geracional se tornou um desafio central. Além disso, 86,1% dos trabalhadores agrícolas na UE fazem parte da família do agricultor, mantendo o caráter familiar da atividade.
Garantir que as novas cooperativas saibam equilibrar eficiência corporativa com a valorização de seus membros será decisivo para o futuro do leite europeu.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Dairy Reporter