O preço do leite preocupa cada vez mais os produtores do Rio Grande do Sul, e a situação chegou a um ponto crítico. A Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando) fez um novo e contundente apelo por ações urgentes de governo para conter as perdas e garantir a sobrevivência de milhares de famílias ligadas à atividade.
O presidente da entidade, Marcos Tang, afirmou que a crise é consequência direta da falta de controle nas importações e da ausência de medidas de proteção ao produtor nacional. “Está mais do que na hora de agir. A Gadolando não se orgulha, mas há três anos já alertávamos para o risco de colapso no setor. Naquela época, dissemos que estavam matando o produtor de leite — e infelizmente, a conta chegou”, afirmou.
📉 Impacto das importações
Segundo Tang, a entrada descontrolada de leite em pó estrangeiro — utilizado pela indústria para a fabricação de derivados — gera uma competição desleal com o produto brasileiro. “Essas importações desenfreadas trazem prejuízos enormes ao produtor local. Precisamos de um freio urgente para isso”, destacou o dirigente, reforçando que o desequilíbrio ameaça toda a cadeia produtiva.
A preocupação não é nova. A entidade vem alertando há anos sobre o agravamento da crise, que hoje afeta desde pequenos agricultores familiares até produtores altamente tecnificados. Tang aponta que nem mesmo quem investiu em genética, tecnologia e manejo de precisão está conseguindo manter-se competitivo diante da pressão dos custos e dos preços pagos ao produtor.
⚙️ Falta vontade política
Para o presidente da Gadolando, há uma falta de vontade política em enfrentar o problema. “A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e outras entidades têm buscado soluções, mas os avanços ainda são insuficientes. Estamos vendo produtores abandonando a atividade, e isso tem um custo social e econômico altíssimo para todo o país”, afirmou Tang.
Ele defende medidas imediatas e articuladas em três frentes principais:
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Regulamentar as importações, criando mecanismos de proteção e estímulo;
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Incentivar o consumo interno, por meio de campanhas educativas e valorização dos produtos nacionais;
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Estimular as exportações, como estratégia de médio e longo prazo para equilibrar o mercado.
🥛 Espaço para crescer
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo ideal de leite é de cerca de 200 litros por pessoa ao ano, enquanto o Brasil está entre 160 e 170 litros per capita. Para Tang, esse é um espaço real de crescimento, que precisa ser explorado com ações coordenadas. “O brasileiro pode e deve consumir mais leite. É saudável, é nosso, e mantém viva uma tradição essencial da agricultura nacional”, reforçou.
🌦️ Cinco anos de perdas no Sul
No Rio Grande do Sul, a crise é agravada por cinco anos consecutivos de perdas climáticas, que reduziram a produção e aumentaram os custos. Mesmo assim, o estado segue como um dos principais polos leiteiros do país, sustentado por famílias que mantêm a tradição e resistem às adversidades.
Tang resume o sentimento do campo: “O que está em jogo é a sobrevivência de milhares de famílias e a manutenção de uma das cadeias mais importantes do agronegócio brasileiro. O produtor está assustado e precisa de alternativas reais”.
🤝 Chamado à união
A Gadolando propõe um esforço conjunto entre produtores, indústria, comércio e poder público. A entidade acredita que só com cooperação e políticas consistentes será possível restaurar a confiança no setor e garantir preços justos para quem trabalha todos os dias com o leite.
“É preciso olhar o produtor nos olhos e entender que sem ele não há leite, nem alimento, nem futuro para o campo”, conclui Tang, em um apelo que ecoa por todo o Brasil rural.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Correio do Povo