O leilão Global Dairy Trade (GDT) de 4 de novembro de 2025 trouxe um recado claro ao mercado mundial: o otimismo das rodadas anteriores deu lugar a uma correção generalizada de preços.
O índice GDT caiu 2,4%, interrompendo o breve ciclo de estabilidade, e a maioria das categorias encerrou o evento em terreno negativo, segundo dados da NZX Dairy Insights.
Os produtos graxos foram os principais responsáveis pela queda:
- Manteiga: –4,3% (US$ 6.887/t)
- Gordura anidra de leite (AMF): –1,9%
- Cheddar: –6,6% (US$ 4.449/t)
- Leite em pó integral (WMP): –2,7% (US$ 3.768/t)
- Leite em pó desnatado (SMP): estabilidade em 0,0% (US$ 2.559/t)
Apesar de alguns sinais de resistência — como leve alta na mussarela ( +1,6%) — o evento confirmou que os compradores asiáticos e do Oriente Médio voltaram a agir com prudência. A desaceleração da China, que vinha sustentando volumes expressivos de importação de gordura láctea, também ajudou a esfriar os lances.
📉 Um ajuste técnico, mas com alerta global
Os analistas da NZX descrevem o movimento como um “ajuste técnico de fim de ciclo”, após semanas de valorização que haviam colocado o mercado sob risco de sobrecompra.
O tom foi de correção, não de colapso.
Ainda assim, o recuo do cheddar e da manteiga preocupa, pois são produtos diretamente associados à rentabilidade industrial.
A queda de 6,6% do cheddar rompeu a sequência de estabilidade observada desde setembro e reaproxima o produto do piso psicológico de US$ 4.400/t. Já a manteiga, mesmo acima de US$ 6.800/t, começa a sinalizar que os preços globais podem ter atingido o teto de curto prazo.
🌏 Impacto nos exportadores da Oceania
A Nova Zelândia segue enfrentando uma temporada de produção irregular. O clima úmido no início da primavera atrasou volumes, mas as pastagens começam a reagir.
Com isso, a pressão sobre as exportações aumentou: as indústrias kiwis precisam liberar estoques antes do pico de produção de verão.
Esse contexto, somado à resistência de compradores estratégicos — como Argélia e Sudeste Asiático —, contribuiu para o ajuste nos preços médios do GDT.
Enquanto isso, a Europa ainda mostra margens apertadas, e os EUA continuam usando o câmbio favorável para colocar excedentes em mercados do Oriente Médio e América Latina.
🇧🇷 O reflexo para o mercado brasileiro
Para o Brasil, o movimento tem duas leituras.
De um lado, a queda global alivia o custo de importação de leite em pó e gordura láctea, o que tende a frear eventuais repasses de preço ao consumidor no início do verão.
De outro, a valorização do dólar e os custos internos (energia, logística e mão de obra) limitam o espaço para aproveitar totalmente essa janela.
Os importadores brasileiros, sobretudo do eixo Sudeste–Sul, vinham observando o GDT com atenção, já que os preços da manteiga e do cheddar definem parte das negociações de derivados.
Uma correção desse porte pode favorecer novas compras, especialmente de leite em pó desnatado, usado em misturas industriais, e de queijos de base (mozzarella, cheddar e gouda).
Mas há um alerta: se o GDT continuar cedendo, a indústria nacional pode perder competitividade frente a produtos argentinos e uruguaios — que operam com custos mais baixos e câmbio favorável.
Em outras palavras, um GDT mais barato é bom para o importador, mas péssimo para o produtor local que já luta contra margens comprimidas.
⚖️ E agora?
A tendência de curto prazo é de mercado lateralizado, com oscilações moderadas até o fim do ano.
Os próximos leilões dirão se a queda atual é apenas uma pausa técnica ou o início de um novo ciclo de baixa global.
Enquanto isso, o Brasil deve seguir no jogo duplo: importar onde compensa e defender margens na indústria local.
No fundo, o evento 391 da GDT é um lembrete do equilíbrio frágil que rege o setor lácteo global:
quando os preços sobem demais, os compradores se afastam; quando caem, o produtor sofre — e o consumidor raramente vê o benefício no bolso.
🧭 O recado é claro
Para o mercado brasileiro, o recado é claro: é hora de agir com estratégia.
A volatilidade internacional não vai desaparecer, e depender de importações baratas é um risco silencioso.
Quem souber diversificar origens, planejar estoques e proteger margens sairá mais forte — não apenas no próximo GDT, mas no ciclo que se desenha para 2026.







