A genômica está transformando profundamente o melhoramento genético bovino, impulsionando ganhos de produtividade e eficiência que reposicionam o mercado leiteiro mundial.
A tecnologia, que permite identificar com precisão o potencial genético de animais jovens, vem consolidando os Estados Unidos como referência global nesse campo.
O melhoramento genético é, há décadas, um dos pilares da pecuária leiteira. Nos Estados Unidos, essa prática ganhou força institucional no início do século XX, quando produtores, associações de raça e órgãos públicos começaram a organizar registros, mensurações e programas de avaliação. O foco na produtividade de leite consolidou a raça Holandesa como a principal base genética do país.
Segundo João Dürr, diretor-executivo do Council on Dairy Cattle Breeding (CDCB), a visão de longo prazo foi essencial para o sucesso americano. “O governo reconheceu, já em 1908, que o país precisava de dados consistentes e avaliações científicas para sustentar o crescimento da cadeia do leite. A decisão de priorizar a produção leiteira foi fundamental para que os Estados Unidos se tornassem líderes em genética bovina”, destaca Dürr.
Esse movimento envolveu um esforço coordenado de coleta e análise de dados. No início, foram implementados registros detalhados da produção de leite e gordura, seguidos por programas de controle leiteiro e a criação das primeiras cooperativas de inseminação artificial na década de 1930.
Com o avanço tecnológico, a introdução de computadores nos anos 1950 revolucionou a capacidade de processar informações, abrindo caminho para avaliações cada vez mais precisas. Esse progresso culminou na criação do CDCB, instituição responsável por centralizar, processar e disponibilizar dados genéticos confiáveis que servem de base para decisões em toda a indústria leiteira.
A virada genômica
O ponto de inflexão chegou em 2009, com a introdução da avaliação genômica. Pela primeira vez, tornou-se possível estimar o valor genético de animais jovens com alto grau de confiabilidade, sem depender de anos de observação ou provas de progênie. Essa mudança encurtou drasticamente o ciclo de seleção e acelerou o progresso genético em todo o rebanho.
“Criamos um novo negócio em torno da genômica, que simplesmente não existia antes de 2009. Passamos a certificar nominadores, laboratórios e chips usados nas análises. Isso abriu um leque de oportunidades que transformou a forma de trabalhar com genética”, explica Dürr.
Com a genômica, o mercado de genética leiteira passou a se basear em informações moleculares que revelam, com precisão, o potencial produtivo e reprodutivo dos animais. Essa abordagem também permite selecionar características associadas à saúde, longevidade e eficiência alimentar, aspectos cada vez mais valorizados pelos produtores e consumidores.
Impacto global e novos horizontes
Os resultados foram imediatos. Nos Estados Unidos, os ganhos anuais de produtividade aumentaram significativamente, enquanto o intervalo entre gerações encurtou. O modelo americano inspirou países da Europa, América Latina e Oceania, que passaram a adotar sistemas de avaliação semelhantes, consolidando uma rede global de melhoramento genético baseada em genômica.
A disseminação dessa tecnologia vem impulsionando também o comércio internacional de material genético. Doses de sêmen e embriões de touros genotipados circulam hoje em escala mundial, alimentando um mercado que movimenta bilhões de dólares por ano.
A genômica tornou-se, assim, um elemento estratégico para o reposicionamento competitivo das cadeias leiteiras. Em um cenário de margens apertadas e demanda crescente por sustentabilidade, a seleção genética baseada em DNA oferece respostas rápidas e precisas.
O futuro do melhoramento
O avanço da genômica também abre espaço para novas fronteiras, como a integração com inteligência artificial e big data. A combinação dessas tecnologias promete prever, com ainda mais exatidão, o desempenho dos animais sob diferentes condições ambientais e sistemas de manejo.
Para Dürr, o futuro do melhoramento genético será cada vez mais baseado em dados integrados. “A genética deixou de ser apenas uma questão de pedigree e passou a ser ciência aplicada em tempo real. A genômica nos permite tomar decisões mais rápidas, mais precisas e mais rentáveis”, afirma.
Com essa nova abordagem, o setor leiteiro mundial entra em uma era marcada pela eficiência, precisão e sustentabilidade. A revolução genômica não apenas redefine o futuro do melhoramento genético bovino — redefine o próprio conceito de produtividade no leite.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Feed & Food






