Em um ano de alta de preços e de custos controlados, a produção de leite das 100 maiores fazendas do segmento no Brasil cresceu quatro vezes mais que a média nacional em 2024, segundo levantamento feito pela Milkpoint em parceria com a Associação Brasileira de Produtores de Leite (Abraleite).
A produção média dessas fazendas ficou em 32,6 mil litros de leite por dia em 2024, um aumento anual de 13,3%, e o maior crescimento dos últimos 20 anos. A produção média nacional é estimada em cerca de 541 litros diários pela Abraleite.
“Esses 100 maiores produtores são a ponta de um iceberg, com condições de domínio de tecnologia e gestão que lhes permitem escalar o sistema de produção deles”, observa o diretor-presidente da MilkPoint Ventures, Marcelo Pereira de Carvalho.
Somadas as 100 fazendas registraram uma produção de 1,2 bilhão de litros de leite em 2024, um crescimento de 13% em relação ao ano anterior.
No mesmo período, a produção nacional inspecionada registrou aumento de 3,1%, para 25,38 bilhões de litros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“O ano de 2024 foi um bom ano, e quando isso acontece o produtor busca aproveitar ao máximo esses momentos”, observa Carvalho.
Foi o caso da Melkstad Agropecuária, de Carambeí (PR). Com 2,2 mil vacas em lactação, a empresa registrou aumento de cerca de 12% na produção no último ano e aproveitou o momento favorável para fazer melhorias na infraestrutura da fazenda, visando automatizar e padronizar processos.
“Fizemos adequações na ordenha para facilitar o dia a dia do deslocamento dos animais, para que tenham menos tempo caminhando e mais tempo descansando”, conta o sócio diretor da Melkstad, Diogo Vriesman. Ele estima que tenham sido investidos cerca de R$ 200 mil ao mês ao longo do ano passado.
Ao todo, a Melkstad comercializou 34,7 milhões de litros de leite em 2024, figurando em segundo lugar no ranking da Milkpoint. O resultado é atribuído por Vriesman à gestão de pessoas da fazenda, hoje com 140 funcionários.
“Para produzir leite, nós dependemos das pessoas. A produção é uma consequência de diferentes fatores que acontecem da forma correta”, afirma Diogo Vriesman. A estratégia, adotada desde 2023, tem permitido à Melkstad crescer em volume de leite sem expandir seu rebanho.
Na avaliação de Carvalho, o crescimento registrado pelas 100 maiores fazendas de leite do Brasil evidencia o processo de concentração da produção nacional. Dos cerca de 600 mil produtores identificados pelo IBGE em seu último censo agropecuário, em 2017, a Milkpoint estima que apenas 230 mil continuem na atividade atualmente.
Para os 100 maiores produtores de leite do país, o cenário é diferente. Segundo Carvalho, eles gozam de maior estabilidade de mercado, com 65% tendo relatado melhora de rentabilidade no último ano.
Os resultados dessas fazendas, ele afirma, são um indicativo do potencial da produção de leite no Brasil. “Nós temos a tecnologia, mas um problema de acesso e de como fazer e, eventualmente, um problema e gestão. O desafio é fazer com que mais produtores participem desse futuro”, estima.