Girolando foi a palavra que moveu especialistas, produtores, pesquisadores e líderes do setor no 3º Congresso Internacional de Girolando, realizado entre 12 e 14 de novembro, em Uberlândia, Minas Gerais.
O encontro reuniu 650 participantes de sete países — Brasil, Bolívia, Colômbia, Estados Unidos, Honduras, Panamá e Sudão — e colocou em evidência o ritmo acelerado de inovação que hoje transforma a pecuária leiteira no Brasil. A organização ficou a cargo da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, em parceria com Sebrae, Fundo de Investimento do Programa de Melhoramento Genético de Girolando e Abraleite.
Com foco central na aplicação de ciência e tecnologia ao campo, o congresso destacou como inteligência artificial, robótica, genômica e bem-estar animal estão remodelando o desempenho da raça. Pesquisadores convidados reforçaram que a fronteira da inovação deixou de ser futurismo e já faz parte da rotina de muitas propriedades leiteiras que buscam eficiência e sustentabilidade.
Entre as palestras que mais chamaram atenção, estiveram as análises do pesquisador Guilherme Rosa, da Universidade de Wisconsin. De acordo com ele, estudos conduzidos nos Estados Unidos confirmam o uso da inteligência artificial como ferramenta estratégica para elevar a produtividade.
Modelos algorítmicos são capazes de interpretar imagens e identificar, com precisão crescente, animais com problemas de saúde, variações de desempenho e características desejáveis para seleção. Segundo Rosa, a IA também contribui para decisões rápidas sobre manejo, nutrição e reprodução, reduzindo custos e perdas.
Outro destaque foi o avanço da robótica nas fazendas leiteiras. As tecnologias apresentadas reforçaram que sistemas automatizados já ajudam a otimizar a ordenha e a reduzir a dependência de mão de obra, um dos principais gargalos do setor. Em propriedades que adotam o processo, a consistência nos intervalos de ordenha e a redução de estresse nos animais têm sido apontadas como ganhos adicionais.
A evolução genética da raça Girolando, tema recorrente nos debates, ganhou espaço especial com a apresentação de dados que surpreenderam até criadores experientes: nos últimos 20 anos, a produção média de leite dobrou, enquanto as emissões de metano recuaram 40%.
Esses resultados ampliam o papel da Girolando na pecuária tropical e reforçam a relevância da raça em sistemas sustentáveis. O pesquisador Marcos Vinicius Barbosa da Silva, da Embrapa Gado de Leite, lembrou que a seleção genética deixou de depender exclusivamente do nascimento dos animais. Com o avanço da genômica, é possível avaliar embriões antes mesmo da implantação, acelerando programas de melhoramento.
O congresso também abriu espaço para produtores que já colocam essas tecnologias em prática. A Fazenda Santa Luzia, de Passos (MG) — uma das maiores produtoras de leite do país e pioneira em biosseguridade e bem-estar animal — foi citada como um dos modelos de referência.
Seu gestor, o criador de Girolando Maurício Silveira Coelho, apresentou boas práticas que integram conforto, sustentabilidade e eficiência operacional. Para ele, o futuro da produção leiteira passa, necessariamente, por sistemas que respeitem o comportamento natural dos animais. “O bem-estar animal é um conceito indissociável do futuro da produção leiteira”, destacou.
Além do eixo técnico, o evento reservou espaço para reconhecer pesquisas científicas que ampliam a compreensão sobre a raça. Mais de 40 trabalhos concorreram às premiações, mostrando variedade temática e profundidade de análise. O primeiro lugar ficou com Vitor Augusto Nunes, que estudou os efeitos da intensidade do ciclo reprodutivo em protocolos de IATF.
Em segundo, Fabrício Pilonetto apresentou investigação sobre a relação entre genoma e sistema mamário de vacas Girolando. O terceiro colocado foi Joseph Kaled Grajales-Cedeño, com pesquisa sobre comportamento, reatividade e seus impactos na produção e qualidade do leite em primíparas. As premiações foram de R$ 5 mil, R$ 3 mil e R$ 2 mil.
Encerrando o congresso, pesquisadores e líderes reforçaram que o avanço da Girolando fortalece o posicionamento internacional do Brasil no mercado global de lácteos. A presença de participantes de sete países foi vista como sinal claro do interesse crescente pela genética e pelo modelo produtivo brasileiro, tema que deve seguir ganhando força nas próximas edições do evento.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Feed & Food





