ESPMEXENGBRAIND
7 out 2025
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A gripe aviária H5N1 e novas tarifas impostas pelos EUA colocam em risco as exportações e a produção artesanal dos tradicionais queijos suíços. 🇨🇭
🇨🇭 Vírus H5N1 e tarifas dos EUA ameaçam exportações e tradição suíça. Queijos suíços
🇨🇭 Vírus H5N1 e tarifas dos EUA ameaçam exportações e tradição suíça.

A produção de queijos suíços enfrenta um duplo desafio que ameaça tanto sua tradição quanto sua rentabilidade:

O avanço da gripe aviária H5N1 no gado leiteiro dos Estados Unidos e a imposição de tarifas de importação de 39% pelos EUA, anunciadas em agosto de 2025. O cenário acende um alerta em um dos setores mais emblemáticos da economia suíça, que só recentemente começava a se recuperar após dois anos de resultados modestos.

Risco sanitário e tradição ameaçada

A Suíça, reconhecida mundialmente por queijos como Raclette, Gruyère, Emmentaler e Vacherin, mantém viva uma tradição centenária de produção com leite cru, não pasteurizado. Esse método, responsável pelo sabor e textura únicos dos queijos suíços, agora é motivo de preocupação diante das evidências de que o vírus H5N1 pode sobreviver em produtos lácteos produzidos com leite não pasteurizado.

Estudos recentes do Instituto de Pesquisa Agrícola Agroscope e do Instituto de Virologia e Imunologia (IVI), publicados em junho de 2025, mostraram que o vírus H5N1 pode resistir ao processo de fabricação do queijo se a temperatura de produção permanecer abaixo de 50 °C. Em queijos duros, como o Gruyère, o aquecimento chega a 57 °C — o que reduz os riscos —, mas nos tipos mais macios, como o Raclette, a temperatura raramente ultrapassa 42 °C, o que potencializa a sobrevivência do vírus.

A experiência norte-americana acende o alerta

A preocupação suíça cresceu após o surto de gripe aviária em bovinos leiteiros nos Estados Unidos, confirmado em março de 2024. Em poucos meses, mais de mil rebanhos foram afetados em 17 estados, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Até julho de 2025, 41 trabalhadores do setor leiteiro norte-americano haviam sido infectados após contato com vacas doentes.

Nos Estados Unidos, testes realizados pela Agência de Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) mostraram que o vírus pode permanecer ativo em queijos de leite cru envelhecidos se o pH for elevado. Pesquisadores da Universidade Cornell reforçaram a necessidade de medidas adicionais de segurança na produção de queijos para evitar riscos à saúde pública.

Na Suíça, ainda não há casos de H5N1 em vacas leiteiras, mas o governo monitora de perto. Segundo Barbara Wieland, diretora do IVI, “a probabilidade de infecção é mínima neste momento, mas a vigilância é essencial, especialmente se houver surtos em granjas de aves próximas a rebanhos bovinos”.

O país dispõe de uma vantagem importante: um sistema de controle de qualidade do leite altamente estruturado, com testes quinzenais em todas as propriedades produtoras. Esse monitoramento poderia ser ampliado rapidamente para incluir a detecção de H5N1, caso necessário.

Impacto econômico e comercial

Enquanto os riscos sanitários mantêm o setor em alerta, outro golpe veio do campo econômico. O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de uma tarifa de 39% sobre produtos suíços — em vigor desde 7 de agosto — ameaça minar a recuperação das exportações.

Em 2024, as vendas externas de queijo suíço cresceram 5,3% em valor em relação a 2023, alcançando 748,5 milhões de francos suíços (cerca de 929 milhões de dólares). Porém, os EUA representam 11% das exportações totais, chegando a um terço no caso do Gruyère, um dos mais icônicos produtos do país.

A combinação entre ameaça sanitária e barreiras comerciais cria um cenário de incerteza para produtores e cooperativas. A organização Switzerland Cheese Marketing, que representa o setor, pede cautela: “Estamos acompanhando de perto os estudos e mantendo diálogo constante com autoridades e institutos de pesquisa. O consumo de queijo suíço – inclusive o de leite cru – continua seguro”, afirma a porta-voz Desiree Stoker.

O peso da tradição e o desafio da modernidade

O sistema suíço de produção de queijos é um patrimônio cultural e econômico. As receitas artesanais, transmitidas de geração em geração, definem a identidade rural do país. Mas a necessidade de garantir segurança alimentar e competitividade internacional coloca os produtores diante de um dilema: adaptar-se a novas exigências sanitárias sem perder a essência do produto.

A gripe H5N1 e as tarifas impostas pelos EUA ilustram um choque entre tradição e globalização. Enquanto o vírus ameaça a base artesanal da produção, as tarifas desafiam a competitividade no mercado internacional. A indústria suíça busca equilibrar esses fatores sem abrir mão da qualidade que tornou seus queijos uma referência mundial.

Para um setor que gera milhões em exportações e sustenta milhares de famílias no campo, qualquer surto — biológico ou político — pode ter efeitos duradouros. A Suíça aposta em sua estrutura de controle, em ciência e em diplomacia comercial para preservar o que é, há séculos, um de seus maiores símbolos: o sabor autêntico dos queijos suíços.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de SWI swissinfo.ch

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