Higienizantes naturais desenvolvidos por pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) começam a ganhar destaque na cadeia leiteira paranaense e despontam como uma alternativa sustentável, eficiente e segura para o processo de ordenha. As soluções, desenvolvidas pelo Grupo de Estudos em Qualidade de Alimentos, prometem reduzir contaminações, evitar resíduos no leite e reforçar o controle de bactérias resistentes — desafios que há anos preocupam produtores, indústria e autoridades sanitárias.
A iniciativa é coordenada pela professora Magali Soares dos Santos Pozza, do Departamento de Zootecnia da UEM, especialista em qualidade microbiológica de alimentos de origem animal. A pesquisadora, que há mais de duas décadas estuda a relação entre leite, derivados e saúde humana, afirma que garantir higiene e manejo adequados na fazenda é determinante para a segurança e a produtividade. Segundo ela, mesmo com avanços nos sistemas de ordenha, a contaminação ainda é um ponto crítico para a qualidade da matéria-prima.
Magali explica que os higienizantes naturais surgiram da necessidade de oferecer alternativas que não deixem resíduos e não favoreçam a resistência bacteriana — um problema crescente, que preocupa pesquisadores do mundo todo. Ela destaca que, em muitos casos, produtos convencionais usados na limpeza de tetos, tubulações e tanques podem apresentar limitações, seja pelo risco de resíduos, seja pelo impacto ambiental. “Buscamos formulações seguras e funcionais, capazes de proteger o leite sem comprometer o meio ambiente ou a saúde do consumidor”, relata a professora.
As novas soluções passam inicialmente por testes laboratoriais e, posteriormente, por experimentos com o rebanho da Fazenda Experimental de Iguatemi (FEI/UEM). O objetivo é avaliar desempenho, eficácia e compatibilidade com as rotinas da produção. De acordo com Magali, os resultados têm se mostrado promissores: além de reduzir a carga microbiana, os higienizantes se mostraram eficientes contra cepas resistentes, inclusive aquelas que podem sobreviver ao processo de pasteurização.
Os pesquisadores destacam que a adoção de higienizantes naturais atende a uma demanda crescente por segurança alimentar e por práticas mais sustentáveis. Em um cenário em que consumidores exigem transparência e qualidade, soluções que minimizem o uso de químicos e preservem a integridade do leite ganham cada vez mais relevância. A indústria também se beneficia: com menos contaminação, reduzem-se perdas, retrabalhos e custos associados a desvios de qualidade.
O trabalho do grupo vai além da higienização. A equipe colabora com pequenos produtores, cooperativas e laticínios da região, realizando diagnósticos de qualidade, análise de amostras e recomendações de boas práticas. Essa interação fortalece a eficiência dos processos, melhora a conformidade legal e auxilia na tomada de decisão, especialmente em propriedades que enfrentam desafios estruturais ou operacionais.
Outra frente de atuação envolve o desenvolvimento de novos derivados lácteos, como queijos e iogurtes aprimorados. Entre os estudos em andamento estão revestimentos naturais para queijos e filmes com compostos bioativos, capazes de melhorar textura, maturação, sabor e valor nutricional. Essas tecnologias, embora não diretamente ligadas à higienização da ordenha, compõem o mesmo objetivo central: agregar valor ao leite e fortalecer a competitividade da região.
No âmbito regulatório, os pesquisadores ressaltam que a segurança do leite depende não apenas de boas práticas na ordenha, mas também dos processos térmicos aplicados posteriormente. Magali observa que leites UHT e pasteurizados passam por aquecimentos rápidos que preservam nutrientes e reduzem riscos, enquanto o leite cru, sem tratamento térmico, exige cuidados rigorosos na produção. Para a pesquisadora, independentemente da categoria, o fator decisivo é a procedência e a higiene.
Os higienizantes naturais desenvolvidos pela UEM representam, segundo Magali, um avanço estratégico para o setor leiteiro. Eles ajudam a enfrentar desafios microbiológicos, reduzem dependência de produtos convencionais e ampliam a sustentabilidade das operações. Além disso, oferecem ao consumidor um leite mais seguro, alinhado às exigências atuais de qualidade e rastreabilidade.
Com foco contínuo em inovação tecnológica e segurança microbiológica, os pesquisadores reforçam que o objetivo é disponibilizar soluções acessíveis e aplicáveis à realidade da produção nacional. “Nosso compromisso é entregar ciência que transforme o dia a dia do produtor e que fortaleça toda a cadeia”, resume a professora.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Portal da Cidade Canção






