Um mercado que tem como foco principal a produção de leite, como seria possível aumentar a renda com a venda de animais para corte? Confira abaixo!
Foto: Personal PEC

A produção de leite no Brasil já ranqueia entre os três maiores produtores mundiais, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. Isso mostra a força e importância deste setor para a economia nacional. Diante disso, a busca por melhorias dentro da porteira, visando a manutenção das empresas no setor, acaba passando pelo pilar da reprodução. Afinal, qual é o impacto do uso de sêmen de de corte em vacas de leite?

O momento de preços altos do boi e da carne, trouxe a discussão sobre as vantagens e desvantagens do uso dessa estratégia em rebanhos leiteiros. Com preços tão atrativos, qual a melhor decisão a tomar?

Trazemos alguns pontos abaixo para auxiliar os produtores nessa dessa decisão. Também contribuições de um recém trabalho realizado pelo Dr. Victor Cabrera da Universidade de Wisconsin.

A rentabilidade da utilização do sêmen bovino é influenciada principalmente por:

  1. Preço do mercado de carne bovina;
  2. Desempenho reprodutivo;
  3. Estratégias de combinação de sêmen.

1. Preço do mercado

O primeiro aspecto é entendermos os principais influenciadores para a utilização dessa estratégia. O comportamento do produtor na decisão de implementar o sêmen de corte está ligado a decisão de curto a médio prazo com a percepção de bons preços do mercado atual.

Os preços estabilizados por contrato, ou cotas de produção, influenciam na decisão do produtor que busca a maximização das margens do negócio. Verificamos que em países em que as margens estão estipuladas através de práticas de cotas de produção de leite, o uso de sêmen de corte podem chegar a 50% 4.

Em países como Alemanha, Holanda, França e Itália, cerca de 20% de todas as IA em vacas leiteiras são realizadas com sêmen de touros de corte. A perspectiva é que esses números aumentem para 30% num futuro próximo. A Suíça já se aproxima de 50% de todas as IA.

No caso de uma relação direta entre preços de leite e carne, o mercado teria uma relação inversa aos preços de leite. Ocorreria da seguinte forma: no ponto de alta do leite, menores preços de bezerros e da arroba do boi. Porém, como as relações possuem dimensões e tempos diferentes, não é visível essa razão. Por esse motivo podemos adotar estratégias paralelas entre os dois mercados.

A melhor opção para o produtor seria buscar uma estratégia para o rebanho que abrangem tanto o mercado de leite e o de carne, sendo a diminuição dos custos médios em dois produtos e criando uma melhor rentabilidade.

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2. Desempenho reprodutivo

Podemos afirmar que existe antagonismo entre produção de leite e desempenho reprodutivo, e o aumento na produção de leite tem sido responsabilizado pela queda no desempenho reprodutivo

No entanto, fatores como produção de leite, escore de condição corporal, saúde no pós-parto, raça, ordem de parto, dias em lactação, regime alimentar e sazonalidade têm efeitos consideráveis na eficiência reprodutiva da vaca leiteira.

O problema da redução na eficiência reprodutiva é provavelmente uma combinação de vários fatores fisiológicos e de manejo.

Estudos demonstraram que há redução de aproximadamente 1 mês no intervalo entre partos (IEP) de animais que recebem a IATF (inseminação artificial em tempo fixo) quando comparados com animais submetidos aos sistemas tradicionais de detecção de cio ou monta natural 5,9–13. Com esta redução do IEP, tem-se aumento de 10% da produção anual de leite da propriedade.

Considerando que 3,1 milhões de vacas de leite são submetidas a IATF, com produção estimada de 3.000 litros por lactação, avalia-se um incremento de 917 milhões de litros de leite por ano, com faturamento adicional de 1,3 bilhões de renda adicional por ano.

Em regiões de clima tropical e subtropical, o estresse térmico é uma das principais causas da queda na fertilidade de vacas leiteiras 6. Estudos sobre a sazonalidade de produção, que buscam entender os efeitos e isolar questões de estresse térmico dos aspectos fisiológicos do animal apontam que o efeito do verão é mais importante no início da lactação, ou seja, para vacas que parem no verão, o período de inseminação inicial ocorre no verão, mas posteriormente elas serão inseminadas no outono e no inverno. Para as vacas que parem no inverno e na primavera, o período de inseminação ocorre, em grande parte, nas estações quentes do ano 6,14,15.

3. Estratégia de combinação de sêmen

Em 2018, os produtores de leite dos EUA adquiriram mais de meio milhão de testes genômicos para saber o potencial genético de suas bezerras. Com isto, os produtores de leite planejam as necessidades futuras de reposição dos seus rebanhos e inseminam seus animais de baixo potencial genético – tanto vacas quanto novilhas – com sêmen de leite convencional ou sêmen de corte, para gerenciar melhor os animais de reposição.

Existem duas razões principais para querer mais novilhas: expansão do rebanho e venda de novilhas. Uma terceira razão pode ser econômica, ser capaz de criar substitutos a um custo menor do que os comprar. Vender mais novilhas de substituição como uma razão para usar o sêmen sexado traz consigo um risco financeiro. O problema é que outras podem ter a mesma ideia, resultando em um excesso de novilhas no mercado.

É óbvio que o uso de sêmen sexado pode facilmente resultar em altas e baixas nos preços das novilhas. O sêmen sexado é rotineiramente usado via IA por criadores de gado puro para acasalamentos específicos de alto valor. Faz muito sentido economicamente porque o uso de receptoras não é desperdiçado com a produção de bezerros machos.

Embora com escopo limitado, usar sexado de macho para produção comercial de cruzamento para produção de gado de corte ainda não possui muitos estudos de longo prazo e seus impactos sobre a produção de mercado, parece ser um caminho viável. Uso de sêmen sexado em novilhas leiteiras e uso de sêmen de corte em vacas mais velhas para produção de animais para corte.

Um problema é a fertilidade mais baixa e o custo extra do sêmen sexado, aproximadamente o dobro do sêmen não sexado dos mesmos animais, o que pode ser um fator não econômico. Nesse caso, teremos a produção de fêmeas cruzadas para o abate.

Com esse cenário teríamos inúmeras possibilidades entre elas: Sêmen sexado de fêmeas leiteiras para novilhas e Sêmen sexado de machos de corte para as vacas mais velhas. Nos parece ser o melhor dos mundos no que dizemos de sustentabilidade ambiental, bem-estar animal e destinação biológica com o máximo aproveitamento de insumos para a produção. Porém, nos parece que economicamente essa estratégia está dependente de preços de mercado e inviável no momento.

 

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