A importação brasileira de soro de leite e manteiga provenientes de países fora do Mercosul percorreu um ciclo marcado por oscilações intensas entre 2022 e 2025, segundo levantamento elaborado a partir de dados do Comex Stat.
Embora o movimento agregado indique retração no período, a recomposição verificada em 2025 redesenha fluxos, fornecedores e preços, especialmente no segmento do soro de leite, que responde pela maior parte das compras externas.
A análise considera dois produtos classificados nos códigos NCM 4041000 (soro de leite, modificado ou não, concentrado ou adicionado de açúcar ou outros edulcorantes) e NCM 4051000 (manteiga). Outros itens presentes na base — como leite UHT, leitelho, derivados fermentados, óleo butírico ou pastas lácteas — foram desconsiderados por apresentarem volumes nulos ou marginais no intervalo estudado. Também foi excluída a farinha NCM 3099000, por não se tratar de um produto lácteo.
Os dados mostram que a importação desse grupo já era relevante em 2022 e registra, de lá até 2025, um recuo acumulado próximo de 15% em volume total. De 2022 para 2023, as compras mantiveram relativa estabilidade, com leve queda. Em 2024, porém, o movimento se intensificou: houve um recuo expressivo, acompanhando um ambiente de preços mais altos e demanda doméstica moderada. A virada ocorre em 2025, quando o volume volta a crescer mais de 150% em relação ao ano anterior, recuperando boa parte do terreno perdido e aproximando-se, ainda que ligeiramente abaixo, do patamar de 2022.
Em valor (US$ CIF), a trajetória é ainda mais volátil. As importações avançam em torno de 25% entre 2022 e 2023, caem cerca de 50% de 2023 para 2024 e voltam a subir mais de 100% no comparativo entre 2024 e 2025. No consolidado do período, a alta acumulada se aproxima de 20%, mostrando uma combinação de reorganização de preços internacionais e mudanças no mix de origem dos produtos comprados pelo Brasil. Nesse intervalo, os preços médios sobem continuamente de 2022 a 2024, mas cedem em 2025, embora se mantenham acima da base inicial.
Dentro do conjunto analisado, o soro de leite se confirma como o protagonista: responde por pouco mais de 80% de todo o volume importado fora do Mercosul. Já a manteiga concentra aproximadamente 20%. Segundo especialistas consultados por eDairyNews Brasil, essa composição reflete tanto a necessidade da indústria brasileira por proteínas lácteas funcionais quanto a competitividade internacional do soro produzido nas principais economias exportadoras.
A França aparece de forma destacada como o maior fornecedor do grupo de produtos no período avaliado. Irlanda, Chile e Estados Unidos completam o bloco de maior peso no abastecimento do mercado brasileiro, com volumes consistentes e participação relevante. Outros países figuram apenas de modo residual, reforçando a concentração de origem e a dependência brasileira de poucos players globais nesse segmento.
O lado logístico da importação também chama atenção. São Paulo (SP) lidera como principal estado de desembaraço aduaneiro, seguido por Santa Catarina (SC), Paraná (PR) e Rondônia (RO). Rio Grande do Sul (RS) e Bahia (BA) aparecem na sequência, com menor participação, mas ainda relevantes no mapeamento dos fluxos. Os dados mostram uma forte relação entre origem e portas de entrada: soro francês e americano chegando majoritariamente pelos portos de São Paulo e Santa Catarina; manteiga francesa desembarcando, principalmente, no Paraná e em São Paulo.
As planilhas e gráficos originais do levantamento destacam esses movimentos por cores, sintetizando país de origem, estado de desembaraço, valores CIF e classificação NCM dos produtos. Apesar de os números de 2025 cobrirem apenas até outubro, a tendência de recomposição é consistente e deve seguir influenciando projeções para 2026, especialmente em um contexto de maior volatilidade dos preços internacionais dos lácteos.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Selectus – TerraViva®






