A indústria leiteira brasileira iniciou 2025 em terreno escorregadio. Com a valorização do real frente ao dólar, as importações de produtos lácteos dispararam no primeiro semestre e resultaram em um déficit comercial histórico.
Segundo dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), o saldo negativo da balança láctea chegou a 1,05 bilhão de litros, o pior desde o início da série histórica.
Entre janeiro e junho, o Brasil importou 1,08 bilhão de litros de lácteos, o maior volume desde 1997 e 0,21% superior ao mesmo período de 2024, conforme informações da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Na contramão, as exportações recuaram 35,86%, somando apenas 31,69 milhões de litros.
Dólar mais baixo, importação mais fácil
A queda do dólar, que barateou os produtos estrangeiros, é apontada pelo Imea como a principal causa desse desequilíbrio. Produtos lácteos oriundos de países vizinhos como Argentina e Uruguai — tradicionais fornecedores do mercado brasileiro — ficaram mais competitivos, abrindo espaço para sua entrada em larga escala.
Esse movimento pressiona fortemente os preços pagos ao produtor brasileiro, em um momento já delicado. No Sul do país, as adversidades climáticas afetaram diretamente a produção leiteira, reduzindo margens e aumentando a insegurança no campo.
Produtores em alerta
A enxurrada de leite importado gera um duplo impacto: afeta a rentabilidade dos produtores e desestimula a produção nacional.
Segundo analistas do setor, o cenário pode provocar desestruturação de cadeias produtivas locais, fechamento de pequenas propriedades e aumento da dependência externa em um alimento estratégico para a segurança alimentar.
Além disso, a diferença de custos de produção entre os países sul-americanos e o Brasil segue sendo um fator sensível.
A carga tributária, os custos logísticos e a burocracia interna seguem penalizando o produtor nacional frente aos concorrentes estrangeiros, que muitas vezes operam com subsídios estatais e menores exigências regulatórias.
Um problema cíclico que exige estratégia
Importações elevadas em momentos de câmbio favorável não são uma novidade no Brasil. Contudo, a ausência de políticas públicas eficazes de regulação e proteção do setor leiteiro agrava a situação.
O resultado é uma indústria nacional que oscila entre a abundância e o colapso, sem estabilidade suficiente para gerar renda, investir em inovação ou garantir abastecimento contínuo de qualidade.
Especialistas ouvidos pelo Imea defendem medidas emergenciais e estruturais: desde a aplicação de barreiras sanitárias e tarifárias mais rigorosas, até incentivos fiscais e linhas de crédito para que o produtor nacional consiga competir em igualdade de condições.
Caminhos para o segundo semestre
Se o câmbio continuar favorável à importação, o cenário para o restante de 2025 segue preocupante. A expectativa é de que o volume importado se mantenha alto, enquanto as exportações devem seguir em queda, principalmente diante da menor competitividade internacional dos lácteos brasileiros.
Nesse contexto, a articulação entre entidades de classe, governos estaduais e federais, e a cadeia produtiva como um todo será crucial para evitar um colapso ainda maior no setor. A sustentabilidade da produção nacional de leite está em jogo — e o tempo para reagir é agora.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Boca do Povo News