Os indicadores do leite divulgados no boletim de dezembro de 2025 desenham um retrato claro de um setor em processo de ajuste profundo, no qual o produtor segue sendo o elo mais pressionado da cadeia, enquanto o varejo apresenta comportamento defensivo e o comércio exterior mantém um desequilíbrio estrutural relevante.
De acordo com os indicadores do leite, o preço médio nacional pago ao produtor alcançou R$ 2,30 por litro em outubro de 2025, considerando o leite entregue no mês e pago no período subsequente. O valor representa uma queda de 5,8% em relação a setembro e uma retração ainda mais expressiva de 18,1% na comparação com outubro de 2024, evidenciando a perda de renda no campo ao longo do último ano.
A leitura dos técnicos responsáveis pelo levantamento aponta que a redução mensal reflete, sobretudo, o aumento da oferta em algumas bacias leiteiras, aliado a um consumo interno que segue fragilizado. Já a comparação anual escancara um movimento mais estrutural, associado à dificuldade de repasse de custos e à recomposição limitada de preços ao produtor.
Esse cenário se agrava quando analisada a relação de troca leite/mistura, um dos indicadores do leite mais sensíveis para a tomada de decisão nas fazendas. Em outubro, foram necessários 33,2 litros de leite para a aquisição de 60 kg de mistura (70% milho e 30% farelo de soja), sinalizando nova piora tanto em relação ao mês anterior quanto ao mesmo período de 2024. Na prática, isso significa menor capacidade de compra de insumos com a mesma produção de leite, comprimindo margens e ampliando o risco econômico da atividade.
No varejo, os indicadores do leite revelam um comportamento distinto. Em novembro de 2025, o preço médio da cesta de lácteos recuou 2,3% no mês e acumulou queda de 2,0% em 12 meses, desempenho inferior à inflação oficial medida pelo IPCA, que avançou 4,5% no mesmo intervalo. Esse dado indica que o consumidor final tem encontrado preços mais estáveis ou até menores, ainda que isso ocorra à custa de compressão de margens ao longo da cadeia.
Entre os produtos analisados, o leite UHT registrou a maior queda mensal, de 5,0%, seguido pelo leite condensado, com recuo de 1,9%. Iogurtes permaneceram estáveis, enquanto queijos, manteiga e leite em pó apresentaram reduções mais moderadas. A avaliação dos analistas é de que a indústria e o varejo têm atuado de forma cautelosa, ajustando preços para estimular o consumo em um ambiente de renda ainda pressionada.
No comércio exterior, os indicadores do leite mostram sinais mistos. As importações brasileiras de lácteos somaram 177 milhões de litros equivalentes em novembro, representando uma queda de 14,8% frente a outubro e de 13,2% na comparação anual. O leite em pó seguiu como o principal item importado, ainda que em volumes menores, refletindo preços internacionais mais baixos e ajuste da demanda interna.
As exportações, por sua vez, apresentaram crescimento. Em novembro, os embarques aumentaram 10,3% em relação ao mês anterior, alcançando 4,9 milhões de litros equivalentes, com alta de 2,2% frente a novembro de 2024. Apesar da melhora pontual, o desempenho exportador ainda é insuficiente para compensar o fluxo de importações acumulado ao longo do ano.
Como resultado, o saldo da balança comercial de lácteos em 2025 fechou com um déficit de US$ 870 milhões, equivalente a 1,927 bilhão de litros de leite em equivalente, segundo os indicadores do leite. O número reforça a dependência estrutural do Brasil do mercado externo para suprir parte do consumo interno, especialmente em derivados industriais.
No mercado internacional, os preços também cederam. Na primeira quinzena de dezembro de 2025, o leite em pó integral caiu 3,3%, sendo cotado a US$ 3.364 por tonelada, enquanto o leite em pó desnatado recuou 2,1%, para US$ 2.498 por tonelada. Essa trajetória contribui para limitar movimentos de alta no mercado doméstico.
Em síntese, os indicadores do leite de dezembro confirmam um setor em transição, no qual a sustentabilidade econômica do produtor segue no centro do debate. Com preços em queda, relação de troca desfavorável e um ambiente externo ainda desafiador, o equilíbrio da cadeia dependerá cada vez mais de eficiência produtiva, coordenação entre os elos e políticas que reduzam a volatilidade estrutural do mercado.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de CILEITE – Centro de Inteligencia do Leite






