ESPMEXENGBRAIND
6 nov 2025
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🏭 Com apoio de catadores e grandes marcas, Abia busca tornar a logística reversa um modelo efetivo de sustentabilidade.
🌎 Nova entidade quer recolher 32% das embalagens em 2026 e atingir 50% até 2040, com foco em economia circular.
🌎 Nova entidade quer recolher 32% das embalagens em 2026 e atingir 50% até 2040, com foco em economia circular.

Logística reversa se tornou a nova palavra de ordem na indústria brasileira de alimentos.

Às vésperas da COP30, que será realizada em Belém (PA), a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) anunciou a criação de um instituto próprio voltado à coleta e reciclagem de embalagens plásticas.

A iniciativa, que envolve gigantes como Nestlé, Arcor e Cargill, pretende recolher 32% das embalagens produzidas por suas associadas até o próximo ano e alcançar 50% até 2040.

A Abia, que representa um dos setores mais relevantes da economia nacional, aposta na economia circular como o caminho mais sólido para enfrentar o desafio da gestão de resíduos.

Segundo a entidade, o novo Instituto Abia de Logística Reversa será responsável por integrar ações de reciclagem, garantir a rastreabilidade dos materiais e ampliar a reintegração das embalagens pós-consumo ao ciclo produtivo.

Para implementar o programa, o Instituto firmou uma parceria com a Associação Nacional dos Catadores (Ancat), que reúne cerca de 6 mil trabalhadores em todo o país.

O objetivo é fortalecer cooperativas locais, investir em equipamentos e ampliar a infraestrutura de coleta e triagem — elementos essenciais para a efetividade da reciclagem.

“Nosso foco é promover um modelo de responsabilidade compartilhada, com transparência, auditoria independente e metas progressivas”, afirmou a direção da Abia em nota. A entidade garante que os resultados serão acompanhados por verificadores externos e publicados anualmente.

Apesar da adesão institucional e das metas ambiciosas, a proposta tem gerado debates. Especialistas reconhecem o avanço, mas lembram que reciclar ainda é uma etapa final do processo, e não uma solução isolada.

O desafio maior, segundo analistas do setor ambiental, é reduzir a origem do problema — a produção e o consumo de plásticos de uso único.

O Brasil é o maior poluidor plástico da América Latina e o oitavo no mundo, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Em 2023, o país gerou cerca de 7 milhões de toneladas de resíduos plásticos, dos quais 44% eram descartáveis. Desses, apenas 6 milhões de toneladas foram recicladas, um número muito abaixo do potencial estimado de 27 milhões.

A Abiplast, entidade que representa os fabricantes de plásticos, indica que o setor de alimentos e bebidas é responsável por cerca de 24% do consumo nacional.

Dentro desse cenário, companhias do setor lácteo, como a Nestlé, figuram entre as mais ativas na busca por alternativas sustentáveis, com o compromisso público de tornar 100% de suas embalagens recicláveis ou reutilizáveis.

Segundo o diretor da Ancat, Anderson Nassif, o apoio institucional da Abia é um passo relevante: “Estamos ampliando a capacitação e modernizando as cooperativas de catadores, que agora recebem apoio técnico e infraestrutura para aumentar a eficiência da coleta”.

Contudo, Nassif reconhece que ainda há desafios: a remuneração dos catadores depende da venda efetiva do material às recicladoras.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) prevê que fabricantes, importadores e comerciantes compartilhem a responsabilidade pela destinação correta das embalagens.

No Brasil, essa obrigação se traduz no sistema de compensação — empresas contratam entidades gestoras que garantem que uma quantidade equivalente ao material colocado no mercado seja reciclada. É esse o papel que o novo Instituto da Abia busca consolidar.

Nos bastidores, a iniciativa também tem um valor estratégico. O movimento ocorre em um momento em que o governo brasileiro discute sua posição no Tratado Global sobre Poluição Plástica da ONU, e a Abia, que integra o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, tem participado ativamente das negociações.

Para a associação, o foco na economia circular é uma forma de alinhar o setor industrial aos compromissos climáticos sem comprometer a competitividade das empresas.

A discussão é global. Segundo dados da OCDE, o mundo produziu em 2022 o dobro de lixo plástico do que duas décadas antes, e apenas 9% do total foi efetivamente reciclado. No ranking da poluição global, sete das dez empresas mais responsáveis por resíduos plásticos pertencem ao setor de alimentos e bebidas — incluindo Coca-Cola, PepsiCo e Nestlé.

A diferença entre o modelo brasileiro e o europeu, apontam especialistas, está no incentivo econômico. Em países como Alemanha, França e Suécia, os custos da gestão de resíduos são internalizados no preço do produto, o que motiva empresas a reduzir o uso de plástico e investir em design sustentável.

No Brasil, a logística reversa ainda depende da boa vontade corporativa e da parceria com cooperativas. O novo instituto da Abia tenta preencher essa lacuna, consolidando uma estrutura que equilibre metas ambientais e viabilidade econômica.

Para um setor que busca melhorar sua imagem pública e atender às exigências crescentes de consumidores e investidores, a iniciativa chega em boa hora. A expectativa agora é que a promessa da logística reversa se traduza em resultados concretos — e que a sustentabilidade deixe de ser apenas discurso para se tornar prática efetiva.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de RB

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