Um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgado nesta semana averiguou que o café da manhã do brasileiro acumula alta de 9,40% nos últimos 12 meses.
O índice é apenas 0,20% menor do que a inflação para o mesmo período no Brasil, que é de 9,60%.
O café em pó teve uma alta de 28,69% e o pão francês subiu 8,13%. Outros itens analisados também registraram alta: o queijo minas, por exemplo, subiu 12,70%, enquanto a margarina aumentou 24,30%.
Segundo a avaliação da FVG, a inflação do café da manhã só não pesou mais no bolso do consumidor porque o leite longa vida registrou uma variação de apenas 0,67%, freando a escalada dos outros produtos.
No estudo mais recente do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos do Pará, o café acumulou alta de 45,32% nos últimos dose meses.
O açúcar, 31,40%. Pesam também no bolso do paraense as inflações da manteiga (17,15%) do pão com alta (7,04%) e do leite (2,19%).
Ana Cristina Gouveia sabe bem o o que é isso. Ela comanda ao lado do irmão uma padaria que já está aberta há 35 anos na esquina da Mauriti com a Rua Nova, em Belém.
Ela conta que tudo subiu de preço e que os aumentos são constantes. Ana destaca ainda que o trigo sofre reajuste de 15 em 15 dias, o que ela considera um absurdo, pois faz com que os insumos de pães, pasteis e salgados aumentem.
“Não é só o aumento do preço, é a falta do produto. Um mês atrás tivemos um problema sério de massa folhada que não tinha em Belém para vender. Então, é complicado. O trigo é a matéria prima de tudo, dos pães, dos doces. Foi um aumento bem elevado”, afirma.
Ela conta que tem evitado repassar os aumentos para os clientes, o que reduziu a margem de lucro do estabelecimento.
Na opinião de Ana, os itens de café da manhã que ela vende são baratos considerando os preços dos insumos e de outros estabelecimentos – na padaria dela, é possível tomar um café preto com pão por quatro reais.
“Queremos manter nossa clientela. Precisamos priorizar um preço justo. É uma luta diária. Hoje vejo alguns insumos que quadruplicaram de preço e penso que a pandemia virou pretexto para faturar. Eu estava sem reajuste no preço do pão há quatro anos. Quando mudei o preço do quilo do pão e do pastel e outras coisas, coloquei um aviso para os clientes”, afirma Ana, que é conhecida nos arredores por sempre vender de tudo e pela qualidade dos produtos. Alguns deles, porém, abandonaram o cardápio por causa da escalada da inflação, como foi o caso do pastel de bacalhau.
Cléber Florenzano é empresário e passa na padaria da Ana pelo menos três vezes na semana para tomar café da manhã. É cliente dos antigos.
Ele afirma que os aumentos não foram tão expressivos e considera que ela mantém um preço que ele considera justo.
“Às vezes venho a tarde no lanche também. Venho porque aqui tudo é muito bom. Pastel fantástico, atendimento bom. Normalmente tomo café com leite, pão com ovo e pastel. É o que como sempre de manhã”, diz.
O funcionário público Jonathan Sena também é um dos clientes fixos da padaria de Ana. Ele gosta de iniciar o dia com uma tapioca, pão com queijo e café. Ele não liga muito para almoço, então faz questão de nunca pular o café da manhã reforçado.
“É bom demais tomar café da manhã, ainda mais aqui. Tanto que fica lotado. Acho que a questão dos preços aumentou por conta dessa crise que estamos vendo. Fica difícil segurar. Mas o maior aumento que vi foi de cinquenta centavos no máximo. Mas vale a pena”, conta.
O presidente Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Estado do Pará, André Carvalho, conta que o mercado ainda não se recuperou ao que era antes da pandemia.
“Todos os insumos estão caros, com nossos custos aumentando e nossa margem de lucro caindo. Vamos ver como ficarão as coisas em 2022. E não foi só o trigo que teve aumento pesado, os laticínios também, como manteiga e queijo, que impactaram muitas as padarias também. Tudo isso encarece o café da manhã”, afirma.
Para Matheus Peçanha, pesquisador da FGV responsável pelo estudo, os preços dos alimentos ainda devem se manter em patamar elevado, apesar de várias commodities alimentícias aparentarem ter superado a crise climática, a transmissão de preços desde o produtor de ração, passando pelo pecuarista até chegar ao consumidor final leva tempo, segundo ele.
“E uma nova tendência de alta no câmbio [do dólar] pode atrapalhar o preço do pãozinho”, avaliou o economista.