A inovação deixou de ser um diferencial competitivo e passou a ser um requisito básico para a sobrevivência da indústria global de alimentos e bebidas em 2025.
Em um ano marcado por conflitos comerciais, endurecimento regulatório, instabilidade climática e mudanças aceleradas no comportamento do consumidor, fabricantes de ingredientes e empresas do setor precisaram se adaptar rapidamente a um ambiente de negócios mais volátil e imprevisível.
Segundo a retrospectiva anual do Food Ingredients First, o período foi definido por uma combinação de pressão regulatória crescente e disrupções recorrentes nas cadeias de suprimentos. A busca por eficiência, transparência e sustentabilidade deixou de ser apenas estratégica e passou a ser operacional, afetando desde a formulação de produtos até investimentos em tecnologia e logística.
Logo no início do ano, o foco esteve nas proteínas alternativas e em novos modelos produtivos. Empresas globais, como a Cargill, destacaram o avanço de micoproteínas, fermentação de precisão e soluções de sabor como caminhos para tornar produtos plant-based mais acessíveis e competitivos em preço. Ao mesmo tempo, sinais regulatórios começaram a redefinir prioridades.
Em janeiro, a decisão da FDA de banir o corante sintético Red 3, após décadas de debate sobre riscos à saúde, enviou um recado claro ao mercado. Fabricantes tiveram prazos limitados para reformular produtos, acelerando investimentos em corantes naturais e clean label. Paralelamente, denúncias sobre o café kopi luwak reacenderam o debate sobre bem-estar animal e rastreabilidade, ampliando a pressão sobre marcas globais.
Fevereiro foi marcado por riscos comerciais. A expectativa de novas tarifas nos Estados Unidos levantou alertas sobre aumento de custos e revisão de preços e cardápios. Em feiras como ISM e ProSweets, o destaque foi a busca por alternativas a insumos críticos, incluindo chocolates sem cacau e ingredientes funcionais. No mesmo mês, a venda de uma participação da dsm-firmenich na Feed Enzymes Alliance por €1,5 bilhão sinalizou consolidação e revisão de portfólios no segmento de nutrição animal.
Em março, a União Europeia anunciou medidas retaliatórias contra os EUA, envolvendo €26 bilhões em produtos, incluindo aves e lácteos. O impacto sobre o comércio agroalimentar elevou a incerteza global. Eventos como a Natural Products Expo West reforçaram a politização do debate sobre alimentos ultraprocessados e agricultura industrial, enquanto ativistas europeus ampliaram a agenda regulatória ao defender o banimento da criação industrial de polvos.
Abril trouxe a digitalização das cadeias de suprimentos para o centro das discussões. O aumento de casos de fraude alimentar impulsionou a adoção de ferramentas digitais de controle e rastreabilidade. Nesse contexto, Nestlé e ofi anunciaram a maior parceria de agroflorestas de cacau do mundo, buscando reduzir riscos ambientais e estabilizar o fornecimento de longo prazo.
A reformulação ganhou força em maio. A transição para corantes naturais revelou desafios técnicos e financeiros, enquanto feiras como a IFFA confirmaram que carne cultivada, fermentação e clean label deixaram de ser apostas experimentais para se tornarem estratégias centrais.
Em junho, o setor lácteo mostrou sinais claros de reinvenção. A PLMA, em Amsterdã, destacou produtos híbridos, ingredientes funcionais e avanços em fermentação, com foco em redução de custos e maior vida útil. Ao mesmo tempo, testes com entregas por drones e a volatilidade dos cítricos evidenciaram o impacto do clima sobre logística e preços.
Julho reforçou a agenda de transparência. A Suíça passou a exigir rotulagem obrigatória informando procedimentos dolorosos em produtos de origem animal. Em paralelo, a inteligência artificial se consolidou como ferramenta-chave para acelerar P&D e análise de tendências.
Nos meses seguintes, proteínas, fusões e novos modelos agrícolas dominaram o noticiário. De hubs de inovação na Ásia a acordos globais de pesca sustentável, o setor avançou em meio a regras mais rígidas. Já no último trimestre, debates sobre ultraprocessados, medicamentos GLP-1 e mudanças estruturais na demanda redefiniram estratégias industriais.
Ao encerrar 2025, eventos como a Fi Europe mostraram que a volatilidade — especialmente no mercado de cacau — deixou de ser exceção e passou a ser a nova norma. A inovação, mais do que nunca, tornou-se a principal resposta da indústria a um cenário global estruturalmente instável.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Dairy News Today






