ESPMEXENGBRAIND
15 set 2025
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Importações recordes, produção em alta e demanda fraca: o mercado lácteo europeu vive um pesadelo que parece longe de acabar.
Do leite ao queijo, passando pela manteiga: o mercado lácteo europeu escorrega sem freios e ainda não encontrou o chão.
Do leite ao queijo, passando pela manteiga: o mercado lácteo europeu escorrega sem freios e ainda não encontrou o chão.

Mercado lácteo europeu em queda: a pergunta que ecoou no StoneX Dairy Risk Management Conference em Dublin foi direta: “Por que tanto pessimismo?”

A resposta, infelizmente, está nos números. Preços em baixa, importações recordes e produção inflada compõem um cenário em que, para muitos, a faca continua caindo — e ninguém quer ser o próximo a se cortar.

Na semana passada, o mercado lácteo estendeu sua sequência de perdas. O leite spot recuou para abaixo de €0,45, o SMC caiu bem abaixo de €2.000, e a nata despencou em direção a €6.400. Traders compararam o momento a uma típica semana de feriados: muito produto disponível e demanda praticamente inexistente.

Preços em queda livre

A manteiga mergulhou para a faixa de €5.450–€5.550, com contratos de Q4 já negociando abaixo dos de Q1. Queijos como Edam e Gouda rondaram €3.400, a muçarela recuou ainda mais e o cheddar britânico chegou a ser reportado a €3.850 FCA. Os pós não trouxeram alívio: o SMP deslizou para ofertas abaixo de €2.200.

Conforme destacou a equipe da StoneX durante o evento, o pessimismo não é gratuito. O balanço global de oferta e demanda mudou mais rápido do que o previsto. A leitura é simples: importações maiores, produção crescente e uma demanda que não acompanha o ritmo.

Importações: a surpresa nada agradável

Se havia dúvida sobre o peso das importações, os dados falaram por si. As compras de queijo pela União Europeia subiram mais de 30% no acumulado do ano, depois de já terem aumentado na mesma proporção em 2024.

Do lado das gorduras, o quadro é ainda mais dramático: até junho, a UE havia importado quase 27 mil toneladas de manteiga e AMF, muito perto do recorde de 2022. Somando os embarques dos EUA e da Nova Zelândia que ainda não entraram nas estatísticas oficiais, este ano pode terminar com 45 a 50 mil toneladas importadas.

Segundo a StoneX, até mesmo a entrada de manteiga ucraniana no Q4 é possível. O resultado é um excedente de gordura difícil de absorver. No caso do WMP, as importações da Nova Zelândia cresceram apoiadas pelo setor de chocolates, que aprovou novas origens e não pretende recuar.

Produção conservadora? Nem tanto

As estimativas oficiais falam em estabilidade na produção de leite no primeiro semestre — entre –0,5% e +0,5% sobre 2024. Mas a matemática dos derivados revela outra história: mais 40 mil toneladas de manteiga, 80 mil toneladas de queijo e 10 mil toneladas de SMP no mesmo período. Em outras palavras, todo o leite extra foi transformado em commodities.

Na Alemanha, dados da semana 39 mostram o padrão com clareza: 4% mais leite se converteram em 19% mais manteiga e 33% mais SMP. França, Irlanda e Polônia seguem trajetória parecida. Se o segundo semestre repetir o ritmo, estoques vão se inflar perigosamente.

Demanda global sem fôlego

Se antes as exportações eram a válvula de escape, agora não cumprem esse papel. O dólar fraco dá vantagem competitiva aos EUA, que vendem SMP, queijo e manteiga a preços imbatíveis. O CME registrou manteiga a US$1,86/lb — algo próximo de €3.500/t, bem abaixo dos níveis europeus. O cheddar americano gira em torno de €3.000/t, um abismo em relação ao produto europeu.

Enquanto isso, a Nova Zelândia também pressiona com preços mais baixos no GDT, que deve registrar novas quedas. A consequência é clara: o produto europeu perde espaço e precisa se ajustar, mesmo a contragosto.

Consumo interno: estável, no máximo

Dentro da UE, o consumo não salva. Promoções mantêm as vendas no varejo, mas o fôlego diminui. A manteiga, mais cara, já sente retração. Queijo ainda resiste, mas sem força para compensar. No foodservice, o recuo é evidente: consumidores gastam menos e restaurantes planejam estoques com cautela.

O setor de chocolates é exemplo da elasticidade: com preços quase dobrando nos últimos cinco anos, até o doce favorito começa a ser cortado do carrinho de compras.

A conta final

De acordo com a análise da StoneX, só em gorduras, o estoque europeu pode crescer 120 mil toneladas neste ano — somando produção extra e importações. Em queijo, o aumento é de quase 180 mil toneladas. Tudo isso num mercado que já é o mais caro do mundo.

Financiar estoques altos em tempos de juros elevados pesa duplamente: processadores precisam pagar ao produtor por um leite caro, mas vendem derivados cada vez mais baratos. Até o fim do ano, a pressão contábil para limpar balanços pode jogar os preços ainda mais para baixo.

O que mudaria o jogo?

Para virar a maré, seria preciso uma freada na produção — algo improvável no curto prazo. Outra possibilidade seria a UE voltar a ter preços mais competitivos que os EUA e a Nova Zelândia. Fora isso, só um “cisne negro” (doença animal, crise geopolítica ou choque logístico) poderia inverter o quadro.

Conclusão

Até lá, o mercado lácteo europeu segue escorregando. A faca continua caindo, e a questão não é se haverá mais quedas, mas quem está preparado para sobreviver ao impacto.

*Adaptado para eDairyNews, com informações de Get Fair Dairy

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