Poucos meses após concluir o seu processo de recuperação judicial, o laticínio São Vicente adotou estratégia para expandir suas operações que é semelhante àquela que causou uma pressão sobre endividamento há cinco anos: vender uma fatia da empresa a um fundo de private equity.
Desta vez, o novo sócio já possui operações no setor lácteo. Trata-se do grupo Persa Investments, proprietário da Só Leite Brasil (SLBR), empresa com 1,2 mil produtores ativos e captação de 11 milhões de litros de leite por mês. As empresas não revelam a participação adquirida nem o valor pago.
Com a operação, que incorpora as operações do SLBR, o processamento do São Vicente ultrapassará os 14 milhões de litros de leite por mês, enquanto o faturamento crescerá dos atuais R$ 230 milhões para cerca de R$ 600 milhões.
De acordo com o diretor financeiro do São Vicente, Jairo Silva, o investimento da Persa só foi aprovado pela companhia por se tratar do que chamou de “fundo de propósito”, com investimentos voltados para um upgrade do negócio, e não apenas para alavancagem e retorno financeiro.
“Eles entraram dentro da São Vicente como sócios, não como um investidor que daqui a pouco tem um plano de sair e vender a parte dele, como em outras ocasiões”, detalhou o executivo.
“Como o fundo fez um crescimento bastante acelerado, sem olhar a estrutura de capital que iria financiar aquele crescimento, houve uma explosão no endividamento da companhia”, detalhou Alysson Almeida, CEO e um dos sócios do São Vicente, à reportagem há um mês.
A expectativa é que a junção com a Só Leite Brasil permita ao São Vicente ampliar sua atuação no mercado de lácteos, hoje concentrada em queijos finos.
O primeiro passo em conjunto das duas companhias será investir em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. A ambição é virar o quinto maior laticínio do país.
A nova empresa, segundo Silva, ficará sob gestão do São Vicente, que passará de três para cinco unidades industriais, além de um posto de refrigeração.
Dentre os novos produtos a serem incluídos no portfólio estão desde leite UHT até bebidas proteinadas, cujas vendas no Brasil cresceram 44% em 2024, segundo dados da Nielsen.
“Essa junção e ampliação de mercado é um ponto forte porque as operações de laticínios são muito pulverizadas no Brasil.
Então existe uma grande oportunidade de mercado para uma empresa estruturada, com condições de gestão”, afirmou Silva.