Reproduzimos abaixo nota publicada pela Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental (LCP), em apoio a greve de pequenos e médios produtores de leite contra os laticínios monopolistas, que acontece em Rondônia.
Produtores de leite fecham parte da BR-364 durante protesto em Jaru/RO. Foto Resistência Camponesa
TODO APOIO AOS CAMPONESES EM GREVE CONTRA OS LATICÍNIOS MONOPOLISTAS
Nós da LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental manifestamos total apoio à combativa greve do leite que tem sacudido Rondônia desde março. É mais um sintoma da grave crise econômica, política e sanitária que enfrenta o nosso país e o mundo. Como em todas estas crises, o latifúndio e os grandes burgueses sempre tentam se livrar dos prejuízos, explorando ainda mais o povo trabalhador. Mas desta vez, está enfrentando uma massa combativa de camponeses.
A luta camponesa pelo preço justo para sua produção é parte integrante da luta dos camponeses pobres pela terra, da luta dos posseiros por regularização fundiária, da luta dos camponeses contra a perseguição do velho Estado com suas multas ambientais arbitrárias. Enfim é a luta de todos os camponeses contra a opressão e a economia arruinada que o imperialismo e o latifúndio lhes impõem, com apoio dos seus gerentes no velho Estado. Como o governador Marcos Rocha, marionete dos latifundiários, que mandou repressão pra cima dos grevistas, mais uma vez, porque afinal é só o que ele sabe fazer para resolver qualquer problema no estado. Mas, longe de parar a luta, isso só faz crescer a revolta dos trabalhadores.
Rebelar-se é justo!
Saudamos e apoiamos as paralisações feitas por pelo menos 70% dos produtores, na sua maioria pequenos e médios camponeses, que deixaram de entregar leite aos laticínios, causando enorme prejuízo aos grandes empresários que esfolam o couro dos camponeses. O que não é nada, comparado com os lucros fabulosos que os laticínios monopolistas têm, às custas da exploração dos camponeses, principalmente, mas também dos operários destas empresas. É o que todo camponês sabe bem: quando o laticínio está lucrando muito, sobem de centavo em centavo o valor pago pelo litro de leite, quando o lucro deles cai, derruba 60 centavos ou mais de uma só vez.
E sem nem avisar com antecedência, como foi agora em fevereiro – quando chegaram os cheques de pagamento de leite, os camponeses levaram um susto com o preço reduzido. Segundo entrevista no monopólio de imprensa, um camponês de Vale do Paraíso denunciou que o preço pago pelo litro de leite despencou de R$2,24 para R$1,20 e o laticínio ainda ameaçou baixar para R$0,80! Enquanto isso, o preço do leite e dos derivados vendidos nos mercados aumenta a cada dia.
Isto é um roubo descarado, ainda mais no momento atual em que os camponeses amargam inflação recorde no milho e soja (componentes da ração), adubos e corretivos pro solo, essenciais para a produção do leite, sem contar nos produtos para o sustento da família. Com o valor pago pelo laticínio, os camponeses estão pagando para trabalhar.
Em outra entrevista, um camponês relata “Uma bola de arame custava um ano e meio atrás R$350; hoje está custando R$900. Um saco de mineral, um ano atrás custava R$70; hoje está custando R$130. Tudo subiu, agora o leite nosso tem que baixar, sendo que o produtor é que abastece tudo?”
Por tudo isso, camponeses organizaram protestos combativos em várias partes de Rondônia. Em Machadinho D’Oeste e em Seringueiras, centenas produtores de leite fizeram protestos em frente a laticínios. Em Jaru, fecharam parcialmente a BR durante horas. Em União Bandeirantes, distrito de Porto Velho, camponeses fecharam estradas com pneus em chamas, tomaram um caminhão tanque carregado de leite, distribuíram o produto pro povo trabalhador e derramaram o restante.
Pequenos e médios camponeses do Mato Grosso também fizeram greve por vários dias.
Velho Estado: carrascos dos camponeses…
Em Machadinho D’Oeste, no protesto que reuniu produtores de leite também de Vale do Anari e Theobroma, policiais militares e da Força Tática já chegaram agredindo os manifestantes com golpes de cassetete, tiros de bala de borracha e spray de pimenta na cara dos manifestantes que estavam na porta do laticínio tentando uma reunião com representantes da empresa. É o velho Estado mostrando sua verdadeira face: protetor dos grandes burgueses, latifundiários e imperialistas.
Em vídeos divulgados na internet feitos pelos próprios moradores é possível ver várias denúncias carregadas de ódio de classe: “Esse cara aqui que jogou spray de pimenta na minha cara. Nós não somos bandidos, somos produtores de leite. Eu nunca nem encostei nele, eu abaixei a mão e a cabeça e ele meteu spray de pimenta.”
“Tem que chamar a polícia pra roubar nosso leite? A gente trabalha, trabalha e não tem direito a nada! Nosso direito é isso aqui: PM e Força Tática escoltando caminhão de leite.”
“A gente quer ser dono dos nossos direitos, estamos correndo atrás do nosso direito, do que é nosso. Se a polícia entendesse nosso lado não estaria de farda tendo que defender uma empresa privada. É o nosso suor que paga o salário de vocês pra defenderem empresa privada.”
… e capachos dos latifundiários
Os grandes empresários de laticínios mentem descaradamente dizendo que os camponeses produtores de leite são “seu maior patrimônio”, da mesma forma o velho Estado e politiqueiros de plantão fazem reuniões e propostas que não resolvem de nada, apenas de olho nos votos.
A única medida tomada pela Seagri – Secretaria de Agricultura de Rondônia foi definir um preço de referência a ser pago ao litro de leite: R$1,25! Um deboche contra os trabalhadores. Além do valor não suprir os gastos da produção é insignificante também porque os laticínios nem são obrigados a cumprir. Os camponeses não concordaram e continuaram a greve.
Economistas, analistas e comentaristas do monopólio de imprensa enchem a boca para defender o “Deus mercado”, argumentando que não tem como escaparmos da lei da oferta e da procura. O que eles escondem é que este mercado é o do monopólio imperialista que monopoliza toda riqueza e capital na mão de um punhado de endinheirados, onde nos tempos de crise e estiagem os grandes têm capital suficiente para sustentarem seus negócios e ainda açambarcarem os menores que quebram. Enquanto os pequenos e médios camponeses produzem sempre no limite de suas condições econômicas.
O tratamento que os gerentes de turno, estaduais e federal, deram ao pequeno e médio camponês nesta greve do leite – repressão, humilhação, deixar os trabalhadores à mercê de monopólios parasitas, manter a economia camponesa sempre arruinada – é bem diferente do que dão ao latifúndio: roubam terra pública e assassinam impunemente indígenas, camponeses e quilombolas; mesmo sendo a minoria do total de proprietários monopolizam a terra, os financiamentos com recurso público, a assistência técnica e a mecanização; recebem isenção de impostos e perdão de dívidas; tem as polícias, o judiciário e o monopólio de imprensa a seu serviço, passando a imagem de que são produtores, que carregam a economia do país nas costas, que representam o avanço.
Mas a verdade é outra, como bem disse um manifestante em Machadinho: “O dia que todos camponeses pararem de trabalhar todos morrem de fome.”
Nós da LCP manifestamos total apoio à greve combativa dos camponeses contra os laticínios monopolistas e conclamamos a todos trabalhadores e verdadeiros democratas a defenderem, apoiarem ativamente e se somarem a esta luta tão importante.
Unir camponeses sem terra, pequenos produtores, atingidos por barragens e mineração, indígenas e quilombolas pelo fim do latifúndio, contra a política de perseguição e massacre do povo do campo pelos governos dos latifundiários; terra para quem nela trabalha e demarcação JÁ das terras indígenas e quilombolas!
Viva a greve dos camponeses produtores de leite!
Abaixo a criminalização da luta por preço justo para a produção camponesa!
Lutar não é crime!
Que os ricos paguem pela crise!
Se o camponês não planta a cidade não almoça nem janta!
LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental
Produtores de leite fecham parte da BR-364 durante protesto em Jaru/RO. Foto Resistência Camponesa
Leite foi distribuído para a população e despejado na estrada em protesto. Foto Resistência Camponesa
Produtores de leite enfrentam péssimas estradas para escoar produção. Foto Resistência Camponesa