Preço do leite despenca no Brasil e a planilha aberta de um produtor rural ajuda a dimensionar, em números concretos, o impacto dessa queda sobre a base da cadeia leiteira. Em 2025, com aumento das importações, maior oferta interna e redução dos valores pagos pelos laticínios, a pergunta que ecoa nas pequenas propriedades já não é mais quanto crescer, mas se ainda vale a pena permanecer na atividade.
O alerta vem do campo. Em um relato recente, o produtor Wesley decidiu expor sua própria planilha de custos para mostrar como funciona a realidade de uma fazenda com 10 vacas leiteiras produzindo cerca de 6.000 litros de leite por mês. O resultado chama atenção: faturamento bruto aproximado de R$ 13.020, despesas mensais que se aproximam de R$ 8 mil e um lucro líquido pouco abaixo de R$ 5.000 para sustentar a família, manter a estrutura e reinvestir no rebanho.
Segundo o produtor, o cenário atual combina três pressões simultâneas. A primeira é a queda generalizada do valor pago pelo litro, reflexo direto do maior poder de barganha da indústria em um momento de oferta elevada. A segunda vem do próprio ciclo produtivo: a safra das águas, que melhora as pastagens, aumenta a produtividade e amplia o volume de leite disponível no mercado interno. A terceira pressão vem de fora: a importação de leite mais barato, especialmente do Uruguai, que reforça a concorrência no atacado.
Na prática, o preço do leite despenca no Brasil justamente quando muitos produtores esperavam algum alívio após o período mais caro da seca. Com pasto mais abundante e menor necessidade de silagem, a expectativa era de respirar financeiramente. No entanto, a redução do preço por litro anulou parte desse ganho operacional.
O sistema apresentado por Wesley não foge da realidade de milhares de pequenas e médias propriedades. São vacas com boa genética, manejo adequado e alimentação compatível com uma produção média de 20 litros por animal por dia. Esse desempenho resulta em cerca de 200 litros diários, volume considerado eficiente para um rebanho enxuto e bem conduzido.
Com o valor atual recebido na fazenda, a produção mensal garante pouco mais de R$ 13 mil de faturamento bruto. No papel, o número parece suficiente para cobrir despesas básicas, pagar aluguel ou financiamento da área, manter a família e ainda reservar algum capital para melhorias. No dia a dia, porém, a margem ficou estreita.
Entre os principais custos estão ração concentrada, suplementos minerais, manutenção de pastagens, energia elétrica, mão de obra, sanidade do rebanho e reposição de animais. Mesmo com controle rigoroso, qualquer oscilação — seja no preço dos insumos, seja em problemas sanitários — pode comprometer o resultado do mês.
O produtor destaca que o lucro de quase R$ 5 mil não representa sobra confortável. Trata-se de um valor que precisa cobrir tanto as necessidades da família quanto os investimentos mínimos para manter a atividade rodando. “Não é dinheiro parado. Tudo volta para a fazenda de alguma forma”, resume.
Esse cenário ajuda a explicar por que tantos produtores têm reduzido escala ou abandonado a atividade. Quando o preço do leite despenca no Brasil, o impacto é desproporcional sobre quem produz menos volume e tem menor capacidade de diluir custos fixos. Ao mesmo tempo, grandes sistemas mais intensivos conseguem atravessar o ciclo com mais fôlego.
Para analistas do setor, o quadro expõe uma fragilidade estrutural da cadeia leiteira nacional: a dependência excessiva de ciclos de preço e a baixa previsibilidade de renda no campo. Sem mecanismos mais eficientes de proteção, como contratos de longo prazo ou políticas de estabilização, o risco segue concentrado no produtor.
Enquanto isso, no chão da roça, a conta é simples e dura. Produzir bem já não basta. Com o preço do leite despenca no Brasil, eficiência virou questão de sobrevivência — e, para muitos, nem isso tem sido suficiente.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Click Petróleo e Gás






