O preço do leite tem registrado sucessivas quedas nos últimos meses, desafiando produtores em todo o Brasil.
Segundo dados de entidades do setor como o Conseleite, essa oscilação é parte dos ciclos naturais da pecuária leiteira, marcada por períodos alternados de alta e baixa. No entanto, em momentos de crise, a diferença entre quem sobrevive e quem sofre prejuízo está na gestão técnica e estratégica da propriedade.
Mais do que reagir com cortes apressados, os especialistas alertam que é preciso agir com inteligência e eficiência, evitando decisões que, embora pareçam econômicas, comprometem o desempenho e o futuro da atividade. A seguir, destacam-se quatro erros frequentes e as formas mais eficazes de enfrentá-los.
1. Reduzir alimentação sem critério técnico
Diminuir a ração de forma indiscriminada é um erro comum e perigoso. Embora a redução de custos pareça imediata, o impacto negativo na produção de leite é inevitável. Se a vaca produzir menos do que o valor economizado na ração, o prejuízo se amplia.
A recomendação é eliminar desperdícios, não nutrientes. Agrupar vacas conforme o estágio produtivo, ajustar a dieta e buscar ingredientes com melhor relação custo-benefício são medidas que preservam o desempenho e o equilíbrio financeiro da fazenda.
2. Tomar decisões sem base em números
A pecuária leiteira é uma empresa — e como tal, depende de dados para decisões assertivas. Ignorar indicadores técnicos e econômicos é um risco alto.
Segundo especialistas, informações como custo por litro, margem líquida, desempenho reprodutivo e taxa de descarte devem estar sempre disponíveis ao produtor. Decisões tomadas “no olhômetro” agravam perdas.
A gestão profissional, com acompanhamento contábil e zootécnico, é o caminho mais seguro para atravessar períodos de baixa.
3. Cortar recursos da recria e vacas secas
Em momentos de crise, bezerras, novilhas e vacas secas costumam ser as primeiras afetadas pelos cortes. Essa é uma das decisões mais prejudiciais para o futuro da fazenda.
A recria representa o amanhã do rebanho, e a qualidade do manejo nessa fase define o potencial produtivo das próximas lactações. O mesmo vale para o período seco, que prepara a vaca para o parto e para uma nova lactação saudável.
Antes de cortar insumos ou reduzir o manejo nessas categorias, é preferível avaliar o rebanho e descartar animais de baixo desempenho, preservando o núcleo produtivo e o futuro genético da propriedade.
4. Falta de planejamento nos períodos de alta
O comportamento cíclico do mercado exige planejamento não apenas na crise, mas também na bonança.
Quando o preço do leite sobe, alguns produtores aumentam gastos sem planejamento ou fazem investimentos impulsivos, comprometendo o caixa no longo prazo.
Formar reserva financeira e estruturar um plano de investimentos com base em rentabilidade projetada é essencial para manter a operação estável durante todo o ciclo.
Da crise à oportunidade
Para o setor, o atual momento de desvalorização pode — e deve — ser visto como uma oportunidade de profissionalização.
Revisar processos, ajustar custos, capacitar a equipe e investir em gestão técnica e financeira são ações que fortalecem a cadeia leiteira.
Produtores que conhecem seus números, valorizam a nutrição e o bem-estar animal, e planejam com prudência tendem a sair mais fortes e sustentáveis após o período de baixa.
A pecuária leiteira brasileira demonstra, há décadas, resiliência e capacidade de adaptação. Com decisões baseadas em dados e coordenação entre os elos da cadeia, o setor pode transformar a crise em um impulso rumo à eficiência e competitividade.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de OM






