O leite ainda ocupa um lugar ambíguo no prato das mulheres. Embora seja um alimento básico e acessível, cercam-no dúvidas e discursos contraditórios — ora visto como vilão da inflamação, ora exaltado como fonte essencial de cálcio. Entre crenças populares e evidências científicas, o que de fato é verdade?
A nutricionista Elaine de Pádua, mestre pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), esclarece que manter o leite na rotina alimentar “é uma escolha inteligente para quem busca equilíbrio e praticidade sem abrir mão da saúde”. Segundo ela, trata-se de um alimento versátil, que pode ser consumido puro, com café, em vitaminas ou incorporado a receitas do dia a dia.
A seguir, os principais mitos e verdades sobre o leite e a saúde feminina, explicados à luz da ciência e com uma dose de senso crítico — porque, quando o tema é alimentação, desinformação é o que não falta.
1️⃣ O leite previne osteoporose — Verdade
A perda de massa óssea é uma preocupação crescente, especialmente após a menopausa, quando os níveis de estrogênio caem e o risco de osteoporose aumenta. O leite é uma das principais fontes de cálcio biodisponível, além de fornecer proteínas e vitamina D — nutrientes que atuam juntos na formação e manutenção dos ossos.
Um copo de leite pode suprir cerca de 25% das necessidades diárias de cálcio, e o corpo absorve até 30% desse mineral quando ele vem do leite. Em comparação, os vegetais verde-escuros oferecem apenas 5% de absorção. Como reforça a especialista, “não existe substituto alimentar com a mesma eficiência do leite no fornecimento de cálcio”.
2️⃣ Grávidas não devem consumir leite — Mito
Pelo contrário. O leite é um aliado da gestação. Rico em cálcio, proteínas e vitaminas do complexo B, ele ajuda a fortalecer a estrutura óssea da mãe e contribui para o desenvolvimento do esqueleto do bebê. A recomendação médica é incluir laticínios de boa procedência, respeitando as orientações individuais de cada gestante.
3️⃣ O leite pode equilibrar hormônios femininos — Verdade
Um estudo publicado na revista científica Frontiers in Nutrition analisou a relação entre o consumo de laticínios e o risco de endometriose, doença inflamatória que afeta milhões de mulheres em idade fértil. A conclusão foi clara: mulheres que consomem três porções diárias de laticínios — especialmente queijos e leites integrais — apresentaram menor risco de desenvolver a doença.
No entanto, os pesquisadores observaram que o consumo elevado de manteiga pode ter efeito oposto, sugerindo cautela e moderação. Mais estudos ainda são necessários, mas as evidências apontam para um papel protetor do leite sobre o sistema reprodutivo.
4️⃣ Leite causa inflamação — Mito
A crença de que o leite “inflama o corpo” ganhou força nas redes sociais, mas não há respaldo científico. Estudos recentes mostram que o consumo regular de laticínios melhora os marcadores inflamatórios em homens e mulheres saudáveis.
A exceção são os casos raros de alergia à proteína do leite de vaca, condição que atinge uma parcela mínima da população adulta. Fora isso, eliminar o leite sem orientação profissional pode levar a deficiências nutricionais importantes.
5️⃣ Leite UHT (de caixinha) é inseguro — Mito
O chamado leite longa vida passa por um processo térmico rigoroso, seguido de envase asséptico em embalagens cartonadas, o que garante segurança microbiológica e preserva nutrientes.
Não há uso de conservantes — o que, além de ser um mito, é proibido por lei no Brasil. A durabilidade maior se deve ao processo de esterilização, não a aditivos químicos. “É uma tecnologia segura e validada, que mantém o valor nutricional do leite”, reforça Elaine.
6️⃣ Leite engorda — Outro mito
Nenhum alimento, isoladamente, causa ganho de peso. O que conta é o equilíbrio entre consumo e gasto calórico. O leite, inclusive, pode favorecer o controle do apetite, graças às proteínas de alta qualidade que aumentam a saciedade.
Para quem busca reduzir calorias, versões desnatadas são boas opções. O leite também é bem-vindo no pós-treino, ajudando na recuperação muscular e na reposição de energia.
O veredito final
O leite não é um remédio, mas tampouco um vilão. Inserido em uma dieta equilibrada, ele apoia a saúde óssea, hormonal e metabólica da mulher. Demonizado por modismos alimentares, o leite resiste — e segue como um dos alimentos mais completos e estudados do mundo.
Como resume a nutricionista: “O segredo não está em excluir, mas em saber equilibrar. A boa alimentação é feita de escolhas conscientes, não de proibições.”
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Terra






