Santiago, Chile — outubro de 2025. Um estudo conduzido pela nutricionista e pesquisadora Lissette Duarte, doutora em nutrição, está abrindo novas perspectivas para consumidores adultos que sofrem desconfortos após consumir leite — mesmo o tipo sem lactose. A pesquisa, inédita no país, busca entender se o leite com beta-caseína A2 pode ser uma alternativa mais bem tolerada pelo sistema digestivo.
A beta-caseína, uma das principais proteínas do leite, existe em duas variantes: A1 e A2. Embora a diferença entre elas seja mínima — apenas um aminoácido em sua estrutura —, estudos internacionais sugerem que essa pequena variação pode afetar a digestão e a resposta intestinal.
“Nunca antes se havia realizado uma pesquisa com esse tipo de leite em população chilena”, afirmou Duarte, em entrevista ao programa Soy lo que Como, destacando o caráter pioneiro do trabalho.
Intolerância além da lactose
No Chile, uma grande parcela da população apresenta algum grau de intolerância à lactose, condição que tende a aumentar com a idade. No entanto, muitos adultos relatam sintomas gastrointestinais mesmo ao consumir leite sem lactose.
Segundo Duarte, nesses casos, o problema pode estar relacionado à beta-caseína A1, presente na maior parte do leite convencional. Pesquisas internacionais associam essa variante a sintomas como distensão abdominal, gases, diarreia e inflamação intestinal.
Já o leite com beta-caseína A2 surge como uma opção promissora para quem deseja continuar consumindo laticínios, mas com menor desconforto.
Testes clínicos com população local
O estudo liderado por Duarte busca medir de forma objetiva o impacto das diferentes variantes da proteína. Para isso, sua equipe está aplicando testes de hidrogênio expirado, que permitem confirmar a intolerância à lactose, além de análises de amostras fecais para identificar marcadores inflamatórios, como a calprotectina.
Os participantes também respondem a questionários sobre sintomas digestivos — como cólicas, inchaço e alterações no trânsito intestinal — após o consumo de diferentes tipos de leite.
“Nosso objetivo é comprovar se o leite com beta-caseína A2 realmente oferece uma melhor tolerância, tanto para quem tem intolerância à lactose quanto para quem apresenta sensibilidade à proteína”, explicou Duarte.
Preservar o consumo de laticínios
Mais do que identificar causas de desconforto, a pesquisa tem um propósito prático: manter o leite como parte essencial da dieta adulta.
“A ideia não é eliminar os laticínios, mas encontrar uma forma de que cada pessoa possa consumi-los sem mal-estar”, enfatizou a pesquisadora.
Duarte lembra que o leite continua sendo um alimento fundamental, rico em proteínas, cálcio e vitamina D, nutrientes indispensáveis para a saúde óssea e o bom funcionamento do organismo em todas as idades.
As guias alimentares chilenas reforçam que os laticínios devem ser mantidos na alimentação de adultos, idosos, gestantes e adolescentes — grupos em que as necessidades de cálcio e proteína são especialmente altas.
Diagnóstico e recomendação prática
Atualmente, não existe um exame clínico específico para detectar intolerância à beta-caseína A1. Por isso, Duarte propõe um método simples e acessível:
- Confirmar ou descartar a intolerância à lactose através do teste de hidrogênio.
- Testar o consumo de leite A2, hoje disponível no mercado chileno em versões com e sem lactose.
“Em muitos casos, basta realizar a troca e observar se há melhora nos sintomas”, aconselhou a especialista.
Impacto potencial para o setor lácteo
Os resultados do estudo poderão ter impacto direto sobre a indústria de laticínios chilena, que vem buscando alternativas para consumidores com desconforto digestivo. A categoria de leite A2 já vem ganhando espaço em mercados como Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos — e começa agora a consolidar-se na América do Sul.
Com o avanço das pesquisas locais, o Chile poderá se posicionar como referência regional no estudo da tolerância ao leite e no desenvolvimento de produtos adaptados às novas necessidades do consumidor adulto.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Fedeleche