Mesmo com o retorno das chuvas da primavera, a produção de leite seguiu limitada neste ano.
Valor líquido médio do leite ao produtor no Brasil ficou em R$ 2,1857, mostra estudo do Cepea. (Foto: Cepea)

O ano de 2021 ficará marcado como um ano de preços altos do leite no campo, mas de rentabilidade baixa para o produtor. Ao mesmo tempo, também será lembrado pela dificuldade dos laticínios em repassar a alta do preço da matéria-prima (leite cru) aos derivados, já que a perda do poder de compra do consumidor brasileiro freou a demanda por lácteos. A análise consta de relatório distribuído pela assessoria de comunicação do Cepea (Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada).

A pesquisa do Cepea mostra que, na “média Brasil”, o preço do leite ao produtor de janeiro a novembro de 2021 foi de R$ 2,2596/litro, 18,1% acima da média do mesmo período de 2020, em termos reais (dados deflacionados pelo IPCA de nov/21). Os valores se sustentaram em elevados patamares, devido à oferta limitada, influenciada, por sua vez, pelo clima adverso e pelos altos custos de produção. O Índice de Captação caiu 9,3% de janeiro a outubro. Os longos períodos de estiagem, geadas e a irregularidade das temperaturas, de modo geral, prejudicaram a qualidade das pastagens e da silagem.

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Ordenha mecânica em propriedade leiteira; cada vez mais tecnificado, setor enfrenta baixa rentabilidade frente ao mercado. (Foto: Boletim Cepea)
– CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS

Nesse contexto de alimentação volumosa limitada, seria natural que a demanda por ração crescesse, na tentativa de evitar perdas significativas na produção – sobretudo durante o outono e o inverno. No entanto, diz o relatório, isso ocorreu num cenário de forte valorização dos grãos, que foram impulsionados pelo aumento dos preços internacionais e pela desvalorização do Real frente a moedas estrangeiras, que estimulou a exportação.

Alimentação onerosa – Com isso, o custo da alimentação do rebanho para os produtores brasileiros se elevou, corroendo as margens dos pecuaristas. Considerando-se apenas o milho, houve alta de 48,8% na média do Indicador ESALQ/BM&FBovespa. Assim, o pecuarista precisou de, em média, 42,6 litros de leite para adquirir uma saca de 60 kg de milho em 2021, contra 33,9 litros no ano anterior, queda de 25,7% no poder de compra. Além dos grãos, outros insumos se valorizaram e reforçaram o estreitamento das margens dos produtores, como é o caso dos adubos e corretivos, combustíveis e suplementos minerais.

Mesmo com o retorno das chuvas da primavera, a produção de leite seguiu limitada neste ano, justamente pelo aumento dos custos de produção e por consequentes desinvestimentos na atividade.

A intensa desvalorização do Real neste ano também limitou as importações de derivados lácteos, que recuaram 17% em 2021 (até novembro) frente ao ano anterior. Nesse contexto, a disputa das indústrias de laticínios para a compra de matéria-prima se intensificou, sobretudo entre o segundo e terceiro trimestres do ano.

No entanto, a demanda enfraquecida e a pressão dos canais de distribuição elevaram os estoques de derivados, resultando em queda nos preços dos lácteos e do leite no campo neste último trimestre do ano. A crescente perda no poder de compra do consumidor limitou o repasse da valorização do leite no campo ao preço dos derivados negociados pelas indústrias junto aos canais de distribuição.

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Expectativas – Em queda desde outubro, o preço do leite ao produtor já registra recuo de 5,9% no acumulado de janeiro a novembro, em termos reais. A pesquisa em andamento do Cepea mostra que a tendência de queda deve seguir em dezembro, mas em magnitude menor que a do mês anterior. Contudo, agentes do setor demonstram preocupação em relação ao potencial de oferta no campo, uma vez que a captação ainda segue limitada mesmo neste período típico da safra, devido ao aumento dos custos de produção. Com isso, é possível que o movimento de queda dos preços no campo perca força já a partir de janeiro.

O setor de alimentos e bebidas possui 59 empresas entre as 1000 maiores do país.

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