O país se tornou o quarto maior produtor de leite do mundo, respondendo por 7% do volume mundial em 2018. Pecuaristas lutam para reduzir custos
O Brasil dobrou a produção de leite nos últimos dez anos, tornando-se o quarto maior produtor do mundo, atrás de Estados Unidos, China e Índia. No ano passado, foram quase 34 bilhões litros, cerca de 7% do total produzido no mundo.
Mas a lei da oferta e demanda é implacável e as cotações vêm sendo pressionadas. “Quando geramos esse excedente — por menor que seja —, provocamos uma queda muito forte nos preços internos, tanto para o produtor quanto para a indústria”, afirma o coordenador da Câmara de Leite da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Vicente Nogueira.
De outubro de 2017 para outubro de 2018, o valor médio pago ao produtor de leite caiu de R$ 1,26 para R$ 1,51, alta de 19,84%. Já o custo de produção aumentou 18,5%. O indicador é parte do Anuário do Leite 2019 da Embrapa e leva em consideração gastos com energia, combustível e câmbio.
“[O custo] Acaba sendo um desafio para todas as cadeias produtivas. São questões tributárias e de infraestrutura de escoamento”, afirma o diretor de compras da Danone, Willian Alves.
Diante desse cenário, resta ao pecuarista buscar alternativas para reduzir o custo da porteira para dentro. “Ter animais mais produtivos traz ganho de eficiência em escala, o que se reflete em um custo menor”, diz o produtor Caio Rivetti.
Uma vaca no Brasil produz pouco mais de 1.500 litros de leite por ano. Nos Estados Unidos, os animais chegam a mais de 10 mil litros por ano. A diferença se dá por quatro fatores: nutrição, genética, ambiência e sanidade.
Mas, antes de analisar esses fatores, é importante interpretar a estatística levando em consideração o tamanho do país e o perfil dos produtores. “Alguns produtores têm vacas produzindo de dois a três litros ao ano, mas outros têm animais que produzem de 30 a 40 litros ao ano. Olhar a média não é justo”, diz.
O desafio da produção brasileira começa em ter de alimentar um plantel de 23 milhões de vacas leiteiras com o recurso obtido de uma média tão baixa de leite ordenhado. “O primeiro passo é a comida: depois que conseguirmos alimentar esse gado, passaremos para uma genética mais especializada. Tem muito trabalho a ser feito”, diz Rivetti.
O que não se discute é a capacidade do Brasil não só aumentar a produção, mas também de produzir com mais qualidade. “Se já crescemos tanto comparado ao resto do mundo e ainda temos muito dever de casa para fazer, o mundo que nos aguarde”, afirma Vicente Nogueira.