Em algum momento da história, esse foi o caso, até que a indústria começou a começou a embalar o leite, e a intermediação se tornou lei.
Mas, além dessas questões, há todo um movimento de pessoas que defendem o consumo de leite cru, ou não pasteurizado, convencidas de que suas propriedades são incomparáveis com as do leite pasteurizado.
Na Argentina, a venda de leite cru de qualquer tipo ao público é expressamente proibida pela legislação atual (artigo 556 bis do CAA).
O leite cru pode conter bactérias perigosas, como Salmonella, E. coli, Listeria, Campylobacter e outras que causam doenças de origem alimentar, e isso é inegável.
A FDA adverte que as bactérias presentes no leite cru podem ser especialmente perigosas para grupos vulneráveis, como crianças, idosos, mulheres grávidas ou pessoas com o sistema imunológico debilitado, como pessoas com HIV, câncer ou transplantes.
Mas a verdade é que, assim como assumimos a responsabilidade de lavar os vegetais ou cozinhar bem a carne para evitar os mesmos problemas, também poderíamos… ferver o leite e pronto!
De qualquer forma, estaríamos pasteurizando-o e a questão aqui é bebê-lo cru. Quais são as vantagens argumentadas por aqueles que defendem essa prática?
Raw milk protects children from asthma, allergies, infections, and gut issues
Yet it’s illegal in 37 states… pic.twitter.com/A49g9AjS9C
— Paul Saladino, MD (@paulsaladinomd) September 6, 2023
O consumo de leite cru traria benefícios, incluindo melhor sabor, melhor nutrição e desenvolvimento de um sistema imunológico mais saudável, facilitado pela introdução de micro-organismos benéficos que são perdidos na pasteurização.
Os compostos que contribuem para uma melhor assimilação do cálcio também seriam perdidos, levando a uma melhor composição e saúde óssea. Outra vantagem para a saúde é o ganho de antioxidantes naturais, precursores da vitamina A.
As enzimas e bactérias mantidas no leite cru também proporcionam nuances gustativas e olfativas, que melhoram o sabor e a textura.
Por outro lado, os defensores do leite cru também destacam como benefício da venda direta do leite a possibilidade de o produtor eliminar o intermediário e vender diretamente ao consumidor, o que proporcionaria maior lucratividade. No entanto, atualmente há equipamentos de pasteurização de baixa escala disponíveis que poderiam muito bem ser implementados nas fazendas.
A questão é saber o que pesa mais na balança: os riscos ou os benefícios. De qualquer forma, a lei rege, e a comercialização do leite cru varia em todo o mundo.
Alguns países têm proibições totais, como a Argentina e o Brasil, e outros têm proibições parciais.
Na África, em comunidades indígenas onde o consumo de leite é comum, o leite não é pasteurizado.
Nas áreas rurais da Ásia em geral, assim como nas grandes cidades, ele também não é pasteurizado. Na maioria dos países asiáticos, não há leis que proíbam o leite cru e, se houver, elas raramente são aplicadas.
Mas no Japão, o leite não pasteurizado é muito raro. Cingapura, por exemplo, o proíbe.
A União Europeia exige que o leite cru e seus derivados sejam identificados em suas embalagens. Os Estados Membros são livres para acrescentar outros requisitos.
A França tem uma longa tradição na fabricação de queijos, e os queijos de leite cru, que representam quase 18% da produção, são de qualidade superior aos queijos feitos com leite pasteurizado.
Na Alemanha, o leite cru embalado é chamado de Vorzugsmilch e deve fornecer informações sobre o produtor, prazo de validade e avisos especiais. Sua licença de distribuição tem padrões de qualidade rigorosos, e apenas 80 fazendeiros alemães têm uma.
O leite cru a granel só pode ser vendido na fazenda onde foi produzido, no dia em que foi retirado ou no dia seguinte, e avisa que deve ser fervido antes do consumo.
O leite não pasteurizado não pode ser vendido em lojas na Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca. Apenas vendas limitadas são permitidas em fazendas licenciadas, sujeitas a controles rigorosos.
A venda de leite cru para consumo foi proibida na Escócia após uma série de mortes em 1983 e, embora seja legal na Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte, os únicos produtores registrados estão na Inglaterra.
No Brasil, a venda de leite cru foi proibida em 1939. Não é legal consumir leite cru no país.
A venda de leite cru para consumo humano também é proibida no Canadá, mas os queijos envelhecidos por mais de 60 dias não são.
Quarenta e três estados dos EUA permitem a venda de leite cru, embora a FDA tenha relatado que, em 2002, o consumo de leite cru causou doenças em mais de 200 pessoas.
Antes da pasteurização, muitas fábricas de laticínios alimentavam o gado com ração de baixa qualidade, o que produzia um leite repleto de bactérias perigosas. A pasteurização era a única maneira de torná-lo seguro. E como a pasteurização tem sido um padrão há muitos anos, agora se supõe amplamente que o leite cru é perigoso. Será?
O Departamento de Ciência dos Alimentos da Universidade de Cornell compilou dados que indicam que os microrganismos patogênicos estão presentes em apenas 0,87% a 12,6% das amostras de leite cru.
Os defensores da liberdade alimentar citam argumentos libertários ao reivindicar o direito civil básico de cada pessoa de pesar os riscos e benefícios ao escolher seus alimentos… e não há falha em sua lógica. Ou há?
O leite cru e seus derivados são ilegais em toda a Austrália, mas uma exceção foi feita para os queijos Roquefort e para os proprietários de animais, que podem consumir seu leite cru.
O leite cru e seus derivados podem ser fabricados e vendidos na Nova Zelândia, mas são altamente regulamentados.
E o que você pensa sobre o leite cru? Sobre a liberdade de escolha como um direito civil do consumidor? E sobre a independência e a lucratividade dos produtores de leite?
Vou ler agora! E não se esqueça de que consumir laticínios é SEMPRE bom para você.
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