O preço do leite no Brasil recuou 19% nos últimos 12 meses, segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da USP, alcançando a média de R$ 2,4 por litro.
A queda abrupta tem gerado preocupação entre produtores, que denunciam estar enfrentando uma “crise profunda e injusta”, conforme declarou João Martins, presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), em entrevista ao Poder360.
Segundo a CNA, a situação é agravada pela entrada de leite importado da Argentina e do Uruguai, o que aumenta a oferta no mercado nacional e mantém os estoques elevados, pressionando ainda mais os preços.
“É uma situação que afeta diretamente a renda de milhares de produtores familiares em todo o país. O leite é a base da economia de muitas famílias brasileiras, e essa redução representa não apenas um impacto financeiro, mas também social”, afirmou Martins.
O estudo do Cepea evidencia que, em um ano, o preço do leite diminuiu quase um quinto, configurando uma das quedas mais significativas dos últimos anos. Este cenário é explicado por uma combinação de fatores: excesso de oferta interna, importações competitivas e estoques altos de derivados lácteos, que diminuem a margem de manobra das indústrias e atacadistas.
Produtores de estados tradicionais na produção leiteira, como Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, relatam dificuldades para manter a atividade rentável.
Muitos destacam que, apesar da tradição e da qualidade reconhecida do leite brasileiro, a valorização do produto no mercado interno não acompanha os custos crescentes de produção. Rações, energia e manutenção de maquinários pressionam a margem de lucro, tornando a atividade insustentável para pequenos e médios produtores.
O impacto emocional também é citado por agricultores que veem a tradição familiar ameaçada. “Minha família produz leite há mais de 30 anos, mas com preços assim, é impossível continuar sem prejudicar a todos.
Estamos avaliando reduzir o rebanho e até mudar de atividade”, revelou um produtor do interior de Minas Gerais ao Poder360. Esse depoimento ilustra a tensão entre tradição e modernidade, com a atividade histórica se deparando com desafios do mercado globalizado e importações competitivas.
Analistas do setor ressaltam que, embora haja previsões de estabilização, o contexto atual evidencia vulnerabilidades estruturais do mercado leiteiro brasileiro. A política de importações, somada à volatilidade dos preços, deixa o setor à mercê de fatores externos, comprometendo planejamento e investimentos.
A situação também levanta questões sobre políticas públicas e incentivos para o setor. A CNA defende medidas que promovam equilíbrio na concorrência, como controles de importação e estímulos à comercialização do leite produzido internamente. “Sem intervenção, corremos o risco de perder produtores essenciais para a segurança alimentar do país”, concluiu João Martins.
Além disso, a crise no preço do leite tem reflexos em toda a cadeia produtiva, incluindo indústrias de derivados, cooperativas e mercados regionais. O efeito dominó evidencia a interdependência entre produtores familiares e grandes players do setor. A falta de soluções imediatas pode comprometer não apenas a renda, mas a continuidade de um setor que é símbolo da agricultura brasileira.
Em resumo, o mercado do leite no Brasil enfrenta um momento crítico. Com queda de 19% no preço em apenas um ano, estoques elevados e competição internacional, produtores tradicionais veem ameaçada sua sobrevivência.
A situação exige atenção urgente de autoridades, associações e investidores para preservar a produção nacional, a economia familiar e a tradição de um dos setores mais emblemáticos do país.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Poder 360
