Em Xanxerê (SC), um casal de produtores apostou em um conceito inovador no Brasil: o sistema de produção de leite estacional.
Inspirado em fazendas australianas, o modelo sincroniza os ciclos reprodutivos e produtivos das vacas, permitindo que animais e produtores tirem férias juntos.
O projeto foi implementado por Celis e André Gasparetto, que decidiram transformar a rotina da propriedade familiar para conquistar mais qualidade de vida. “Queríamos tempo para aproveitar com nossos filhos, Valentim e Martim”, contam.
Segundo o casal, a inspiração surgiu durante um estágio na Austrália, onde conheceram o conceito de “leite estacional”, um método que organiza toda a produção de acordo com o calendário natural dos animais e o clima da região.
Três anos de planejamento e adaptação
O processo não foi simples. “Já faz 14 anos que voltamos para a propriedade e começamos do zero. Não havia cercas, pastagens nem estrutura”, lembra André.
A transição para o sistema estacional exigiu três anos de planejamento e investimento, desde a aquisição das matrizes até o ajuste da infraestrutura.
O segredo está na sincronia reprodutiva: todas as vacas são inseminadas no mesmo mês, garantindo partos, lactações e secagens em períodos alinhados. Assim, a produção de leite se concentra em alguns meses, liberando outros para o descanso.
Calendário de manejo: produção com tempo marcado
O ciclo produtivo é rigorosamente planejado:
- Abril e maio: nascimento dos bezerros;
- Maio e junho: fase de aleitamento;
- Julho e agosto: estação de inseminação;
- Agosto em diante: ordenha e pastagem intensiva;
- Fevereiro e março: período de descanso para vacas e família.
“Em fevereiro e março, as vacas estão secas, pastando tranquilamente. É quando conseguimos tirar férias também”, explica Celis.
Durante esses dois meses, as vacas descansam as glândulas mamárias, etapa essencial para garantir saúde e produtividade na próxima lactação.
Eficiência e bem-estar animal como prioridades
A propriedade foi totalmente adaptada para favorecer o bem-estar animal. O casal plantou árvores estrategicamente posicionadas para oferecer sombra o dia inteiro e otimizou a mão de obra com processos ágeis e automatizados.
A sala de ordenha é equipada com conjuntos adicionais de teteiras, e as vacas recebem ração de forma automática durante o processo. Depois, retornam ao pasto — prática que mantém o rebanho mais tranquilo e saudável.
Hoje, os Gasparetto contam com 32 vacas em produção, totalizando cerca de 640 litros de leite por dia. “Tudo foi pensado para facilitar o manejo e garantir eficiência sem abrir mão da qualidade de vida”, afirma André.
Um modelo que une tradição e modernidade
O sistema de leite estacional, embora ainda pouco difundido no Brasil, demonstra potencial para conciliar produtividade, sustentabilidade e equilíbrio familiar.
Em regiões como a Austrália e a Nova Zelândia, onde o método é amplamente utilizado, ele contribui para reduzir custos de produção e aumentar a longevidade das vacas, além de diminuir o estresse dos produtores.
No Oeste catarinense, a experiência dos Gasparetto mostra que é possível inovar sem abandonar as raízes do campo. “O nosso objetivo era simples: viver melhor, com tempo de qualidade e harmonia com os animais. E conseguimos”, resume Celis.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de G1
