Leite funcional é a nova aposta da indústria láctea argentina. A pequena e média empresa Prodeo, localizada em Chivilcoy, na província de Buenos Aires, iniciou a produção de leite enriquecido com Ácido Linoleico Conjugado (CLA) — uma gordura naturalmente presente em produtos de origem animal, reconhecida por seus efeitos benéficos à saúde cardiovascular.
O projeto nasceu de uma parceria entre a empresa e o Instituto Nacional de Tecnologia Industrial (INTI), com o apoio do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MinCyT), por meio do FONARSEC. Também participaram o INTA, a Universidade Nacional do Litoral e outras duas empresas do setor, formando um consórcio público-privado.
🌾 A ciência por trás da mudança
O INTI-Lácteos explicou que a transformação começou no campo, com a modificação da dieta das vacas. A equipe técnica introduziu lipídios insaturados de origem vegetal na alimentação dos ruminantes. Essa alteração permitiu modificar o perfil de ácidos graxos do leite, reduzindo as gorduras saturadas nocivas e aumentando a concentração de compostos funcionais, como o CLA e o Ácido Vacênico (AV).
Segundo especialistas do INTI, ambos os componentes apresentam propriedades protetoras contra doenças crônicas não transmissíveis, incluindo problemas cardiovasculares e metabólicos.
“Desde o Centro de Lácteos do INTI, demos suporte ao desenvolvimento e às análises para avaliar a viabilidade dessa mudança. Estudamos os alimentos do gado, o leite cru e os produtos finais, confirmando a presença e persistência do CLA e do ácido vacênico”, explicou Alejandra Rodríguez, pesquisadora do INTI.
🧀 Da fazenda à fábrica
A Prodeo, conhecida por sua marca Mamá Mecha, tornou-se a primeira empresa argentina a desenvolver lácteos funcionais de origem natural — incluindo leite longa vida, queijos e achocolatados. O diferencial está em oferecer produtos nutricionalmente aprimorados, sem aditivos artificiais e com benefícios comprovados pela ciência.
“Nossa equipe ofereceu suporte técnico tanto no campo quanto na planta industrial para implementar Boas Práticas Pecuárias (BPG) e Boas Práticas de Manufatura (BPM)”, afirmou Marcelo González, do INTI-Lácteos. “Também colaboramos no desenho higiênico-sanitário de uma nova planta láctea, adaptada à produção desses alimentos inovadores.”
Com essa estrutura, a empresa busca elevar os padrões de qualidade e rastreabilidade, pilares essenciais para expandir a oferta de produtos funcionais no mercado argentino e regional.
🌍 Tradição e inovação lado a lado
O projeto mostra que a inovação não está restrita às grandes indústrias. A trajetória da Prodeo reflete como pequenas empresas familiares podem unir tradição, ciência e sustentabilidade para competir em um mercado cada vez mais exigente.
A combinação entre alimentação animal controlada, pesquisa aplicada e tecnologia industrial permitiu um salto qualitativo no produto final — algo raro em segmentos dominados por multinacionais.
Além disso, o modelo colaborativo público-privado serviu de exemplo de como o investimento estatal em ciência pode fortalecer cadeias produtivas locais, gerar valor agregado e melhorar a saúde dos consumidores.
🧭 O que vem a seguir
Marcelo González adiantou que a Prodeo e o INTI já planejam novos desenvolvimentos. “Seguiremos trabalhando em outros lácteos funcionais com alto teor de CLA e moléculas bioativas que possam ser incorporadas à dieta cotidiana de forma simples e acessível”, afirmou.
Essa abordagem abre caminho para uma nova geração de produtos lácteos argentinos, capazes de unir benefícios à saúde, sustentabilidade e identidade local.
A expectativa é que, no médio prazo, a tecnologia esteja disponível para outros produtores interessados em melhorar o perfil nutricional de seus produtos, ampliando o impacto positivo sobre o setor.
Enquanto isso, o leite funcional da Prodeo começa a ganhar reconhecimento como um exemplo de inovação genuinamente argentina — nascida da união entre ciência pública e empreendedorismo familiar, com o propósito de oferecer lácteos mais saudáveis e sustentáveis aos consumidores.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Infocampo






